terça-feira, 3 de janeiro de 2017


A Conquista das Fitas de Herança

 

                            No livro Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993 (excepcionalmente a mesma data do original americano, indicando que o livro foi considerado muito importante pela editora – entretanto, é um texto fascista e constrangedor), o autor, Paul Kennedy, diz à página 19: “Como iremos ver, essas disparidades regionais são o aspecto mais crítico. Se a população da Terra se estivesse expandindo e devorando recursos em ritmo igual em todo o planeta, já seria bastante sério. Mas o fato de que povos diferentes produzem padrões demográficos muito diferentes – alguns crescendo depressa, outros estagnados, e outros ainda em declínio absoluto – torna a questão ainda mais problemática”, colorido meu.

                            Como se vê, é a continuação dos argumentos do Clube de Roma no livro Os Limites do Crescimento, tudo posto numa nova roupagem mais macia, e não tão direta e ofensiva.

                            Isso nos permitirá raciocinar sobre as fitas de heranças.

                            Veja o ADRN como uma FH ao nível da célula, na micropirâmide (campartícula fundamental, subcampartículas, átomos, replicadores, células, órgãos e corpomentes). São vários replicadores, o ADRN é um só. Portanto, a célula têm várias FH. Temos dois grupos, de FH físico-químicas e biológicas-p.2

                            Mais acima, na mesopirâmide (indivíduos, famílias, grupos, empresas, municípios/cidades, estados, nações e mundos), temos as FH psicológicas-p.3 e informacionais-p.4. O que a Vida (e até antes dela) faz é conquistar as FH, é montá-las e conquistá-las. A verdadeira predação é de informação-controle/comunicação, info-controle ou IC. Então, estamos montando e passando adiante as FH psicológicas, artificiais, não mais naturais como antes.

                            Uma empresa é uma FH psicológica (são passadas adiante as figuras ou psicanálises; os objetivos ou psico-sínteses; as produções ou economias; as organizações ou sociologias; os espaçotempos ou geo-histórias). Então, na realidade, o que passamos são almas, razões, raciocínios das, e sobre as figuras. O verdadeiro patrimônio são as pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) nos seus ambientes (municípios/cidades, estados, nações, mundos). Passamos e repassamos pessoambientes governempresariais políticadministrativos produtivorganizativos. ESSA É A RIQUEZA verdadeira, nenhuma outra. Não passamos objetos, porque o que faríamos com eles sem pessoas?

                            Os idiotas pensam que passam terrenos de fábricas, paredes, maquinário, carros, aparelhos, instrumentos, programas. Não, de modo algum, o que passamos mesmo são pessoas, almas, razões e redes de relações internas e externas (isso sequer é mencionado nas transações e nem se dá importância, de tal modo os seres humanos estão alienados de si e de seu coletivo de trabalho).

                            Ele teme pelo declínio demográfico da Europa e pelo crescimento mais lento dos EUA sendo “engolfado” pelo crescimento muito mais acelerado dos outros povos. Tudo que é “bom” está declinando, estagnado ou crescendo a ritmo lento, enquanto tudo que é “ruim” está multiplicando aceleradamente. Mas antes era a Europa e os EUA, para não dizer o Japão, que estavam crescendo exponencialmente, em termos de população, o que preocupou Malthus, porque a Revolução Industrial se deu lá na Inglaterra, em primeiro lugar, e foi sentida racionalmente também lá em primeiro lugar.

                            Se os EUA, a Europa e o Japão puderam construir FH que fossem bastante sábias para retardar ou anular a explosão da chamada “bomba demográfica”, porque não o seriam os demais países? É muita falta de confiança, é ou não é?

                            No fundo o Fascismo geral é essa falta de confiança, a idéia de que os outros não serão sábios o bastante. Sempre os outros. Como Bob Fields (Roberto Campos) disse, copiando alguém, “o inferno são os outros”.

                            Os outros povos SERÃO CAPAZES porque por um lado conquistarão as FH européias, americanas e japonesas, imitando-as, e por outro lado irão criar também, até mais proveitosamente.

