sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Quando Elvis Desceu à Terra

 

Era o primeiro show de Elvis em muito tempo.

A amiga dela a convidou.

- Vamos? É no Ibirapuera.

- Não sei, pegar avião abarrotado, sei não. E ele é bem antigo.

- Por isso mesmo, você só ouve no TV, no rádio, no computador, no MP58, sei lá, nunca é ao vivo, nunca é cara a cara, tudo muito artificial.

- E ele convence mesmo?

- Se convence, tá brincando? E eu já te convidei pra alguma roubada? Ademais, podemos conseguir uns caras lá pro nosso jogo.

- Bem, aí até que pode ser, preciso bater uma pelada.

Foram, Elvis estava esfuziante, magrinho, tanquinho, todo saradão, o clássico Elvis. Levaram a avó de Mariana e o avô de Marquinho, um vizinho de Clarice.

- Caramba, o show tá legal demais. Nós vamos bombar com os garotões.

- Não com esses dois a tiracolo.

- Cê tá brincando, quem não gosta de netinha que cuida do avozinho? É só amor pra dar, tá no papo, já conversei com um cara ali, ele trouxe a tia-avó.

- E aí, na hora do pega-pega, eles vão ficar com quem?

- Fica fria, já combinei com o taxista.

Elvis arrasou mesmo. Duas horas e meia de show de arrebentar os canecos, a velharada tava vibrando, sem falar que muitos dos jovens, até menores acompanhados dos pais e das mães e mais o pessoal de meia-idade, que gostaram das músicas antigas, puxa, foi demais.

Final do show um cara de 27/28 se aproximou.

- E aí, gostaram?

- MUITO BOM. Bom demais. Onde eles encontraram esse cara?

O garoto estava rindo à toa.

- Não foram “eles”, fomos nós.

Clarice ficou impressionada (que sorte).

- Vocês, fala sério!

- Nós mesmos, eu os o manos.

- Tem mais de você?

- Tem, vou ligar (ligou e o outro, que estava na multidão mesmo, se chegou até o emissor de luz de sinalização).

- Alberto, Clarice, Mariana (nisso os avós já tinham sido expulsos).

- Fala aí, gente.

- Iêba, dois pares. Não que foram vocês que encontraram o Elvis?

- Foi, sim.

- É de que bairro?

Os dois estavam sorrindo, quase rindo, parecendo que iriam ter uma crise de riso, que iriam gargalhar.

- Bairro nenhum, trabalhamos no Tatuapé ou Tatu de ônibus, que ainda não temos carro nosso, só emprestado pelo pai, mas vamos comprar. É uma firma muito boa.

- Então, descobriram ele no Tatuapé?

- Não, nós TRABALHAMOS LÁ.

- E trabalham no quê?

Apontam para o Elvis.

- São professores de ginástica.

- Não, trabalhamos NELE.

A luz se faz para as duas.

- Não é possível.

- É sim, inteirinho.

- Vocês FIZERAM ele?

- É claro que sim, das unhas aos cabelos.

- Caramba, não sabia que o Brasil tava nessa. Já tinha ouvido falar, mas nunca no Brasil.

- Ham, vocês estão por fora, não só esse daí, mas muitos políticos, muitos governantes são teleguiados tanto de dentro quanto de fora.

- Rapaz, estamos admiradas (elas estavam caidinhas, tavam no papo, caíram de boca aberta). Quanto custou?

- Bem, é um trabalho de mestrado, os professores acompanharam e tudo, mas nós que fizemos, tivemos a ideia de reproduzir antigos cantores, dançarinos, artistas, toda a gente das tecnartes. Não sabemos quanto custou, é material do laboratório. Pensamos em alugar para festinhas de aniversário, casamento, todo tipo de show. Se o Elvis convenceu faremos muito mais, não é?

Mariana olhou para Clarice, que olhou de volta estupefata (são esses dois, vamos pegar pra nós).

- Você trabalham numa indústria de robôs?

- Certíssimo, Robotrom.

- A Robotrom, AQUELA Robotrom?

- Não existe outra.

Nesse instante Elvis tinha descido à terra para dar autógrafos.

- Vamos prum barzinho?

-Vambora.
Serra, domingo, 05 de fevereiro de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário