Versificação
Versific/ação, o ato
permanente de versificar.
Mirando-se no doutor
de Lamare, o professor universitário fez ampla pesquisa sobre “adolescente diz
cada uma” e depois “universitário diz cada uma”, juntando as bobeiras que ambos
os grupos dizem. Claro que não anunciou assim. E também se lembre de que VOCÊ
já foi adolescente e universitário, para ver que muitas coisas boas também são
ditas.
Pois naquela
universidade, não se sabe se do curso de letras, surgiu essa mania da
versi-ficação, sendo “ficar” a arte de encostar-se o rapaz na moça e vice-versa
para aproveitar-se e dar o fora o quanto antes, chupar o picolé e jogar o
palito fora. Chupar a laranja e jogar fora o bagaço. A mesma coisa que se fazia
desde sempre, agora com autorização e beneplácito da coletividade, que achava
engraçadinho, desde que fosse “com os outros”. E acostumaram-se meninas e
garotos a assim proceder.
Só que naquela
universidade espalhou-se a moda de “ficar com os versos” e outros com os
anversos.
Tudo era
versi-ficado.
Para tudo a poesia, a
poesia do ficar, a poesia ia ficando tudo cada vez mais chata. TODO MUNDO fazia
poesia, qualquer um fazia, era um horror, até no Diário Oficial havia poesia. Por
não ser mais necessária a métrica e por o haicai no Brasil ter morrido com Millôr
Fernandes, cada qual achava poder fazer poesia. Todo mundo editava livro de
poesia, era escandaloso. As leis Rubem Braga de Vitória e Chico Prego da Serra
editavam livros de poesia.
Então, eles e elas
versi-ficavam.
Ficavam e ficavam e
ficavam.
Versavam e versavam e
versavam.
Ô chatice!
Aquele professor
explorou essa veia. Nem vou dar o nome dele, pois as pessoas notavam a ironia e
o espancaram na saída da sala de aula uma sexta de noite, queimando os dois
livros dele aos montes, dois montinhos na entrada do IC-4 na TUFES.
Cê acredita que os
universitários versificavam até em literatura de cordel? Foi sim, claro que
foi, guardei os textos, estão lá em casa por trás dos livros de Lênin, que por
sua vez estão escondidos juntos com os de Marx, Mao, Trotsky e Stalin (um dia
eles vão voltar).
A universidade ficou
falada no Brasil inteiro, mas agora paira silêncio sepulcral, o professor teve
três costelas quebradas, e um braço, ninguém sabe e ninguém viu.
Serra, quarta-feira,
02 de maio de 2012.
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