                            É no que confio.

                            Vitória, terça-feira, 12 de novembro de 2002.

A Capa Protetora dos Grandes

 

                            No seu texto, O Livro das Idéias (Um dicionário de teorias, conceitos, crenças e pensadores que formam nossa visão de mundo), Rio de Janeiro, Campus, 2000, Chris Rohmann diz na página 367: “Embora seja lembrado principalmente como economista, Smith era formado em filosofia moral. Seu primeiro livro, Teoria dos Sentimentos Morais (1759), era um ensaio de ÉTICA, mas também expôs vários temas que ele veio a desenvolver em sua principal obra de economia, A Riqueza das Nações, inclusive a idéia de que o interesse próprio e o altruísmo não são incompatíveis”, colorido meu.

                            De fato, o dicionário tem dois lados, os dois conjuntos de pares polares opostos/complementares. Sendo assim, há egoísmo, o extremo do ego, o eu autocentrado, e há altruísmo, o extremo do alter, o outro, a descentralização do ego.

                            Então, o quarteto egoísmo, ego, outro e altruísmo, de um extremo a outro, não é absolutamente incompatível; aliás, é parte do desenho do mundo. Acontece que Adam Smith privilegiou o lado do EGO, através da “mão invisível”, um instrumento de fora que corrigiria o que desse errado, um fantasma da máquina, sua alma, que faria com que no final tudo desse certo. Devemos ver que a evolução socioeconômica é artificial, psicológica (psicanálise ou figuras; psico-síntese ou objetivos; economia ou produções; sociologia ou organizações; geo-história ou espaçotempos), uma matriz de vetores que deveria ter soma zero, mas que efetivamente não tem, há desvios que, como no super-reino natural biológico/p.2, conduzem a becos sem saída, como já aconteceu tantas vezes, para tantas civilizações, indo cada uma a esse beco por conta própria ou sendo suplantada por outras de rendimento maior.

                            Em primeiro lugar, para o Ocidente a “mão invisível” foi principalmente Jesus, e mais remotamente a conjunção greco-romana com o judaísmo. Em segundo lugar, o coletivo comporta em si as correções, via revoltas contra as pressões excessivas dos dominantes, no caso a civilização de fundo anglo-saxão e a ética cristã-protestante do trabalho. Então, aquelas soluções inesperadas proporcionadas quando o carro está para descarrilar, tal “mão invisível”, é um conjunto de procedimentos que se apóia em planos muito mais vastos do que a liberdade inserida por Smith, essa justificação prévia de tudo que os capitalistas doravante fizessem, mas autorização tão elaborada que eles não vissem que era meramente um cartaz de propaganda dos valores endógenos, FOSSEM ESSES QUAIS FOSSEM, porque, de qualquer forma, por trás estava a mão de Cristo segurando e impedindo que o Ocidente tropeçasse e caísse. A imagem que nos vêm à mente é mesmo a de um Anjo da Guarda, que fica à nossa volta evitando nossos tropeços, quando não somos insistentes demais em ir pelo caminho errado. A “mão invisível” protegendo por trás tudo haveria mesmo de dar certo, por mais bandido que fosse o sistema. Teríamos aí uma elasticidade notável, muito assombrosa mesmo, que vem sustentando tudo que o Ocidente fez de errado por séculos e séculos afora. Acontece que a mensagem de Cristo é poderosa, mas cede algumas vezes, quando há abusos.

                            Olhando por esse prisma, os acadêmicos deveriam distanciar-se para elaborar uma visão mais vasta, um cenário completo desses desvios, que foram compensados até sem que o soubéssemos, senão agora e aqui. Quando e onde, história e geografia dos ultrapassamentos, das situações em que os excessos dos capitalistas e burgueses, por exemplo, para contar apenas depois de Adam Smith, conduziram o mundo a situações de ruptura.

                            Ou seja, onde ocorreram as compensações coletivistas do personalismo introduzido por Smith? Onde o planejamento governamental repôs os descomedimentos empresariais?

