sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Apanhando a Bandeira

 

Vi de passagem notícia de que o GEES, governo do estado do Espírito Santo pretende “passar no cobre”, vender a CESAN, Companhia Estadual de Saneamento, presente em quase todo o estado – por meros 2,0 bilhões (de reais, não são dólares, seriam 6,0 bilhões de reais).

A BANDEIRA ELEMENTAR E O QUE ELES JÁ PEGARAM

Ar.
É universal, não podem tributar porque não haveria como obstaculizar (mas colocam extratores de nitrogênio, oxigênio e o resto todo).
Água.
Até agora não tinham conseguido pegar muita coisa, é a grande ambição, ninguém pode viver sem água.
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Eles se aproveitam dos momentos de fragilidade nacional/brasileira e local/capixaba para enfiar a faca, acumpliciados com Temerário, agora presidente do país, e Paulo Ratão, governador do ES.
Terra/solo.
Os latifúndios estão espalhadíssimos, mormente no Brasil, onde as invasões de grileiros (inclusive senadores) tomam as terras públicas na marra (ou elas são doadas aos bandidos invasores).
Fogo/energia.
Por toda parte se apoderaram das companhias de energia, inclusive solar. No Brasil fizeram de tudo para pegar a ELETROBRAS e bombardearam a PETROBRAS, são tinhosos, alugaram os presidentes e asseclas desde Sarninha, passando por Collorido, FHCB, Luladrão e Dilmaluca, agora Temerário.
No centro a Vida geral (arquea, fungos, plantas, animais, primatas).
Tentam de tudo, agora estão patenteando formas genéticas; os compradores ao abiscoitarem a Vale a preço de banana podre, levaram de lambuja a reserva da CVRD, Companhia Vale do Rio Doce, e outras.

A sanha e a manha deles não abrandam.

O objetivo é o lucro à custa de todos e cada um.

Vitória, sexta-feira, 02 de setembro de 2016.

GAVA.

Regras da Fésquisa


 

“Se forças místicas, que podem ser comparadas a espíritos, animam a natureza, o homem poderá exercer ação sobre ela como age sobre os seres espirituais, através de palavras e gestos apropriados”. Félicien Challaye, As Grandes Religiões, 6ª edição, São Paulo, IBRASA, 1981, p. 37, e a nota de rodapé “fluído constituinte das virtudes das coisas e dos seres, força cega que os iniciados conseguem canalizar para seu proveito e da qual chegam a extrair à vontade efeitos benéficos e danosos” (op. Cit., págs. 90-91, Kreglinger).

 

- Nimo, não sei o que está dando errado...

- O que foi?

- As experiências não estão dando certo.

- Seguiu as regrinhas do manual?

- Claro.

- Rezou para o seu totem de manhã?

- Sim.

- Fez as abluções?

- Sim.

- Então não sei. Prestou atenção às recomendações de São Darwin? E de São Bacon?

- Evidente. E às do Perfeito Newton e às do Perfeito Einstein também. Definitivamente tem algo errado.

- Bem, temos de pensar. Vazou algum mana seu? Mediu com o manâmetro?

- Sim, 87 %.

- Nossa! Quem é seu guia de terreiro?

- Pai José de Oxalá.

- Você tá indo de graça ou tá pagando?

- Plano de Saúde Espiritual, UNIMÁGICA.

- Ah, muito bom, também tou nele. N’gama, alguém colocou sal grosso procê?

- Que eu saiba, não.

- Foi na benzedeira?

- Não, faz tempo.

- Então é isso! O fluxo de fluído espiritual está obstaculizado. Caramba, N’gama, uma coisa elementar dessas, as matrizes de ADRN jamais vão se combinar se você não operar com força mística suficiente. Você já tá velho nisso: tá contaminado e se não for fazer as pazes com os totens e os deuses, ah, meu filho, você jamais vai conseguir. Por um lado sua fé tá baixa, por outro lado tá entupido, tá constipado, o mana não flui.

- Como assim?

- Mas tá na cara! Seu nível de mana tá alto, mas tá estancado, já passei por isso. Você tá com insônia?

