quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017


O Tamanho da Universidade

 

                            Fiquei sabendo na Internet que há seis mil universidades no mundo, o que muito me impressionou.

                            Supondo que a UFES, com 10 mil estudantes e 1,5 mil professores, corresponda à posição do ES de 1/1.600 do mundo, as universidades teriam a impressionante quantidade de 16 milhões de alunos e 2,4 milhões de professores nas instituições superiores de ensino.

                            Veja que, ainda que capciosa e duvidosa, a palavra “superior” ainda quer dizer acima do segundo grau. Por mais que os estudantes universitários colem, comprem provas, passem com o mínimo de 5,0 (agora a exigência mínima passou a mais que isso), que hajam tantas faculdades PP (“pagou, passou”) e de fim de semana, que tantos levem “nas coxas” os estudos, enfim que haja tanta trambicagem envolvendo o ensino universitário, “superior” ainda quer dizer minimamente que essa gente recebe tinturas de um processo que vem rolando desde a Biblioteca de Alexandria (que é de 290 a.C., fundada que foi por Ptolomeu I Soter), desde há 2,3 mil anos, com interrupções, pois a BA era na realidade uma universidade, a primeira que houve.

                            É conhecimento cumulativo, de enorme importância humana, tão fundamental e, no entanto, tão pouco estudado como fenômeno coletivo.

                            Como já sugeri, custava quase nada, em relação aos benefícios, a extraordinária aventura de construir toda uma mídia (TV, Revista, Jornal, Livro/Editoria, Rádio e Internet) universitária conjunta, exprimindo o poder coletivo da Universidade (grupo ou conjunto ou família de universidades, em maiúscula). Algum reitor de maior visão, de preferência jovem, para ter uma geração de 30 anos para desenvolver e implementar o projeto deveria se lançar à tarefa dessa união supranacional.

                            O que, digamos três milhões de professores e 20 milhões de estudantes, constituindo toda uma nação na frente do trem de ondas da mudança do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) faria por si mesma e pelo mundo? Tal poder, de que alguns analisando a fundo poderiam ter medo, na verdade é instrumento de libertação, desde quando a cerebração, posta a serviço explosivo das indagações de fundo, já trouxe, sem unidade de propósitos, tanto para todos, quanto mais o faria quando o conjunto tivesse coesão em sua percepção e expressão planetária, globalizando-se também nisso.

                            Vitória, segunda-feira, 28 de abril de 2003.

O Papel das Cidades Cosmopolitas

 

                            A Grande Vitória engloba Vitória, Serra, Cariacica, Vila Velha, Viana e agora Guarapari e Fundão, tendo em torno do 1,3 milhão de habitantes, dos 3,2 milhões do estado, 41 % do total.

                            Não é grande coisa num mundo de seis bilhões de habitantes (apenas pouco mais de 0,02 % ou de 1/5.000 do mundo), mas tem a particularidade de ser cosmopolita, o que não é pouco, ainda que universalismo provinciano, uma contradição em termos que frisa o fato de que, estando aberta em todos os sentidos e direções, a GV ainda é provinciana, periférica, atrasada, até retardada, tendo em vista a incompetência de suas elites em produzir qualquer coisa nova e brilhante.

                            Aberta por mar a navios em vários portos (da Aracruz Celulose em Aracruz; da CVRD e da CST na Ponta de Tubarão, entre Serra e Vitória; de Vitória, no centro da cidade; de Vila Velha, do outro lado da baía; da Samarco em Ubu, Anchieta, sul do estado), por ar através do Aeroporto de Vitória, que está a ponto de se tornar internacional com as novas obras, por terra (rodovias e ferrovias), pela infovia da superestrada informacional da Internet através de bandas largas de fibra ótica e por satélite, às TV’s abertas e fechadas via transmissão e satélites, a grande cidade está em condição favorável, diante do influxo constante de dados e de produtos.

                            Ora, há que fertilizar as regiões interioranas. Antes dessa dominância exercida pela GV, as cidades e os municípios do interior do ES eram o interior do interior, a periferia da periferia, daí se podendo ver a necessidade extrema de potencializar as regiões metropolitanas como cosmopolitas, cidades abertas ao universo, exercendo esse papel disseminar e fertilizador, produtivo, criativo, inventivo.

                            Com a necessidade urgente de globalização, os poderes internacionais devem rever sua visão distinta, separada, especial, das regiões cosmopolitas e cosmopolizantes. Devem proceder a estudos nas repartições governamentais e nas instituições acadêmicas, promovendo debates contínuos sobre o uso de tais regiões como vetores de incitamento da planificação planetária, criando mesmo uma mídia mundial que se encarregue de produzir e difundir programas até elas, que podem ser, no mundo inteiro, no máximo umas mil, contando que existam em torno de 200 nações.

                            Acontece que não vejo ninguém fazendo isso.

                            Não só ninguém tem políticadministração especial para as regiões cosmopolitas como sequer há estudos sobre elas, tamanho é o atraso deste mundo.

                            Vitória, segunda-feira, 28 de abril de 2003.

O Nascimento do Ocidente

 

                            No mesmo livro V de Reale, p. 14, está escrito:

                            “As características fundamentais do movimento alexandrino foram: a) fusão do misticismo típico do Oriente com a filosofia grega; b) disponibilidade notável às solicitações espirituais provenientes dos ambientes mais heterogêneos; c) notável impulso dado ao desenvolvimento autônomo das ciências particulares”, colorido e negrito meus.

                            Como vimos, a Biblioteca de Alexandria durou 900 anos (de 290 a.C. até 640 d.C., quando foi definitivamente destruída), tendo influenciado extensamente todo o mundo antigo. Era onde se pensava mais a fundo, uma verdadeira universidade na Antiguidade, a primeira e única até então. Passou o conhecimento aos árabes e à Europa, quando deu, para onde ele retornou depois de 1453. Os árabes nada fizeram de novo nesse setor, até porque era proibido pensar. Os poucos que se aventuraram repetiram os gregos, de onde deve ter partido quase tudo, inclusive o ábaco que depois foi para o Oriente, Japão particularmente.

                            Mais importante de tudo foi Filo de Alexandria ou Fílon, o Judeu (c. 13 a.C a 54 d.C.), que promoveu (como veremos em artigo próprio) a reunião do sentimento judeu com o pensamento grego, antecipando a produção do cristianismo, sendo contemporâneo de Cristo.

                            Constantinopla foi o roteador, a rótula em torno de que todo o pensamento pré-cristão girava.

                            Se ali as emoções judaicas longamente destiladas se uniram à razão grega, foi ali que o Ocidente nasceu, cresceu e se implantou, e é a Alexandria que devemos uma grande parte disso que, pelas mãos de Jesus, e através da Igreja, se tornou a base de todos os nossos valores e da vitória esmagadora do Ocidente, por enquanto.

                            Então, Alexandria deveria ser uma espécie de ícone, tão ou mais venerado que a Grécia e Roma, porque as bases do pensamento ocidental foram assentadas lá, fazendo-me crer que deveria haver um Prêmio Alexandrino de Conhecimento (geral e particular), dado anualmente aos pesquisadores de todas as áreas (Magia/Arte, Teologia/Religião, filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) e suas frações. Não compreendo como Alexandria (e Constantinopla, entre outras importantes cidades, como Persépolis, Ctesifonte e tantas outras) foi esquecida (foram), durante tão largo tempo. É assombroso que não se cultive a memória dos homens e mulheres que fizeram aquelas cidades que foram, em todos os continentes, a base de tantas alegrias humanas.

                            Vitória, domingo, 27 de abril de 2003.

O Ensino Idiotizante

 

                            Conversávamos, o colega MD e eu em Pequiá, e do tema surgiu isto: por ele dizer que o ensino de Matemática é idiotizante adendei que isso só se dá no terceiro e no quarto mundos PORQUE o objetivo do ensino daqui não é visar o futuro, onde estão os problemas (e as soluções libertadoras), mas o passado, onde as soluções já foram proporcionadas pelos países centrais, do primeiro e segundo mundos.

                            Quer dizer, aos mundos da retaguarda não compete avançar.

                            Então os alunos são CUIDADOSAMENTE conduzidos, de modo a poderem resolver os problemas que já foram resolvidos antes, exatamente re-solver, solver de novo, de modo a nada PERIGOSO como o pensar independente ser acrescido. Uma pátina, um verniz é passado por sobre o corpomente, enrijecendo pontualmente o estudante tendente a rebeldia, deixando de fora apenas as mãos, sinal da operação manual, mas não olhos (que tenderiam a ver), a boca (que tenderia a falar), os ouvidos (que tenderiam a ouvir), tudo que é potencialmente revolucionário.

                            Não, com muito cuidado, sem sequer saberem o que estão fazendo, os professores são instados um pouco por estímulo e um pouco por desestímulo a seguir as linhas da acomodação, da ortodoxia, do fechamento mental, nunca permitindo que os alunos “irresponsáveis”, que não respondem aos parâmetros ou paradigmas ou programas pré-estabelecidos como aceitáveis, sigam suas tendências EM CLASSE (fora da sala de aula já é caso de polícia). Eles mesmos e os alunos que sugam das tetas da conformidade tratam de podar os rebeldes.

                            Não é que o ensino seja ruim; devemos antes perguntar: “ruim para quem? ” E a resposta é que ele é bom para os mestres estrangeiros dos bonecos daqui, é bom para os bonecos que vivem calmamente com o senso de falta de dever, pacificado em suas barrigas gordas, e é bom para os alunos quietos, acomodados com a perspectiva de seus ganhos projetados. Não é bom para a causa da libertação socioeconômica, para o povo subjugado, para a independência.

                            O ensino nos mundos periféricos QUER AQUILO MESMO, ou seja, a repetição, a mesmice, a não-independência, quer ser escravo contente. Produz os engenheiros competentes naquilo em que é exigida competência e em lugar nenhum mais.

                            Então, a pergunta deve ser recolocada: “idiotizante no quê? ”

                            A resposta é que, em produzir os perfeitos títeres que reproduzem a riqueza e o pensamento sancionados não é. Nisso ela é perfeita.

                            Vitória, domingo, 27 de abril de 2003.

O Demiurgo e a Terceirização do Universo

 

                            Os gregos (a partir de Platão, 428/427 a 348/347 a.C.) inventaram esse curioso conceito, que significa artífice, o Deus artífice do mundo, havendo uma inteligência surpresa e logo abaixo dela e de suas idéias um executor dos planos, o Demiurgo, ”a segunda inteligência ou inteligência da alma do mundo”, conforme Reale, texto citado neste Livro 30, veja verbete próprio, volume V.

                            Digo curioso porque, conforme já demonstrado, Deus é a ÚNICA entidade colocada na Tela Final, de onde pode ver e fazer tudo, depois de ter dado o salto não-finito de fechamento de TODAS AS COISAS na chamada Teoria de Tudo, Mesmo, TTM, como tenho posto. Não pode logicamente haver outra, separando-nos dela o fosso não-finito, que nenhum racional pode, por mais que deseje, saltar. Assim, sendo produto do planejamento não-finito de Deus, o Pluriverso é coisa complexa que nenhum racional pode entender perfeitamente, com completa consciência de causa. Resulta disso que as “plantas de engenharia”, por assim dizer, de construção do Pluriverso, não podem ser lidas eficientemente pelos encarregados, no caso o Mestre de Obras sendo esse Demiurgo mencionado.

                            Foi certamente essa “terceirização da construção” do prédio do universo que promoveu as dificuldades atuais, de desencontro e de desencanto do universo Uo, esse condomínio onde moramos presentemente. Isso é que dá terceirizar. Quem quer faz, quem não quer manda fazer, porque demora e sai errado.

                            Taí a razão de o bolo ter desandado. Foi porisso: não foi o dono mesmo quem fez, mandou o engenheiro.

                            Ah! - Coitado.

                            Vitória, segunda-feira, 28 de abril de 2003.

O Corte Epistemológico de K

 

                            Lá por volta de 1973 fui a uma palestra em que o palestrante dizia da diminuição do tempo de manifestação dos produtos após o conhecimento fundamental ter aparecido. Lá pelas tantas o professor Klinger, da física da UFES, perguntou quando se daria o corte epistemológico nas chamadas “ciências sociais”, isto é, quando elas se tornariam verdadeiras ciências baseadas não apenas em fatos, mas produzindo equações?

