domingo, 22 de janeiro de 2017


Representando Camões

 

                            Luís de Camões nasceu em Lisboa em 1524 a 1525 a 1580, 55 a 56 anos entre datas. Junto com Fernando Pessoa é um dos maiores poetas portugueses, e falo de ter lido. É tão ou mais extraordinário que Shakespeare, pondo as diferenças, porque Camões centrou-se n’Os Lusíadas, o poema épico da constituição da nação portuguesa, que ele faz remontar aos deuses olímpicos. Infelizmente, desgraçadamente, nunca foi filmado, ao menos que eu saiba, e certamente nunca com a grandeza merecida, numa superprodução que a Rede Globo ou alguém deveria encarar, ligando depois com o Brasil como continuador.

                            Camões é um portento.

                            Há uma pequena passagem de que lembro, diz assim: “sete anos de pastor Jacó serviu a Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia ao pai, servia a ela, pois só a ela por prêmio pretendia”. Que economia de palavras! Num só verso ele descreve toda uma saga bíblica.

                            Falam dos amores de Shakespeare, mas não da vida aventurosa de Camões. Jogam confetes no inglês e nada dizem do português, que está na mesma altura ou maior, porque não se mirou nos contos italianos e europeus em geral, como fez o outro, criou do nada.

                            Que brasileiros (sem falar dos africanos e asiáticos, que nem tem dinheiro nem tanta identidade) e portugueses, juntos ou separadamente, não tenham se dedicado a filmar Camões, no todo ou nas partes, é não apenas um escândalo como testemunha os atrasos significantes de ambos os povos. Tal desprezo serve a quem?

                            Não sei a que santa estupidez atribuir tal desalentadora preguiça mental e descuido com a nacionalidade.

                            Vitória, sábado, 04 de janeiro de 2003.

Posição Especial

 

                            No livro O Que É Vida? (Para entender a Biologia do século XXI), Rio de Janeiro, Relume Dumará, 2000, p. 165, capítulo 7, Evolução, os autores Diogo Meyer e Charbel Niño El-Hani dizem: “A visão evolutiva do mundo nos priva de uma posição especial no mundo natural, defendida em muitas tradições religiosas, e nos coloca entre os demais seres vivos. Além disso, a diversidade de seres vivos passa a ser explicada inteiramente a partir de leis naturais, sem necessidade de invocar qualquer poder divino. Grande parte da oposição religiosa à evolução que vemos nos dias de hoje tem esta raiz”.

                            Eu pensava na cientificação do mundo, quando o modelo veio propor o Conhecimento como sendo composto de nove matrizes, quatro pares mais uma: Magia/Arte, Teologia/Religião, filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática. Do conjunto a tecnociência é somente um par, a ciência só um nono. NÃO SÃO REDUTÍVEIS umas às outras as maneiras de conhecer. São motores independentes. Os religiosos jamais vão se render aos cientistas ou aos técnicos ou a qualquer dos outros pólos. Não tem jeito, só traz guerra.

                            Assim sendo, a chamada CRIAÇÃO ESPECIAL, que é a criação religiosa, isto é, segundo os religiosos, é uma visão que jamais será suprimida, façam o que fizerem. Nem cada uma das outras. Mesmo quando a Matemática unificar tudo ainda assim ficarão as demais oito visões. A CE deve ter seu lugar no mundo.

                            Além disso, se a visão de um mundo evolutivo nos privou de um lugar especial, isso é errado, tanto quanto o contrário, o ser humano ou qualquer espécie racional dominante estar submetida a visões teocêntricas, zoocêntricas ou quaisquer outras. Deve haver equilíbrio entre a CRIAÇÃO TECNOCIENTÍFICA e as demais, digamos a criação religiosa ou especial. Ela deve realmente ser ensinada nas escolas, para quem deseje aprendê-la (mas não para quem não queira). Foi igualmente errado tender ao absolutismo de fazer as criaturas descendentes do acaso, sem a necessidade de um Deus criador, como antes era errada a visão unilateral dos religiosos. Todo excesso acaba levando a doenças.

                            A CE é uma parte da PE, posição especial, PORQUE você quer se considerado especial, assim como sua família, seu grupo, sua empresa, seu município/cidade, seu estado, sua nação e seu mundo. Todos querem especial atenção. É certo querer ver respeitadas suas crenças. Os tecnocientistas erraram ao ambicionar o monopólio da verdade, como outros erraram também ao seu tempo.

                            Vitória, terça-feira, 07 de janeiro de 2003.  