- Tô, mainha tá até reclamando de eu ficar andando pela casa.

- Eu sabia! Potencialmente seu mana está alto e como você é boa pessoa ele só vai fazer é subir mesmo, você fica excitado, excitadíssimo, cheio de ideias, mas o mana não flui, entende, contamina seus órgãos, pode até provocar doença física cardiovascular. Aconteceu comigo, quase tive um troço, se não fosse a benzedeira abrir os canais, os caminhos, eu teria me dado muito mal, não conseguia resolver os mínimos problemas de física espiritual, não conseguir projetar misticamente máquina nenhuma, foi lamentável. Como você espera agir sobre as coisas e os seres, como pretende colocá-los em combinação, fazê-los interagir, se não consegue mana para as palavras-de-ligação? Ah, meu filho, computadores e calculadoras, programas e bons laboratórios espirituais de nada vão servir se os fluxos de mana estiverem obstruídos, se os canais tiverem estreitado.

- Puxa, Nimo, já estava ficando encucado, vou hoje mesmo. São Watson e São Crick que tem abençoem.

Serra, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012.

Reunião da Família Berto


 

O avô Zero Berto faria 80, o filho Um Berto 50, o neto Dois Berto (que alguns chamavam de Disberto para implicar com o personagem ou vice-versa) 20 anos, diferença de 30 entre cada um, coincidência, mas não aniversariavam no mesmo dia, nem no mesmo mês, isso não, que seria abusivo. Dentro de seis meses os três, já estava bom, decidiram comemorar e chamar toda a família Berto.

Boquia Berto vivia admirado com tudo, ah, ah, ah, aquele bocão aberto de idiota, ô raiva, vivia estudando filosofia, quando bebia ficava assim mel-ditativo olhando pro espaço.

 A. Berto era o cagado da sorte, ganhava na loteria a torto e a direito, mas não fazia bilhete de loteria nem pule de bicho com ninguém, o filho de uma égua.

O Li Berto achava-se o rei da cocada preta, vivia proclamando a independência econômica, vá tomar.

O Co Berto e o Desco Berto eram irmãos gêmeos, o que um fazia o outro desfazia, uma chatice, viviam às turras, era de encher a paciência, Deus nos acuda, ninguém aguentava.

O Enco Berto era da polícia, vigiava os outros e usava a Bicoa Berto para entregar a todos, era preciso ficar de olho muito aberto, com as antenas ligadas na presença dos dois, nem tinham vergonha, fazer isso com a família!

O Entrea Berto e o Raboa Berto eram os Bertoiolas, ninguém queria falar com eles, faziam de tudo para “cortar volta”.

A Recéma Berto tinha casado recentemente, enquanto a Semia Berto tinha transado antes de casar. Fronta Berto tinha uma mancha na testa, uns diziam que era AIDS, mas ninguém tinha coragem de perguntar.

Enfim, família é família, ninguém está aí mesmo para criticar pela frente, mas depois o pau ia comer por trás (hi, hi, hi).

Tios, tias, parentes, apareceram todos para beber de graça e comer de graça, sem um presente que fosse, mas vovô Zero Berto desejou uma festança, provavelmente não emplacaria 90, embora o pai tivesse chegado quase a 100, eram outros tempos, sem tanta pressão, nem de longe, não havia chance, mas bem que ele sonhava.

Podendo gastar o dinheiro do pai o filho não se fez de rogado, gastou com força, o neto chamou os amigos, foi um bafafá dos diabos, gente rolando na grama, o vovô Zero não estava nem aí, os outros que iam limpar, ele ria, no final da vida e sem responsabilidades ele só fazia rir.

Serra, terça-feira, 07 de fevereiro de 2012.

Quando Elvis Desceu à Terra

 

Era o primeiro show de Elvis em muito tempo.

A amiga dela a convidou.

- Vamos? É no Ibirapuera.

- Não sei, pegar avião abarrotado, sei não. E ele é bem antigo.

- Por isso mesmo, você só ouve no TV, no rádio, no computador, no MP58, sei lá, nunca é ao vivo, nunca é cara a cara, tudo muito artificial.

