Se a China fosse Capitalista
Paul
Kennedy diz em seu livro (Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro,
Campus, 1993), p. 23: “Em outras partes do mundo em desenvolvimento os aumentos
prováveis são quase da mesma magnitude. O total da China pode subir apenas (!)
dos 1,13 bilhão de hoje para cerca de 1,5 bilhão em 2025, ao passo que a
população da Índia, de crescimento mais rápido, provavelmente passará dos 853
milhões de hoje para cerca de 1,45 bilhão. Levando-se em conta a natureza
aproximativa dessas estatísticas, e possíveis mudanças tanto na taxa de
natalidade como de mortalidade dos dois países, é concebível que a Índia venha
a ter a maior população do mundo em 2025 – pela primeira vez na história
escrita”.
Consultando
o Almanaque Abril 2002 vemos que a população da China era de 1,285
bilhão em 2001, crescimento demográfico de 0,71 % ao ano. A Índia tinha 1,025
bilhão em 2001, taxa de crescimento populacional anual de 1,52 %. A continuar
neste ritmo a China iria, em mais 24 anos, a 1,523 bilhão e a Índia a 1,472
bilhão, e estariam tecnicamente empatadas. É claro que tal precisão não faz o
mínimo sentido, mas é só para mostrar que a China em tese continuaria na
frente. Em tese, porque não faz nem dez anos o crescimento da China era de 0,9
% e não 0,7 %. Já baixou, sem falar que em cinco décadas baixou uns 2,5 %. O da
Índia certamente era maior também.
O
do Brasil, que já foi de 3,1 ou 3,2 % na década dos 1960, baixou a 1,9 % e
agora a 1,6 % ao ano no ano 2000. A coisa está despencando.
Agora,
lembre-se que o Paquistão (população de 145 milhões em 2001) estava unido à
Índia na independência conjunta em 1948, enquanto Bangladesh (140 milhões em
2001) se separou do Paquistão em 1970. Juntados os três teríamos em 2001 nada
menos que 1,310 bilhão. O crescimento do Paquistão sendo de 2,54 %, em 2025 ele
estaria com 265 milhões, enquanto para Bangladesh (com crescimento de 2,09 %
a.a.) ficaríamos com 230 milhões. Juntos os três em 2025 teríamos quase dois
bilhões de pessoas, muito além da China.
É
certo que o índice da China diminuirá ainda mais, mas os dos outros três não
tanto, porque os dois muçulmanos têm política populacional de crescimento,
enquanto a Índia vai indo do seu jeito.
Veja
que os três são capitalistas, ou passam por ser, enquanto a China é socialista
no chamado Caminho das Duas Vias, servindo-se do capitalismo onde é
necessário e não-contaminante do poder. Evidentemente na Índia morrem milhões
de fome ou centenas de milhões vivem no limiar da pobreza, enquanto a China
está crescendo economicamente a mais de 10 % ao ano por mais de 10 anos, desde
1986, sem dar notícias de que vá parar.
Os
hindus, dada toda a sua religiosidade e o fato de não comerem carne, quase não
cometem crimes, ao passo que os chineses, comendo carne e soltos à sua vontade
livre são baderneiros. Pesando todos os condicionantes de uns e da outra, pense
se a China fosse capitalista quantos estariam vivendo na mais abjeta miséria e
quantos estariam morrendo de fome por ano, talvez dezenas de milhões!
Publicando
em 1993, sobre base de dados de 1992, certamente, portando a 33 anos de 2025, o
autor estava pressupondo uma taxa chinesa de 0,86 %, ao passo que já reduziu
para 0,71 %, enquanto que para a Índia calculou com base em 1,62 %, quando já
caiu para 1,52 %. Desceu 0,15 % num caso e 0,10 % noutro.
Veja
só como os capitalistas centrais são tendenciosos!
E
os americanos do Norte que saíram de alguns milhares para 286 milhões em 2001?
Vamos supor que tivessem em 1776, ano de sua Revolução, dois milhões de
habitantes brancos (vá obter os dados corretos, será ilustrativo), um milhão de
índios e outros dois milhões de hispano-americanos do México no que eram os
territórios deste então. Total de cinco milhões. Subiu 280 milhões, grosso
modo, em (2001 – 1776) 225 anos, crescimento contínuo de 1,8 %, em alguns
períodos muito maior a taxa. Acontece que a taxa agora é de 0,89 % ao ano,
metade daquela. Nós poderíamos passar sem o que os EUA proporcionaram de bom ao
mundo?
Para
quem o capitalismo é como uma segunda pele, tudo bem, vai-se legal com ele. E
os demais, onde os países não percebem bem o que seja o capitalismo e não sabem
agir a contento dentro dele? Seria o desastre, como é em tantos lugares.
Imagine
se a China estivesse crescendo a 1,6 % como o Brasil (iria a 1,881 bilhão em
2025) ou a 3,0 %, como certos países (iria a 2,612 bilhões em 2025)! Os modelos
não são iguais e o futuro não é o mesmo para todo mundo. O etnocentrismo
americano e europeu, e a tendência de julgar tudo pelos seus padrões, além de
ser chocante é uma vergonha para todo a espécie humana.
Não
faz bem a ninguém imaginar esses cenários restritivos, como fez o Clube de
Roma.
Lute-se
a favor, libere-se a tecnociência de ponta, ajude-se os governempresas das
nações, em lugar de ficar tolhendo os demais. Esse é o verdadeiro princípio
cristão, que Cristo veio ensinar há dois mil anos e tanto fez pelo Ocidente.
Vitória,
segunda-feira, 28 de outubro de 2002.