                            Vitória, segunda-feira, 11 de novembro de 2002.

Vestir Bem

 

                            Por ter sido chamado a membro do Tribunal do Júri de Vitória tive de vestir terno depois de 30 anos (o primeiro que tive, usado no batismo do primeiro filho de Ary, meu irmão mais velho, acabei doando a um amigo, Pascoal – na realidade emprestei, mas ele nunca devolveu). Por acidente fui ao Sindifiscal e um dos diretores, W, disse que só a Justiça pode fazer certos colegas se vestirem bem.

                            Isso me deu oportunidade de pensar sobre o “vestir bem”.

                            Ora, tendo dinheiro e tempo qualquer um que queira se dedicar a isso pode se “vestir bem” PORQUE as roupas são pensadas pelos tecnartistas da moda, os estilistas, como se diz agora, os modistas, como se dizia antes, e confeccionadas por pessoas gabaritadas, grandes costureiras ou costureiros. Os tecidos são escolhidos de um grande leque de ofertas atuais, em quantidade e em qualidade, vários tipos de padronagem com todo tipo de caimento.

                            Tendo-se dinheiro pode-se ir a lojas em centros de compra (shopping centers, para quem não reconhece a forma em sua própria língua), ou a milhares de lojas existentes em Vitória, no ES, do Brasil e no mundo, até. Ganhando o que nós fiscais ganhamos, agora em torno de 6,0 mil líquidos (eu, a partir de setembro/2002), QUALQUER UM pode se vestir “bem”.

                            Sem entrar na questão do julgamento de valor, que seria um estonteante debate filosófico, fica apenas a tendência a seguir modas, e eu não sou de seguir nada. É preciso querer estar inserido, e eu não quero estar inserido nessas coisas. Depois, meu dinheiro é mais bem aplicado em livros e em conhecimento em geral, que custa caro e para tantos não tem valor algum.

                            Mais ainda, para alguns, se vestir “mal” tem essa característica benéfica de afastar o tipo de gente que preza a segunda pele, ou seja, toda espécie de pessoas que valoriza a aparência, quando se está envolvido com o pensar. É uma maneira ótima de afastar os tolos (outra é andar sem dinheiro – ninguém, fora os amigos, quer pagar para os “duros”).

                            Peguemos a altura, a largura, a profundidade de uma pessoa, seu tipo físico, algum dinheiro, alguma paciência para escolher, particular tendência a gastar tempo em futilidades, a desobrigação de pensar em qualquer coisa por ela já encontrar o mundo pronto em quase tudo (por haver uma coletividade imensa que sustenta seu grau elevadíssimo de despreocupação e individualismo) e pronto! Voilá! - como dizem os franceses. É num piscar de olhos. É porisso que há relativamente tanta gente “bem vestida” no mundo e relativamente tão poucos pensamentos que desnudem os conteúdos compreensivos.

                            Vitória, quinta-feira, 24 de outubro de 2002.

Ver TV

 

                            Noutra série de TV, como em Várias Vidas, neste Livro 11, haveria encarnações, mas diferentes, porquanto agora a pessoa não dormiria e acordaria na vida outra; vendo TV ela, com esse poder modificador, tentaria “consertar” as coisas, no final chegando à conclusão de que não é fácil, como na estória infantil que as mães nos contavam do sujeito embaixo do pé de jabuticaba desejando que ele produzisse melancias: “oh!, como Deus não soube ver isso, pés de melancia no chão com aqueles frutos enormes, ao passo que as jabuticabeiras produzem frutinhas tão pequenas, que criação tão errada”, até que caiu uma jabuticaba na cabeça dele e ele despertou mentalmente.

