terça-feira, 30 de outubro de 2018


Porque os Homens não Choram

 

Desde quanto os deputados tinham passado a Lei da Plena Igualdade dos Gêneros (como o Brasil gosta de siglas, LEPIGE) homens tinham plena liberdade de chorar em toda e qualquer situação. Na realidade eram até obrigados, dado as mulheres chorarem.

Assim liberados, os homens não choravam apenas nas guerras, inviabilizando-as (pois ninguém mais conseguia disparar, era contagioso, viam-se homens chorando desbragadamente por todo e qualquer motivo, de disparar até limpar e lubrificar as armas; sargentões choravam, era desesperador), choravam nas lutas de boxe - cada boxeador no seu canto debulhando-se nos baldes. Pedreiros choravam se o reboco não colava direito ou se um azulejo despencava, choravam em razão de tijolos rombos ou lajotas com pedaços quebrados. Os lanterneiros na montagem de navios choravam se viam uma chapa amassada, tadinha dela, sofrera tanto.

Deputados na tribuna choravam e não era por vergonha dos mal-feitos. Motoristas de ônibus estavam sempre com os olhos embaçados, sujeitos a muito mais batidas de ônibus. E se qualquer mulher chorava perto do marido este também se punha a chorar, desconsolado, sem saber como resolver os problemas do lar. Pedir para trocar uma lâmpada era pedir para qualquer homem desmontar. Consertar torneira vazando, então, nem pensar!

Se um cisco entrasse no olho de um gari e caísse uma lágrima em razão disso, era a conta, os outros todos se punham a chorar, pensando nas suas tragédias.

Nos supermercados as frutas amassadas causavam transtornos.

Se a roupa estava malpassada, choro.

Na hora de tomar vacina, choro.

Se o cachorro adoecia, choro.

Em suma, o país não avançava mais.

Por toda parte os homens choravam e as mulheres caíram no choro. Crianças, vendo pais e mães chorando, choravam desde o berço e com empolgação, pois pensavam tratar-se de brincadeira.

CHORORÔ

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Descrição: Os homens também choram
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Os homens não eram mais os esteios definitivos que tinham de ser, que tinham sido geração após geração.

Eles choravam.

As mulheres, vendo-se sem o “ombro amigo”, sem o irredutível, sem o forte, fizeram um panelaço com grande estardalhaço que a imprensa estrangeira noticiou. Os governos estrangeiros, temendo o exemplo brasileiro, isolaram o país, puseram-no de quarentena, acreditando ser uma epidemia.

O jeito foi, com grande choradeira, abolir a LEPIGE.

Serra, quarta-feira, 02 de maio de 2012.

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