- E ele convence mesmo?

- Se convence, tá brincando? E eu já te convidei pra alguma roubada? Ademais, podemos conseguir uns caras lá pro nosso jogo.

- Bem, aí até que pode ser, preciso bater uma pelada.

Foram, Elvis estava esfuziante, magrinho, tanquinho, todo saradão, o clássico Elvis. Levaram a avó de Mariana e o avô de Marquinho, um vizinho de Clarice.

- Caramba, o show tá legal demais. Nós vamos bombar com os garotões.

- Não com esses dois a tiracolo.

- Cê tá brincando, quem não gosta de netinha que cuida do avozinho? É só amor pra dar, tá no papo, já conversei com um cara ali, ele trouxe a tia-avó.

- E aí, na hora do pega-pega, eles vão ficar com quem?

- Fica fria, já combinei com o taxista.

Elvis arrasou mesmo. Duas horas e meia de show de arrebentar os canecos, a velharada tava vibrando, sem falar que muitos dos jovens, até menores acompanhados dos pais e das mães e mais o pessoal de meia-idade, que gostaram das músicas antigas, puxa, foi demais.

Final do show um cara de 27/28 se aproximou.

- E aí, gostaram?

- MUITO BOM. Bom demais. Onde eles encontraram esse cara?

O garoto estava rindo à toa.

- Não foram “eles”, fomos nós.

Clarice ficou impressionada (que sorte).

- Vocês, fala sério!

- Nós mesmos, eu os o manos.

- Tem mais de você?

- Tem, vou ligar (ligou e o outro, que estava na multidão mesmo, se chegou até o emissor de luz de sinalização).

- Alberto, Clarice, Mariana (nisso os avós já tinham sido expulsos).

- Fala aí, gente.

- Iêba, dois pares. Não que foram vocês que encontraram o Elvis?

- Foi, sim.

- É de que bairro?

Os dois estavam sorrindo, quase rindo, parecendo que iriam ter uma crise de riso, que iriam gargalhar.

- Bairro nenhum, trabalhamos no Tatuapé ou Tatu de ônibus, que ainda não temos carro nosso, só emprestado pelo pai, mas vamos comprar. É uma firma muito boa.

- Então, descobriram ele no Tatuapé?

- Não, nós TRABALHAMOS LÁ.

- E trabalham no quê?

Apontam para o Elvis.

- São professores de ginástica.

- Não, trabalhamos NELE.

A luz se faz para as duas.

- Não é possível.

- É sim, inteirinho.

- Vocês FIZERAM ele?

- É claro que sim, das unhas aos cabelos.

- Caramba, não sabia que o Brasil tava nessa. Já tinha ouvido falar, mas nunca no Brasil.

- Ham, vocês estão por fora, não só esse daí, mas muitos políticos, muitos governantes são teleguiados tanto de dentro quanto de fora.

- Rapaz, estamos admiradas (elas estavam caidinhas, tavam no papo, caíram de boca aberta). Quanto custou?

- Bem, é um trabalho de mestrado, os professores acompanharam e tudo, mas nós que fizemos, tivemos a ideia de reproduzir antigos cantores, dançarinos, artistas, toda a gente das tecnartes. Não sabemos quanto custou, é material do laboratório. Pensamos em alugar para festinhas de aniversário, casamento, todo tipo de show. Se o Elvis convenceu faremos muito mais, não é?

Mariana olhou para Clarice, que olhou de volta estupefata (são esses dois, vamos pegar pra nós).

- Você trabalham numa indústria de robôs?

- Certíssimo, Robotrom.

- A Robotrom, AQUELA Robotrom?

- Não existe outra.

Nesse instante Elvis tinha descido à terra para dar autógrafos.

- Vamos prum barzinho?

-Vambora.
Serra, domingo, 05 de fevereiro de 2012.

Pró-vocação


 

Tem gente que tem vocação, enquanto outros não têm.

É dom.

Os americanos dizem gift, presente, dádiva.

Nem que seja para o mal, têm.

Teve a mulher que saiu do outro lado da rua de bicicleta, eu sentado na esquina com o labrador, encostou-se à gente e começou a gritar: “segura esse cachorro, segura esse cachorro que ele vai me morder”.

