domingo, 28 de outubro de 2018


Cão Domínio

 

As imobiliárias e incorporadoras, de olho na diversificação do mercado, decidiram oferecer condomínios exclusivos, neste caso para cães de toda espécie, na verdade de toda raça, sem qualquer discriminação. Os animais grandes e pequenos poderiam viver à vontade nos apartamentos, havia hotelzinho pago licenciado para alocá-los nas viagens dos donos, campo de areia, área de passeio, veterinários do condomínio, passeadores e tudo mesmo a que se poderia aspirar, loja de animais para os produtos, chuveiros para banho, uma maravilha.

Era o Cão Domínio.

No começo era uma maravilha, porém depois desandou um pouco, a partir de quando um dogue argentino comeu um chihuahua de manhã e dois de tarde, o que traumatizou um pouco os donos, pois sobraram só as cordinhas: as cordinhas ficaram penduradas da boca do dogue. Era o clássico movimento social, “os grandes comendo os pequenos”.

Depois um dinamarquês pegou briga com um fila, o que se chama de “briga de cachorro grande”, horrível de se ver.

Num domingo os donos desceram com os cachorrões e seis São Bernardo pularam na piscina, quase afogando as crianças. Para tirá-los da lá com o peso adicional da água foi preciso chamar guindaste, sem falar de colocar bóias sob eles, para que não se afogassem quando se cansaram.

Ficou complicado quando as comidas foram encomendadas, pois era muita coisa com 64 apartamentos e tantos animais, pelo menos um por apartamento, fora os que tinham vários.

Quando começavam a latir todos ao mesmo tempo de noite houve algum arrependimento e os donos começaram a reclamar dos cachorros dos demais.

Os passeadores trombavam uns com os outros nos cruzamentos internos e as cordinhas se embaraçavam, com resultados desastrosos.

E os homens (pelo menos na área comum) tiveram de ser acostumar a andar de sapato alto, em virtude da quantidade inacreditável de cocô por ali depositado. As crianças eram carregadas em toda parte pelos adultos, os braços ficando doloridos.

O jeito foi dividir o prédio em quatro setores com muros em cruz, cada canto recebendo o seu elevador até o seu grupo de 16 apartamentos onde eram colocados os cães gigantes, grandes, médios e pequenos – os pinschers zero fora colocados todos no banheiro do zelador no térreo, sem direito a reclamação dos donos. O jeito foi os proprietários permutarem os apartamentos entre si, compensando-se mutuamente. Que se há se fazer?

E a fama do Cão Domínio só fazia aumentar e ultrapassar fronteiras, todo mundo queria morar ali. Se os engenheiros pudessem resolver os problemas ficaria tudo bem, mas se eles não fossem competentes tudo seria problemático.

Serra, quarta-feira, 18 de abril de 2012.

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