domingo, 28 de outubro de 2018


Egológica

 

Aqueles dois decidiram se assumir e assumir os outros no bom sentido: por quê não anunciar abertamente o EGO? Por quê não afirmar abertamente a função libertadora do EGO, EGO, EGO?

Não é eco, É EGO, com G, grande G.

Pois os grandes egos não ecoam, eles existem por si, como o Sol, que “brilha por si”, como já diz a música.

Por quê ser modestinho?

Por quê ser simplesinho?

Colocaram uma loja, que não era imitação da EGOTRIP, esta de viagens de turismo de inflação do ego.

Era uma escola de psicologia, devidamente fincada nos grandes pensadores dela e da psicanálise. Freud, Rogers, Lacan, Jung, Reich, todos os grandes, mas tudo distorcido. Por quê não? Claro que sim, pois era a festa do ego.

Que razão teríamos para simplificar?

Pela LÓGICA DO EGO, pela DIALÉTICA DO EGO, pela DIALÓGICA DO EGO toda a super-afirmação de si é possível, chega dessa patifaria de modéstia e de hipocrisia. O altruísmo era anátema. Que outro, Mané outro, sai pra lá, bando de otários.

Para quê gastar vela com defunto ruim? Para quê ajudar o próximo? Logo para começar anatematizaram os iluminados, os santos/sábios, os estadistas e todos aqueles bobocas que trabalhavam pelos (eca) outros.

Afinal de contas, o público era imenso, a grande  , GRANDE maioria da humanidade, quase todos, só sobrava um tiquinho, um nadica de merda.

Fundaram o PARTIDEU, o partido-do-eu (não colocaram partideco porque iria parecer “pequeno partido” e isso eles não tolerariam). Nossa, iria chover partidário, muita gente se inscrevendo, a começar pelos políticos do Legislativo, pelos governantes do Executivo, pelos juízes do Judiciário, pelos empresários e tantos outros.

Entre o planejamento e a realidade vai uma grande distância.

O fato é que se quase todos eram egoístas, super-afirmadores do ego, mais ainda gostavam de parecer o contrário, como na propaganda; gostavam de ocultar, porque os egoístas eram ladrões e não faziam propaganda de si e dos seus métodos. Ficariam expostos, seriam vigiados, se tornariam menos eficazes e mais controlados – todos se veriam mutuamente como egoístas e tomariam precauções, tornando-se menos atingíveis.

A loja dos dois rapazes foi um fracasso.

Nenhum ladrão coloca placa dizendo que vai roubar (exceto as prefeituras, a isso obrigadas pela lei, aquelas placas de 5,0 milhões por obra de píer que não vale nem 500 mil). O egoísta é um ladrão que se justifica, que racionaliza, que diz “preciso fazer isso em nome daquilo”.

Deram com os egoístas n’água.

Serra, quarta-feira, 02 de maio de 2012.

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