Piscar Humano

 

                            Os racionalistas amebianos vieram com essa demência de dizer que a Vida-racional toda é como um piscar da Terra. Supondo a vida humana como 70 anos, com a batida do coração ou o piscar em volta de um segundo, essa vida teria 70 anos x 365,25 dias/ano x      24 horas/dia x 3600 segundos/hora =         2.209.032.000 segundos, cerca de 2,2 bilhões de segundos.

                            VÁRIAS COMPARAÇÕES (como se fosse um piscar)

                            ENTE                               DURAÇÃO (ANOS)                  UM PISCAR

                            Universo                        15. 109                                            6,7 anos

                            Terra                               4,6. 109                                         2,1 anos

                            Quer dizer, o universo piscaria e já teriam se passado 6,7 anos – uma vida humana inteira de 70 anos não passaria de 11 piscadelas do universo. Com a Terra não seria muito menos.

                            Pior ainda, comparam com um ano de 365 dias e chamam de Ano Cósmico. Assim, toda a civilização humana parece não ter durado mais que alguns segundos. Se os 4,6 bilhões de anos da Terra forem comprimidos em um ano os 10 mil anos de civilização corresponderiam a 68 segundos, ou seja, pouco mais de um minuto. Tudo que a humanidade fez pareceria nada. Os esforços de incontáveis gerações, de 100 bilhões de seres humanos, ou quantos tenham sido, passam a significar coisa alguma. Todo o sofrimento indizível, toda a dignidade que foi arrancada da pedra com as unhas, até as lacerações, tornam-se retrato do quê? Se somos amebas habitando um grão de poeira, qual o significado de tudo o que laboriosamente a humanidade fez? Assim como o exagero do humanismo, a superafirmação do humano, o desvio ou doença do info-controle da hiperafirmação da humanidade, a destratação não ajuda ninguém.

                            O piscar humano é uma coisa, o piscar do universo é outra, completamente distinta. Não são termos comparáveis. Qual o sentido de submeter a humanidade a tais vexames?
                            Vitória, terça-feira, 07 de janeiro de 2003.

Óvulos e Espermatozóides


 

                            Óvulos são uns 400 ou 500 para cada mulher, presentes desde o nascimento, enquanto os espermatozóides amadurecem constantemente. Não consegui obter a informação nas enciclopédias, mas pela Internet, via Google, fiquei sabendo que até a maturação decorrem 64 dias.

                            Então, veja, os óvulos como se estivessem em boxes numa parede, sendo tirado um a cada mês. Eles estão lá permanentemente, de forma que, como raciocinei anteriormente, as mutações por injeção de raios muito energéticos, feito os X, os gama, os cósmicos e a radiatividade ambiental dependem inteiramente das mulheres. Seja durante que tempo for, no mínimo até a primeira menstruação e a primeira fecundação, os óvulos estão expostos a esses raios. A evolução que dependa disso não pode ser primordialmente masculina, deve ser residualmente nossa. Se a mulher é fecundada com, digamos 17,5... anos, transcorreram 17,5... anos x 365,25 dias/ano = 6.400 dias, por comparação com 64 dias, cem para um, chance de 100/1, com relação aos homens.

                            Ora, são os gametas masculinos (espermatozóides) e os gametas femininos (óvulos) que se juntam para formar os 23 pares de cromossomos. A chance de serem as mulheres responsáveis naquela modalidade são de cem para uma, como vimos. A esta modalidade chamaremos CHANCE ENERGÉTICA (CE), ao passo que à outra, masculina, denominaremos CHANCE MATERIAL (CM).

                            A CM refere-se aos erros de transcrição quando da montagem da fita de herança, FH, o ADRN contido nos gametas masculinos. Se eles são formados a cada 64 dias, as mutações desse tipo são principalmente de responsabilidade masculina, porque são depositados mais de 200 milhões (li num artigo da Internet que de 400 a 500 milhões) de espermatozóides na parte posterior da vagina, uns 300 a 400 chegando ao óvulo depois de percorrerem apenas 11 cm. Veja que a cada 64 dias amadurecem 400 a 500 milhões. Os erros de transcrição estando entre um a cada 10 milhões e um a cada 100 bilhões, se pegarmos a primeira proporção teremos 40 a 50 “errados” a cada 64 dias. A FAIXA MUTACIONAL MASCULINA seria de apenas 64 dias, enquanto a das mulheres seria de anos. Poderíamos chamar a isso de TAXA MUTACIONAL masculina. O que cabe a cada uma, a essa MUTAÇÃO FEMININA e a essa MUTAÇÃO MASCULINA? O que é responsabilidade feminina e depois passa aos homens e o que é responsabilidade masculina e a seguir passa às mulheres? A masculina será muito maior que a feminina?

                            Tudo parece indicar que a masculina é tremendamente maior que a feminina, porque se a CE é de 100/1 (com o artifício usado para achar um número assim – faça os cálculos em cada caso) a favor das mulheres, a outra, a CM é disparadamente maior para os machos. Como tudo é soma zero no modelo, penso que deve haver algum mecanismo de compensação, ou os caracteres masculinos masculinizariam inteiramente a comunidade humana, para não falar de toda a Vida. Se as CM acontecem com tanta constância nos homens, resulta que haverá uma PRESSÃO MUTACIONAL masculina muito maior, os homens se adaptando aos ambientes muito mais rapidamente e constituindo dominância pessoambiental com deslocamento ou desvio masculinizante.

                            Vitória, domingo, 05 de janeiro de 2003.

Os Serviços 4A

 

                            Sigamos a trilha dos três artigos neste Livro 19, As Percepções de Gabriel, em Torno da Palavra e Talentos Perdidos. Dizem que existem 6,5 mil profissões. Se for verdade que há um nível AAAA = 4A = 1/ (40)4 = 1/ 2.560.000, cerca de 2,5 mil pessoas em seis bilhões, então nas 6,5 mil profissões poderíamos ter 16,25 milhões de excepcionais trabalhadores de todos os tipos e a humanidade prosperaria rapidamente. Acontece que, como vimos em Talentos Perdidos, as pedrinhas não serão selecionadas eficazmente pela malha da peneira e dessa forma as pessoas que seriam os profissionais mais perfeitos não estarão nas profissões adequadas a eles. O capital humano mais perfeito será constituído de poucos, pouquíssimos indivíduos realmente competentes naquilo que estão fazendo.

                            Não é à toa que os empresários pagam caro quando encontram o talento mais extremado. Um nosso amigo, AAG, engenheiro e construtor civil, me disse certa vez que prefere pagar caro um assentador excepcional de azulejos que pagar mais barato alguém que iria depois refazer o serviço. Rende muito mais, pela rapidez do assentamento, e por não ser necessário nunca refazer a obra, que ficaria ruim, gastaria o dobro de material e de tempo, renderia aborrecimentos, etc.

                            Então, o objetivo é sempre encontrar e contratar essa gente, esses raros que sabem o que estão fazendo, no patamar QUATRO (A). Encontrar as melhores agências de turismo, as melhores agropecuárias, os melhores cientistas, os melhores técnicos em computação. Os governempresas deveriam ter departamentos só para isso. E aquelas empresas que os constituam, a esses departamentos, prosperarão mais rápido. São os tais “olheiros”, os contratadores de talentos. Agoraqui estou sugerindo o estabelecimento firme e bem dirigido de um departamento que se treine para essa observação. Que pesquise & desenvolva métodos teóricos & práticos de contratação. Que tenha verbas para tal.

                            E, principalmente, que os departamentos que utilizem os serviços de tais pessoas se estabeleçam em volta delas, não as paparicando, mas dando-lhes todos os apoios, de modo a delas extrair o máximo que for possível sem ferir suas (justas) suscetibilidades.

                            Vitória, terça-feira, 07 de janeiro de 2003.

Os Que São Sofisticados

 

                            Por toda a minha vida tenho visto a excessiva sofisticação como uma excrescência, uma desarmonia, uma mutilação do ser. É uma cadeia sem grades, uma quantidade imensa de rituais que aprisionam as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo – neste caso com o nome de protocolo) sob rígidas regras de etiqueta, a pequena ética, como disse Danuza Leão.

                            Saber sobre vinhos, bebidas em geral, comidas, pastas, temperos e suas combinações, que tipo de vinho cabe com que espécie dos inúmeros queijos; quais copos colocar à mesa com quais garfos, e qual pegar em toda determinada situação, os risos afetados, as precedências, os lugares na mesa, quando fazer salamaleques para quem, etc., tudo isso é muito aborrecido para quem pensa, torturantes marcas da prisão. Claro, há gente que gosta, viva lá ela com isso.

                            Agora, isso nos lembra que tais cerimoniais, implicando milhares e até dezenas de milhares de linhas de programas a serem aprendidos para todas as situações da vida, além de ser uma violência para os adultos é esgotante para as crianças. Como entender e aceitar que desde o colo as crianças estejam obrigadas a essa pedagogia ritualística, a esse aprendizado de labirintos, a essa torturante subtração da personalidade e da liberdade? A soma zero nos diz que, desde já, tudo é 50/50, havendo 2,5 % que vão supergostar disso, 47,5 % que tendem a tal e na margem oposta os contrários/complementares. Há gente que gosta.