Teve o velho que veio de longe, por trás, o cachorro pulou porque queria brincar e ele: “se esse cachorro tivesse me mordido eu iria te processar”.

Teve o sujeitinho na padaria.

SUJEITINHO (chegando a mim, vindo do nada) – foi você mesmo.

EU – eu o quê?

SUJEITINHO – foi você que brigou comigo e minha mulher no ônibus.

EU – nem te conheço. Primeiro que não sou disso, segundo que seria errado proceder assim.

SUJEITINHO – você deu uma carteirada na gente.

EU – eu, não.

SUJEITINHO – foi, sim, no ônibus.

EU – fui de seletivo de manhã bem cedo.

SUJEITINHO – foi nesse mesmo, que passou por Manguinhos.

EU – não, o meu passou por Laranjeiras.

SUJEITINHO – foi você sim (e foi embora furioso).

É dom.

Dom do Capeta.

A gente pensa que é só Deus que dá dons, mas pode ser que o Cão também faça isso. Gente implicante, que vive para implicar, gente que fura fila sem a menor consideração, gente que provoca guerras e conflitos, que rouba, que furta, que bate em mulher e criança, que trai, todo tipo de gente. Já nasce assim com essa praga ou adquire durante a vida? É uma espécie de vírus? Será que aprimoram a capacidade de provocar?

É vocação?

Teve um que passou por mim na praia e disse que meus amigos estavam esperando na mesa (estava chuvoso, com garoa na beira-mar) e lá estavam os caramujos. Tem os que tocam a campainha da casa, só para te deslocar de onde você estiver (já estão desenvolvendo a maldade desde pequenos).

Não sei se alguém já se interessou em coletar casos, iam chover através da Internet.

Nada tira da minha cabeça que é vocação.
Serra, sábado, 10 de março de 2012.

Propa-grande Engan-Nós


 

Teve um xereta muito malcriado que estamos tratando de perseguir que fez um livro, aliás, cuidadoso (nunca pensei que o Jonas estava naquela das propinas da fábrica de aviões, puta merda, ele negava sempre, nem me deu uma boquinha, sacana, corno).

Jornalista safado.

Ele pegou os discursos que a gente faz (o filho da puta pegou dos mais recentes 30 anos; na realidade eu queria que ele tivesse pegado mais tempo, ri muito vendo o primarismo, o primitivismo dos companheiros de antigamente – o fato é que viemos emprestar elegância e grandeza ao processo, os novos devem muito a nós, devíamos instituir o prêmio Corrupião Corrupto, seria preciso entregar em surdina e não daria para laurear todo mundo, no máximo 100 por ano, sem choro nem vela) ANTES DAS ELEIÇÕES e comparou metodicamente com o que realizamos DEPOIS DAS ELEIÇÕES (quem começou isso foi o Juruna).

Criou uma PAUTA DE ESCÂNDALOS.

Eu apareço em 12 ou 13, até esqueci o número, mas comparado com os outros é pouca coisa, pensei que estava baixando o sarrafo, mas fui ver que era filhote.

Plotou tudo, vê se pode?!

Em Excel e PowerPoint, fez slides, um horror.

A imprensa deitou e rolou, claro, vamos ter de gastar uma baba do fundo de reserva para emergências.

Disse que é propaganda enganosa dos parlamentares todos, de vereadores a senadores, de governantes, menos de juízes porque estes não são eleitos. Se fosse em papel não dava para acomodar todo mundo, mais de 50 mil contemplados (nem eu sabia que eram tantos; e mesmo assim só de um milhão para cima). E o filho de uma égua indexou todo mundo, de modo que se você digitar J Sarninha 285 dá toda a árvore de ligações, inclusive comigo. TODOS OS LINKS estou te dizendo. Claro, TODOS. De mais a mais, dá as aplicações alternativas: quantos hospitais, escolas, estradas, tratamentos dentários, casas para os miseráveis, proteção de encostas, tenho de admirar o safado, porque foi uma trabalheira do cão. Se tivéssemos esse cara do nosso lado... Na realidade, não sei quanto tempo ele vai durar, vão pegar ele, sem dúvida, eu mesmo dei uns trocados.

Digamos, você pega Lulambão 88, mostra tudo o que poderia ter sido feito com dinheiro desviado, alternativamente, claro: ou tantas escolas ou tantas recuperações de dependentes, etc.

Você tá vendo? O Ministério Público vai imprimir sete milhões de cópias para as escolas e vai incluir no currículo Proteção do Cidadão Votante, vai iniciar campanha pelo Voto Consciente e vai usar a Ficha Limpa a torto e a direito. Tá muito difícil. Vou eu lá saber o que prometi há 18 anos? Por acaso sou responsável pelo que falo?
Serra, sexta-feira, 09 de março de 2012.

Projeto Arcanjo

 

                        Os trabalhadores estavam escavando para construir um túnel ferroviário na cidade paulista de Araraquara e depararam dentro da montanha, cravada no granito, o que parecia uma placa metálica arredondada. Chamaram os engenheiros, que chamaram a direção da companhia, que chamou o pessoal da USP.

                        O pessoal da USP, os geólogos Marcelo e Débora, rindo, foram lá ver de perto o “fenômeno”. Pediram para escavar mais, apareceu mais metal. Dataram as rochas, mais de 1,3 bilhão de anos. Gozação dos operários não poderia ser, eles não teriam imaginação para isso, coisa muito elaborada para eles. Alunos, gozadores, mas como iriam colocar metal dentro da rocha? Tudo era muito intrigante. Escavaram mais, acharam mais metal. Como foi na presença dele e em rocha duríssima, acreditaram, ficaram com a pulga atrás da orelha. Foi juntando gente, chegaram outros geólogos, físicos, a reitoria tomou ciência.

O prefeito, querendo chamar atenção para a cidade, fez vazar a notícia para a imprensa, que foi lá e fotografou. O governador foi informado e se afastou do protocolo para ir dentro do túnel tocar o metal.

                        Houve estardalhaço, o executivo federal enviou gente. O Exército acampou em volta do túnel, a área foi interditada, proibida terminantemente. Criou-se uma redoma em volta, com vários hectares de cobertura. Nisso a imprensa nacional toda tinha se apresentado e a coisa vazara internacionalmente. O túnel já tinha sido desviado vários quilômetros, prosseguindo acolá.

                        A escavação continuou.

                        Mais metal foi aparecendo. A tecnociência mundial mais ativa foi trazida, a ONU se interpôs, os governos brasileiro e paulista ficaram ofendidos, a ONU se desculpou. Fizeram mais análises descrentes, sempre com a mesma conclusão, até que lá pela trigésima pararam de vez, sempre com a mesma conclusão inelutável: 1,3 bilhão de anos +/- 50 milhões. Os jornais e as rádios mundiais só falavam disso.

                        A área exposta de metal tinha aumentado muito e para grande surpresa manifestou-se um dedo, imenso dedo de mão de três dedos. Foi ficando claro tratar-se de gigantesca criatura num buraco já com mais de 200 metros de profundidade.

O mundo estava siderado, espantadíssimo.

Considerações as mais extravagantes tinham surgido.

Era Deus? Em todo caso não era antropóide, para grande decepção de alguns. Com certeza mais jovem que a Vida, que na Terra tinha 3,8 bilhões de anos, mas muito mais velho que a Explosão Cambriana de 600 milhões. Se impunha, evidentemente, haver vida noutros lugares do universo. É claro. Grande alívio de uns, porque não éramos os únicos, decepção de outros, porque não éramos os únicos.

Vá entender o ser humano!

Compreensíveis os primeiros, claro, se fôssemos os únicos teríamos uma importância tremenda e Deus não nos deixaria desaparecer, cuidaria de nós, por sermos filhos únicos. Não sendo, estávamos por conta do Abreu, se ele não proteger nem eu.

                        Trezentos e cinqüenta metros na vertical a escavação parou. Custara muito e os acampamentos em volta tinham se expandido desmesuradamente. Vinha gente de todo lugar, mas o interesse fora da comunidade científica diminuíra consideravelmente, porque tudo cansa. O povo voltara às novelas e aos escândalos, os políticos clamavam por verbas a aplicar e faturar no caixa dois.