                            Achei muito elegante o termo. Episteme significa conhecimento, no sentido de ciência, daí epistemológico ser “tratado científico”, ou estudo fundamentado nos princípios de ciência. Tendo elaborado o modelo vi o Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral, em particular a pontescada tecnocientífica, em especial a pontescada científica (Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6) como sendo muito mais vasto do que vinha sendo proposto. Mesmo assim, ainda cabia a pergunta, e no bojo dos estudos a Psicologia (figuras ou psicanálise, objetivos ou psico-sínteses, produções ou economias, organizações ou sociologias, espaçotempos ou geo-histórias) geral apareceu como tendo duplo vértice socioeconômico, a Economia estando mais matematizada que a Sociologia, que perde nisso de longe para aquele grupo de disciplinas.

                            Para matematizar a Sociologia sugeri fossem produzidos os cartuchos ou cártulas, os pacotes informacionais isentos de valores que seriam usados como FRASES DE PROGRAMAÇÃO. Então veríamos que flechas emergem de uma caixa preta característica, como qualquer PESSOA (indivíduo, família, grupo, empresa) ou AMBIENTE (município/cidade, estado, nação, mundo), a partir das notícias de jornais e outros aparelhos da mídia. Com a catalogação passaríamos à fase seguinte, de instituir os boxes ou caixas de processos e procedimentos, por suas equações.

                            A questão não é essa, já foi suficientemente posta como tal no modelo, e sim de que, passados 30 anos (1973 a 2003, exatamente) da pergunta de Klinger e nos vendo agoraqui na iminência da possibilidade, se a liberdade prenunciada será, não digo aproveitada, pois a tendência é sempre a do conhecimento, mas usada no terceiro mundo - onde o representante prototípico é sempre o Brasil - COMO INSTRUMENTO DE LIBERTAÇÃO, ou se continuaremos servis retratos da obediência, isto é, se a Academia local terá competência para usar a potência como propulsor para o povelite/nação brasileiro?

                            Vitória, segunda-feira, 28 de abril de 2003.

O Campo Rico

 

                            Evidentemente é de muito tempo atrás a existência dos primeiros condomínios rurais, na periferia das cidades, é coisa antiga dos arquitetos. E no Rio de Janeiro aqueles condomínios ricos na Barra da Tijuca datam da década dos 1970, de forma que não haveria novidade.

                            Mas agoraqui não seria uma fuga, um refúgio oriundo do remorso dos ricos e médios-altos, nem encantonamento em fortim diante do perigo, mas opção de vida, pelo prazer singelo de viver bem, com toda espécie de conforto. Pela primeira vez na geo-história é possível viver num lugar “recuado”, longe da cidade-matriz sem estar isolado, sem padecer falta de serviços, porque a informação pode ir por satélite ou cabo, a comunidade pode bastar-se em vários serviços, se tiver acima de mil famílias, e se tudo for planejado. TV a cabo ou por satélite, banda-larga de Internet, computadores e diversão associada a eles, ginásios, piscinas, todas as coisas podem ser compartilhadas.

                            E pela primeira vez CIDADE e CAMPO podem unir-se no mesmo lugar, pode ser feita a fusão ruralurbana, como novidade absoluta buscando-se o equilíbrio. Não apenas aqueles condomínios americanos na periferia, com as casas sem grades e cercas, porém muito mais que isso: prédios altos, florestas, lagos, rios naturais ou construídos, a NOVA HABITAÇÃO, sem qualquer parentesco com o passado, num espaçotempo totalmente construído até a última folha de árvore, com pássaros “treinados”, com caminhos subindo e descendo por quilômetros a fio, com pedalinhos e barcos a vela, com windsurfe e o que mais for, uma comunidade utópica, idílica mesmo. Vi isso pela primeira vez num parque de Belo Horizonte, quando fomos lá nos idos de 1973, pela OPEMA, Operação Mauá, dos militares, 30 anos passados.

                            O campo não perde sua liberdade inerente, a cidade não fica amontoada – tudo que a cidade tem de melhor com tudo que o campo tem de positivo, intramuros, exemplo para o mundo, primeiro no Brasil. Claro que custará uma fortuna, só para os agraciados, os que tenham ao mesmo tempo dinheiro e sejam bons de coração.

                            O sonho tornado realidade.

                            A emergência da Vida Nova.

                            Vitória, quarta-feira, 30 de abril de 2003.