                            Contudo, há também os livres, os que trocam esse mundo de significações entrecruzadas dos “elevados”, dos “altos”, para poderem ter na vida direito de se manifestarem como quiserem, com despojamento, sem saxes, sem pianos, sem todos os superarranjos em que cada ponto tem um valor no julgamento dos circunstantes, eca! Esses também não devem ser perturbados.

                            Vitória, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003.

O Prêmio dos EUA


 

                            Na Revista Scientific American em língua portuguesa publicada no Brasil, número 1, ano 1, há um artigo na página 25, Europa Produz Mais Ciência, que fala de como os EUA estão relativamente atrasados em relação à Europa, em especial diante dos nórdicos.

                            Eis a lista, publicações por milhão de habitantes (95 a 99):

                            PAÍS                                PUBLICAÇÕES              PERCENTUAL             

                            1. Suécia                                       1.431                                100                    

                            2. Dinamarca                              1.214                                85                                   

                            3. Finlândia                                 1.157                                 81                                                                4. Holanda                                   963                                 67                                   

                            5. Reino Unido                           949                                 66                                   

                            6. Bélgica                                     810                                  57                     

                            7. Áustria                                     717                                   50

                            8. EUA                                           708                                 49

                            9. Alemanha                               657                                  46

                            10. França                                    652                                  46

                            (UE)                                                613                                   43

                            11. Irlanda                                    542                                  38

                            12. Japão                                      498                                 35

                            13. Espanha                                 471                                  33

                            14. Itália                                        457                                  32

                            15. Grécia                                     340                                 24

                            16. Portugal                                248                                  17

                            17. Luxemburgo                        133                                  9

                            Veja que o Brasil nem consta. Dos dezessete 15 são europeus, só os coloridos de vermelho não – EUA e Japão. Veja também que dados corretos podem fazer bem pouco em mãos inábeis. Maciçamente é a Europa que vai à frente QUALITATIVAMENTE. E assim mesmo os três primeiros são nórdicos, faltando apenas Noruega, que não obstante é o país mais avançado do mundo em termos sociais. Dos dez primeiros apenas EUA não é de civilização com fundo nórdico (pois a Grã-Bretanha é uma colônia anglo-saxã e a França é bretã, em parte, em parte latina). Todos são do Norte, onde eles trabalham à beça. Mesmo os EUA são uma colônia da colônia nórdica, o Reino Unido. A França é parcialmente latina, mas o primeiro latino mesmo é a Espanha.

                            Agora, repare o seguinte: devemos classificar tudo em duas vertentes, a PRODUTIVIDADE QUANTITATIVA, que é produção, e a PRODUÇÃO QUALITATIVA, que é produtividade. No que tange à produtividade é que EUA e Japão não se situam à frente, e mesmo assim o EUA situa-se acima da média da UE, União Européia, PORQUE à frente estão apenas aqueles de sempre, enquanto a Europa dos 15, obviamente, é constituída de 15, metade acima e metade abaixo.

                            No que tange à produção, a população dos EUA era de 285,9 milhões em 2001, ao passo que a da Suécia era de 8,8 milhões no mesmo ano. Assim sendo, para os EUA 285,9 x 708 nos dá mais de 200 mil pesquisas/ano, ao passo que a Suécia chegou a menos de 13 mil por ano, 1/15 das dos Estados Unidos. Qualitativamente a Suécia tem o dobro, mas quantitativamente os EUA têm 15 vezes tanto quanto; num bloco assim tão maior certamente avultam pesquisas muito mais significativas, de modo que se desejarmos avanços, onde os buscaremos mesmo?

                            Também é preciso investigar a SIGNIFICÂNCIA, a qualidade do que é significativo, que tem significado. Por acaso, se o Brasil aparecesse na lista significaria que estaríamos avançando tanto? Sabemos muito bem que nas universidades e institutos brasileiros produzem compulsivamente porque existe um estímulo monetário para tal – só ganham se publicarem tantos “papers” (papéis, teses) a cada ano. São importantes esses textos? Em geral, não, só enchem lingüiça. Como estabeleci medida, é preciso perguntar da EMANAÇÃO ou “saição” de cada texto, ou seja, quantos outros saem daquele que é tido como raiz dos demais. Quantos textos são seminais, quantos são origem das compreensões seguintes? Às vezes são produzidos muito enganadoramente textos sem qualquer acréscimo, que apenas burilam inutilmente o mesmo conhecimento. Em resumo, têm valor?

                            Seria preciso investigar para eliminar a enganação.

                            É claro que os EUA não podem bobear, nem estou dizendo que não devam recrudescer suas iniciativas, apenas que a tabela foi mal posta e pior analisada ainda, se o foi. Dados por si sós não significam compreensão, e quando indevidamente manipulados podem levar a obscurecimentos.

                            Vitória, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003.