Alguns abusados pediam dinheiro para “se defender da ameaça extraterrestre”, imagine só! Pois se durante 1,3 bilhão de anos não sofrera a Terra ameaça nenhuma em virtude daquele ser, iria sofrer agora? Contudo, o povo é crédulo e alguns vereadores votaram verbas de “defesa estratégica”. O que viria a ser isso?

                        A criatura não estava na horizontal nem na vertical. Seria aquilo uma prisão? Teria sido encarcerado? Seria um bandido perigoso que os “deuses” da Galáxia tinham misteriosamente enjaulado debaixo da Terra? As hipóteses choviam. Os cientistas tentaram extrair pequenas lascas para análise, mas o metal se recusava a ser sequer arranhado. Também! Para resistir à temperatura do manto onde estivera de início, devia ser muito resistente. E toda aquela pressão do granito em volta?

                        Em todo caso, tinha 527 metros de comprimento por 122 metros de largura. Não se parecida nada com qualquer criatura da Terra, nem de longe. Araraquara tornara-se conhecida no mundo inteiro. Um nome que em português já é difícil de falar, em algumas línguas tornara-se motivo de riso freqüente. Os nativos aproveitaram a onda para lucrar com o turismo e dezenas de construções apareceram em volta, visando aproveitar o fluxo de turistas, que só fazia crescer. Os hotéis da cidade viviam abarrotados.

As cidades da vizinhança aproveitaram a deixa.

                        Proporcionalmente a criatura era mais comprida que larga, em relação aos humanos. Não respirava, não se movia, não fazia absolutamente coisa nenhuma. Colocando aparelhos em toda parte os cientistas puderam medir ondas que pulsavam uma vez a cada duas semanas.

Estava vivo.

Mas o que eram 1.300 milhões de anos?

Não há como medir, está fora de qualquer concepção humana.

Se é que se podia falar de coração, o daquele ente estava pulsando na mesma ordem de grandeza da existência da Terra. Uns pediam silêncio em volta, com medo do seu despertar, mas era tolice, porque a Terra como um todo fazia muito mais barulho do que a humanidade conjuntamente poderia fazer.

                        Passaram-se as décadas, a humanidade continuou a se desenvolver, alcançando níveis inimagináveis antes. A própria presença de criatura tão gigantesca foi motivo para acentuado crescimento geral. Mas ela não dava qualquer sinal. Seria o demônio? Seria um anjo? Talvez fosse um arcanjo. Arcanjos teriam tais dimensões? Como uma criatura assim poderia viver? Nenhum ser pode ter essas medidas, diziam as leis da Física, e funcionar.

Embora não tivessem conseguido nem arranhar o corpo nem conseguir nenhuma informação dessa mente, que deveria ser extraordinária, a simples presença do “anjo” favorecera tremendamente a tecnociência terrestre e todo o conhecimento. “Do nada” a Terra deu um salto rumo ao espaço, desenvolveu-se séculos em décadas e continuou a acumulação exponencial.

Ao longo dos milênios seguintes foi viver em cidades espaciais, dali saiu do sistema solar, a Terra foi recuperada da devastação milenar da ecologia, parte da Vida (fungos, plantas, animais e primatas) ficou, parte foi junto, o planeta tornou-se um Éden novamente, a humanidade o abandonou totalmente, porque os corpos foram modificados pelos novos ambientes em gravidade zeta (γς, gama-zeta, gravidade perto de zero) e não conseguiam mais funcionar a 1,0 G.

Quando a humanidade foi embora as pedras foram reconstituídas em volta do ser e ele voltou à mesma posição de quando fora descoberto. Não que as pedras servissem para algo mais que ocultar dos olhares. Todos os objetos humanos da Terra desapareceram.

Lúcifer estava condenado há muito tempo e seus seguidores confinados em outros tantos mundos pelas galáxias.

Deus não esquece as ofensas.

Serra, quarta-feira, 08 de fevereiro de 2012.