sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Pró-vocação


 

Tem gente que tem vocação, enquanto outros não têm.

É dom.

Os americanos dizem gift, presente, dádiva.

Nem que seja para o mal, têm.

Teve a mulher que saiu do outro lado da rua de bicicleta, eu sentado na esquina com o labrador, encostou-se à gente e começou a gritar: “segura esse cachorro, segura esse cachorro que ele vai me morder”.

Teve o velho que veio de longe, por trás, o cachorro pulou porque queria brincar e ele: “se esse cachorro tivesse me mordido eu iria te processar”.

Teve o sujeitinho na padaria.

SUJEITINHO (chegando a mim, vindo do nada) – foi você mesmo.

EU – eu o quê?

SUJEITINHO – foi você que brigou comigo e minha mulher no ônibus.

EU – nem te conheço. Primeiro que não sou disso, segundo que seria errado proceder assim.

SUJEITINHO – você deu uma carteirada na gente.

EU – eu, não.

SUJEITINHO – foi, sim, no ônibus.

EU – fui de seletivo de manhã bem cedo.

SUJEITINHO – foi nesse mesmo, que passou por Manguinhos.

EU – não, o meu passou por Laranjeiras.

SUJEITINHO – foi você sim (e foi embora furioso).

É dom.

Dom do Capeta.

A gente pensa que é só Deus que dá dons, mas pode ser que o Cão também faça isso. Gente implicante, que vive para implicar, gente que fura fila sem a menor consideração, gente que provoca guerras e conflitos, que rouba, que furta, que bate em mulher e criança, que trai, todo tipo de gente. Já nasce assim com essa praga ou adquire durante a vida? É uma espécie de vírus? Será que aprimoram a capacidade de provocar?

É vocação?

Teve um que passou por mim na praia e disse que meus amigos estavam esperando na mesa (estava chuvoso, com garoa na beira-mar) e lá estavam os caramujos. Tem os que tocam a campainha da casa, só para te deslocar de onde você estiver (já estão desenvolvendo a maldade desde pequenos).

Não sei se alguém já se interessou em coletar casos, iam chover através da Internet.

Nada tira da minha cabeça que é vocação.
Serra, sábado, 10 de março de 2012.

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