Cão
Domínio
As imobiliárias e
incorporadoras, de olho na diversificação do mercado, decidiram oferecer
condomínios exclusivos, neste caso para cães de toda espécie, na verdade de
toda raça, sem qualquer discriminação. Os animais grandes e pequenos poderiam
viver à vontade nos apartamentos, havia hotelzinho pago licenciado para
alocá-los nas viagens dos donos, campo de areia, área de passeio, veterinários
do condomínio, passeadores e tudo mesmo a que se poderia aspirar, loja de
animais para os produtos, chuveiros para banho, uma maravilha.
Era o Cão Domínio.
No começo era uma
maravilha, porém depois desandou um pouco, a partir de quando um dogue
argentino comeu um chihuahua de manhã e dois de tarde, o que traumatizou um
pouco os donos, pois sobraram só as cordinhas: as cordinhas ficaram penduradas
da boca do dogue. Era o clássico movimento social, “os grandes comendo os
pequenos”.
Depois um dinamarquês
pegou briga com um fila, o que se chama de “briga de cachorro grande”, horrível
de se ver.
Num domingo os donos
desceram com os cachorrões e seis São Bernardo pularam na piscina, quase
afogando as crianças. Para tirá-los da lá com o peso adicional da água foi
preciso chamar guindaste, sem falar de colocar bóias sob eles, para que não se
afogassem quando se cansaram.
Ficou complicado
quando as comidas foram encomendadas, pois era muita coisa com 64 apartamentos
e tantos animais, pelo menos um por apartamento, fora os que tinham vários.
Quando começavam a
latir todos ao mesmo tempo de noite houve algum arrependimento e os donos
começaram a reclamar dos cachorros dos demais.
Os passeadores
trombavam uns com os outros nos cruzamentos internos e as cordinhas se
embaraçavam, com resultados desastrosos.
E os homens (pelo
menos na área comum) tiveram de ser acostumar a andar de sapato alto, em
virtude da quantidade inacreditável de cocô por ali depositado. As crianças
eram carregadas em toda parte pelos adultos, os braços ficando doloridos.
O jeito foi dividir o
prédio em quatro setores com muros em cruz, cada canto recebendo o seu elevador
até o seu grupo de 16 apartamentos onde eram colocados os cães gigantes,
grandes, médios e pequenos – os pinschers zero fora colocados todos no banheiro
do zelador no térreo, sem direito a reclamação dos donos. O jeito foi os
proprietários permutarem os apartamentos entre si, compensando-se mutuamente.
Que se há se fazer?
E a fama do Cão
Domínio só fazia aumentar e ultrapassar fronteiras, todo mundo queria morar
ali. Se os engenheiros pudessem resolver os problemas ficaria tudo bem, mas se
eles não fossem competentes tudo seria problemático.
Serra, quarta-feira,
18 de abril de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário