Porque
os Homens não Choram
Desde quanto os
deputados tinham passado a Lei da Plena Igualdade dos Gêneros (como o Brasil
gosta de siglas, LEPIGE) homens tinham plena liberdade de chorar em toda e
qualquer situação. Na realidade eram até obrigados, dado as mulheres chorarem.
Assim liberados, os
homens não choravam apenas nas guerras, inviabilizando-as (pois ninguém mais
conseguia disparar, era contagioso, viam-se homens chorando desbragadamente por
todo e qualquer motivo, de disparar até limpar e lubrificar as armas; sargentões
choravam, era desesperador), choravam nas lutas de boxe - cada boxeador no seu
canto debulhando-se nos baldes. Pedreiros choravam se o reboco não colava
direito ou se um azulejo despencava, choravam em razão de tijolos rombos ou
lajotas com pedaços quebrados. Os lanterneiros na montagem de navios choravam
se viam uma chapa amassada, tadinha dela, sofrera tanto.
Deputados na tribuna
choravam e não era por vergonha dos mal-feitos. Motoristas de ônibus estavam
sempre com os olhos embaçados, sujeitos a muito mais batidas de ônibus. E se
qualquer mulher chorava perto do marido este também se punha a chorar,
desconsolado, sem saber como resolver os problemas do lar. Pedir para trocar
uma lâmpada era pedir para qualquer homem desmontar. Consertar torneira
vazando, então, nem pensar!
Se um cisco entrasse
no olho de um gari e caísse uma lágrima em razão disso, era a conta, os outros
todos se punham a chorar, pensando nas suas tragédias.
Nos supermercados as
frutas amassadas causavam transtornos.
Se a roupa estava malpassada,
choro.
Na hora de tomar
vacina, choro.
Se o cachorro
adoecia, choro.
Em suma, o país não
avançava mais.
Por toda parte os
homens choravam e as mulheres caíram no choro. Crianças, vendo pais e mães
chorando, choravam desde o berço e com empolgação, pois pensavam tratar-se de
brincadeira.
CHORORÔ
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Os homens não eram
mais os esteios definitivos que tinham de ser, que tinham sido geração após
geração.
Eles choravam.
As mulheres, vendo-se
sem o “ombro amigo”, sem o irredutível, sem o forte, fizeram um panelaço com
grande estardalhaço que a imprensa estrangeira noticiou. Os governos
estrangeiros, temendo o exemplo brasileiro, isolaram o país, puseram-no de
quarentena, acreditando ser uma epidemia.
O jeito foi, com
grande choradeira, abolir a LEPIGE.
Serra, quarta-feira,
02 de maio de 2012.
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