                            Ele redesenharia a vida das pessoas na TV para o que desejasse e a partir daí a vida da personagem de TV modificaria de rumo, havendo na metade da tela a vida como ela seria e na outra metade o que passou a ser. Naturalmente muita coisa desandaria, quando ele pensasse estar fazendo o bem, e daria certo quando imaginasse estar dando lições, e as outras duas possibilidades, mas de modos distintos dos que ele tivesse pensado. Dia após dia, diante da TV, em episódios de uma hora, ele tentaria modificar o mundo para que tudo “desse certo”, por comparação com o detestado seriado Toque de um Anjo (no título em inglês, creio que Tocado por um Anjo, onde existe a pressuposição implícita, que os autores nem notaram, de que o Projeto de Mundo de Deus precisa de correções aqui e acolá).

                            Que aprendizado emergiria para a personagem e para os telespectadores? Atrás da tela em casa os telespectadores veriam que as tentativas deles de reprogramar a vida na Terra nem sempre leva a bons resultados.

                            Vitória, terça-feira, 29 de outubro de 2002.

Vantagem Computacional

 

                            No livro de Michio Kaku, Visões do Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, p. 158, o autor diz: “segundo Lester Thurow, ex-diretor da Sloan School of Management do MIT, o que está acontecendo é nada menos que um deslocamento sísmico na geração de riqueza neste planeta. A partir de cerca de trezentos anos atrás, com o nascimento do capitalismo, as nações que acumularam vasta riqueza e exploraram recursos naturais e capital ganharam proeminência, como registrou Adam Smith em A riqueza das nações. No século XXI, porém, escreve Thurow, ‘capacidade intelectual e imaginação, invenção e organização de novas tecnologias são os ingredientes estratégicos-chave’. Alguns países com probabilidade de ser gigantes econômicos no século XXI, como o Japão e a China, são relativamente pobres em recursos naturais e terras aráveis, mas têm uma força de trabalho preparada, dedicada, e privilegiaram a ciência e a tecnologia. ‘Hoje, conhecimento e habilitação passaram a representar sozinhos a fonte de vantagem comparativa’, escreve Thurow”, coloridos meus.

                            Desde SEMPRE a capacidade intelectual, a imaginação, o conhecimento, a habilitação, as patentes, a pesquisa teórica de idéias & o desenvolvimento prático de produtos, o investimento em educação e cultura, foram os diferenciais que propulsionaram as coletividades adiante, acima e à frente das demais. Por toda a geo-história podemos ler a mesma inequívoca lição, para onde quer que viremos nossa memória - essas coisas de melhorarmos a memória, a aplicação da inteligência, o controle, deu vantagem competitiva na seleção por aptidão e habilidade das nações, dos estados/províncias, dos municípios/cidades, das empresas, dos grupos, das famílias e dos indivíduos. Não foi outra coisa, foi sempre o favorecimento da educação, seja por mera transferência pedagógica, seja pela busca mais profunda das respostas.

                            O tal “deslocamento sísmico” nada mais é que o fato de as sociedades do Oriente estarem sendo cristianizadas, adotando o modelo ocidental de preocupação com o povo, e de cessão a ele dos benefícios gerais do Conhecimento geral e da produçãorganização pessoambiental. Com coletividades maciças, a China com 1,3 bilhão, a Índia com 1,0 bilhão, o Japão com 125 milhões e os volumes enormes de gente disciplinada e agora educada desde a base, não poderia ser diferente. Se a América Latina não prospera bastante rápido é porque existe essa separação nítida entre os “crioulos”, os descendentes de europeus, e os outros crioulos, os africanos, e os mestiços, colocados sempre em desfavor. Há sempre duas nações, duas argentinas, dois brasis, dois méxicos, etc.

                            E tudo isso se resume numa coisa só: VANTAGEM COMPUTACIONAL. VC de memória e VC auxiliar da inteligência, quando não a própria VC humana. Porque, veja, nós também somos computadores, seres que computam, embora sejamos mais que computadores, não apenas computadores. Não computamos apenas, pensamos, o que é um diferencial importantíssimo, a que os governempresas nem sempre dão valor. Pelo contrário, o inimigo interno, servo dos seus amigos de fora, costuma nos deprimir, nos subjugar. TUDO é questão de vantagem computacional.

                            Desde quando os chineses eram tratados como subumanos produziam como subumanos, ao passo que desde quando passaram a ser tratados como gente, a resposta tem sido ótima. O mesmo se dá agora na Coréia do Sul, em Hong Kong, em Cingapura, todos os tigres e dragões asiáticos onde está se dando a cristianização avançada, mesmo quando eles não tenham consciência disso, ao adotarem os costumes ocidentais.

                            Tal “deslocamento sísmico”, com violentos terremotos socioeconômicos ou produtivorganizativos, pode se dar também na América Latina, DESDE QUE adotemos a crença na igualdade de oportunidades, dando educação de altíssima qualidade A TODOS. Desde quando introduzamos computadores em todas as salas de aulas, em todas as repartições governamentais e empresariais, em todas as casas, sempre avançando na construção das máquinas e a dos programas.

                            Quando nos voltemos para o computador e as máquinas gerais como potencializadores da liberdade humana geral, ENTÃO haverá não uma, mais muitos deslocamentos sísmicos, acontecimentos absolutamente assombrosos. O Brasil e o ES devem se conscientizar o quanto antes disso, que os ingredientes-chave de ontem, de hoje e de sempre foram, são e serão os mesmos, em todo espaçotempo: 1) treinamento da capacidade intelectual, 2) desenvolvimento sôfrego da imaginação, 3) estímulo à inventividade, 4) organização distributiva das benesses das novas tecnociências, 5) favorecimento indiscriminado e democrático, sem ocultamentos, do Conhecimento geral, 6) habilitação mental e corporal, 7) igualdade e liberdade postas no mesmo patamar de busca.

                            Não depende de ter recursos materiais, energéticos e de informação, ou seja, das riquezas, dos recursos, dos dinheiros já disponíveis, mas antes de QUERER humanizar TODOS OS SERES HUMANOS, de ter um grande projeto para todos. Querendo, os demais recursos aparecerão, vindos de todo lugar, como grande voragem de aplicações, como está acontecendo na China de hoje.

                            Vitória, terça-feira, 29 de outubro de 2002.

Sufocamento

 

                            No livro de Paul Kennedy, Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993, original americano do mesmo ano, p. 23, ele diz: “Os cidadãos das sociedades ricas têm um vislumbre da pobreza na qual milhões são obrigados a viver através de programas da televisão sobre a fome na (digamos) Etiópia, ou das fotos da National Geographic Magazine sobre as favelas da América Latina: a paisagem angustiante, a miséria, os membros delgados, os sinais de doença e, acima de tudo, os milhares e milhares de crianças pequenas. Se essa visão é dolorosa hoje, como será quando essas regiões tiverem três vezes mais seres humanos que hoje?”

                            Bom, no ano zero, quando os romanos eram adiantados e os ingleses, franceses, espanhóis, alemães, portugueses eram atrasados, imagino que os romanos, olhando os bárbaros, ficavam preocupadíssimos com o ritmo de expansão populacional deles. Como fariam eles para, no futuro, alimentar tantas pessoas famintas, se suas economias eram tão atrasadas e deficientes de tudo que fosse civilizado? Para os romanos e os gregos melhor seria cancelar, jogar fora aqueles povos barbados, sujos, mal-vestidos, defenestrá-los da face da Terra, apagá-los completamente. Entrementes, como sabemos, os povos anglo-saxões, os nórdicos, os latinos não-romanos, os eslavos, e seus descendentes deram contribuições inapreciáveis à civilização humana. Conhecendo o futuro do ano zero nós jogaríamos fora aqueles povos só porque eram então sub-desenvolvidos? Obviamente, não.

                            Do mesmo modo com os povos de agora: quantas contribuições eles ainda poderão dar? Se agora ainda não deram tudo de si é porque o modelo que é oferecido não é o melhor para a manifestação de seu potencial. Logo quando encontrem a formestrutura mais expressiva, muito farão.

                          Os povos desenvolvidos estão sufocados, hoje? É preciso pensar que novas soluções serão encontradas, bastando ter amor. Como disse Jesus: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, isto é, ao modo divino, de Deus, que é o mais largo possível, o que dá maior abertura para todos os fazeres.

