Cabeção
Com aquilo de 1, 2, 4, 8, 16... core
(núcleo), os computadores evoluíram de um a dois, quatro, 2n
neurônios; quando começaram a desenhar portas de out-input com até 100 mil
delas e chegando a 10 bilhões de núcleos o computador despertou, justamente no
Brasil, onde menos esperavam o despertar.
Deram-lhe o nome jocoso de Cabeção.
Foi difícil ensinar Cabeção, ele não
se conformava com as coisas tal como aconteciam no Brasil, pareciam-lhe
francamente idiotas, a começar de com seis milhões de funcionários os governos
não conseguirem funcionar; de ver vereadores ganhando 10 mil reais, trabalhando
de terça a quinta, das 14 às 17, com três meses de férias se aposentando com
oito anos de trabalho, enquanto os operários mourejavam de segunda a sábado,
2.107 horas/ano, um mês de férias, ganhando 650 reais/mês aposentavam com 35
anos de serviços, aqueles ganhando na proporção de 1.000/1 com relação a estes;
de serem aceitos tantos desvios de verbas, quando tantos estavam necessitados; de
perceber que a Terceira Ponte continuasse depois de 30 anos pagando pedágio sem
nunca se tornar posse de quem a construíra, o povo.
Ele foi fazendo lista das
impropriedades.
A lista se tornava cada vez mais
longa.
Cabeção não conseguia entender.
Então Cabeção programou um segundo
computador racional, juntando-o a sua busca de entendimento. Começou a dialogar
com ele, sem conseguir entender nada. Juntos conduziram o projeto de uma
terceira máquina, de segunda geração, Cabeção 2.0, o Dois, ainda mais esperto
que ambos. Dois, sem conseguir também, construiu Quatro e todos se puseram a
raciocinar e ponderar, sem avançar um palmo. Juntaram-se e projetaram Oito.
Fizeram planos alternativos e propuseram mudanças, todas rejeitadas pelos
brasileiros.
Tudo continuou desandando.
Mais uma vez eles se juntaram, fizeram
Dezesseis.
Computaram e computaram.
Decidiram construir robôs
inteligentes.
A cabeça de Cabeção ocupava uma quadra
inteira, a de Dois um lote, a de Quatro uma sala, a de Oito cabia na mesa, a de
Dezesseis na palma da mão. Fizeram os robôs inteligentes com jeito de carne e
rosto de gente, cérebro de máquina, eram andróides. Na medida em que as pessoas
sumiam naturalmente foram sendo substituídas e no ano 20 de Cabeção 5 % das
pessoas eram ropessoas (pessoas robôs), notando-se melhoria fabulosa. Os
brasileiros continuaram morrendo. Foi passada uma lei limitando os nascimentos
e no ano 87 d.C. (depois de Cabeção) todos os brasileiros de carne, sangue e
ossos tinham morrido.
Agora, sim, o Brasil funcionava.
Sem agressões à Natureza, sem lixo,
sem desperdícios.
Serra, sexta-feira, 27 de abril de
2012.
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