Doutor
Kong
Ele era doutor porque
tinha doutorado, trabalhava na KUFES.
Era negro imenso,
mais de 2,30 m e casou-se com loura pequenina de 1,59 m e olhos azuis.
Muito carinhoso, ele
a pegava debaixo do braço e subia a torre que construíra junto à casa, bem
alta, destinada ao observatório amador que tinha. Sabe o cometa KK2001B? Foi
ele quem descobriu. Deram também o nome dele a vários asteróides.
Ficavam ele e a
esposa lá em cima olhando as estrelas, sentados em cadeiras de balanço,
embevecidos um com a outra.
Eram muito queridos
na comunidade, ele muito atencioso e dedicado às pessoas, gostava demais da
mãe, ia visitá-la, convidara-a a morar com eles, mas a velhinha resistiu. Era
um daqueles vindo da pobreza, sempre muito atencioso. Por causa do filme chamavam-no
King Kong, o rei Kong, pois o pai era chinês, a mãe é que era negra.
Era professor de
astronomia na KUFES, cuidava do observatório astronômico, publicava em várias
revistas internacionais, tinha acesso ao Hubble (dentro da reserva protocolar,
que era ínfima em tempo), trabalhara em Palomar e no Chile, em Flagstaff e em
outros observatórios.
Pois bem, uns garotos
por perto tinham uns aviões de controle remoto que ficavam fazendo rodear a
torre, fazendo barulho e incomodando o doutor Kong em suas observações. Ele
pediu com jeito, com a educação que lhe era característica. Os garotos
continuaram, aquela barulheira horrível em momentos que exigiam muita atenção para
olhar o céu, fotografar, observar as chapas visando distinguir mudanças mínimas.
Algoritmos e computadores, família para cuidar, comprar no supermercado e nas
lojas e pagar, namoro com a esposa, aulas na universidade, escrever os textos,
corrigir, uma trabalheira danada, muito ocupado o tempo dele.
E os garotos
infernizando.
Dia após dia, infernizando
o pobre doutor.
O doutor foi ficando
nervoso, a esposa miudinha tentando acalmá-lo; ela foi delicadamente falar com
os pais e as mães, não deram bola.
Deram queixa na
polícia, parou.
Voltou o inferno, o
doutor foi ficando bravo, xingou, as crianças davam rasante, os aviões tiravam
fino, o doutor fazia gestos com os braços, um dia subiu no parapeito e deu um
tapa num que passou muito perto e se espatifou.
Caiu o doutor.
Foi uma tragédia, a
comunidade chorou, os pais e as mães quebraram os aviões tarde demais, foi uma
perda extraordinária. É nisso que dá a permissividade.
Serra, sexta-feira,
04 de maio de 2012.
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