                            Quando houver três vezes tanto quanto, ou mesmo três vezes mais, quatro vezes tanto quanto, as soluções também serão potencializadas extraordinariamente, de modos que hoje desconhecemos. Como o petróleo foi descoberto, e a energia atômica, e a fotoconversão, e as hidrelétricas, e o a expansão do uso do carvão a níveis literalmente estratosféricos, e tantos outros modos. E a produção de alimentos, de roupas, de carros, de tantos milhões de coisas que no ano zero desconheciam, e foram justamente resultado do trabalho diligente e dos incomensuráveis esforços daquela gente desprezada de então, que Cristo abraçou em seu grande projeto.

                            Não travemos os outros. Não os sufoquemos com o nosso medo, não cortemos seus projetos de futuro com nossos receios de que não haja para todos. O universo É GRANDE, muito mais do que a humanidade pode algum dia imaginar, e nele há muitas mansões de MEU PAI, como disse Jesus. Não devemos sufocar os outros com nossos anseios, nossos temores, com o que ainda não aconteceu, com o nosso pavor de não encontrarmos as soluções para os problemas. Havendo abertura e amor, tudo dará certo, crede.

                            Vitória, domingo, 27 de outubro de 2002.

Várias Vidas

 

                            Como no filme de Nicholas Cage ou no extraordinário Feitiço do Tempo, com Bill Murray e Andie MacDowell, dirigido por Harold Ramis, em que a vida da personagem de Bill se repete indefinidamente, sempre no mesmo dia. No de Cage um anjo redimensiona a vida da personagem para o que Cage poderia ter vivido, numa vida alternativa.

                            Estou pensando numa série de TV, a pessoa imaginando como seria a vida em tal situação e subitamente mudando para ela. Pela soma zero (SZ = 0) as flechas para cima são iguais em módulo às flechas para baixo, apenas mudam os comprimentos delas; e pelo produto um (PU = 1) muita intensidade significa breve tempo, enquanto longo tempo quer dizer vida insossa. Há aí, evidentemente, muita oportunidade.

                            Ele poderia encarnar milhões de vidas diferentes, até ir aprendendo uma lição de vida, como fundo gestáltico de sua experiência geral, enquanto do outro lado da tela, na Terra, as pessoas pensariam em encarnações e em suas situações de vida. Desde que isso não ensine conformismo, a superafirmação do conforme, da acomodação, pode significar a aceitação e aproveitamento das vidas, com tudo que elas têm de bom, a par do que têm de ruim.

                            Por mais que fizesse, como também no filme Endiabrado, com Brendan Fraser, em que a personagem vive sete vidas diferentes, toda vez imaginando soluções maravilhosas e tendo que pagar o negativo do positivo, por mais que tentasse sempre teria um lado desagradável.

                            A pessoa, antes de entrar, naturalmente planejaria tudinho para dar certo, certíssimo, e nalgum ponto o seu trem de vida descarrilaria, tudo sairia pelo contrário, com várias situações hilariantes, dramáticas, penosas, inspiradoras, etc. Ela veria personagens da “vida real” e se imaginaria nas vidas delas, realmente acordando naquelas situações, lembrando-se de tudo, tanto de sua vida anterior quando da atual, sem aqueles constrangimentos de não saber o que está se passando na vida atual. Memória plena, inclusive do que planejou, mas em certo momento havendo uma encruzilhada nítida, um desvio que ele desesperadamente tentaria evitar.

                            Às vezes até encarnando em vidas das pessoas que ele despreza ou não compreende, por exemplo, sendo um machista na de uma mulher, com todos os problemas diários.

                            Permitirá profundas meditações ao redor do mundo, porque a personagem poderia encarnar em todos os países, até em várias eras, vendo que no fundo todos têm uma vida de problemas e soluções, bem confusa, com repentes de alegria, fossa, melancolia, etc., tudo mesmo que a vida nos traz.

                            Vitória, terça-feira, 29 de outubro de 2002.