Representando Camões
Luís de Camões
nasceu em Lisboa em 1524 a 1525 a 1580, 55 a 56 anos entre datas. Junto com
Fernando Pessoa é um dos maiores poetas portugueses, e falo de ter lido. É tão
ou mais extraordinário que Shakespeare, pondo as diferenças, porque Camões
centrou-se n’Os Lusíadas, o poema épico da constituição da nação portuguesa,
que ele faz remontar aos deuses olímpicos. Infelizmente, desgraçadamente, nunca
foi filmado, ao menos que eu saiba, e certamente nunca com a grandeza merecida,
numa superprodução que a Rede Globo ou alguém deveria encarar, ligando depois
com o Brasil como continuador.
Camões é um
portento.
Há uma pequena
passagem de que lembro, diz assim: “sete anos de pastor Jacó serviu a Labão,
pai de Raquel, serrana bela; mas não servia ao pai, servia a ela, pois só a ela
por prêmio pretendia”. Que economia de palavras! Num só verso ele descreve toda
uma saga bíblica.
Falam dos amores de
Shakespeare, mas não da vida aventurosa de Camões. Jogam confetes no inglês e
nada dizem do português, que está na mesma altura ou maior, porque não se mirou
nos contos italianos e europeus em geral, como fez o outro, criou do nada.
Que brasileiros (sem
falar dos africanos e asiáticos, que nem tem dinheiro nem tanta identidade) e
portugueses, juntos ou separadamente, não tenham se dedicado a filmar Camões,
no todo ou nas partes, é não apenas um escândalo como testemunha os atrasos
significantes de ambos os povos. Tal desprezo serve a quem?
Não sei a que santa
estupidez atribuir tal desalentadora preguiça mental e descuido com a
nacionalidade.
Vitória, sábado, 04
de janeiro de 2003.