quarta-feira, 31 de outubro de 2018


Versificação

 

Versific/ação, o ato permanente de versificar.

Mirando-se no doutor de Lamare, o professor universitário fez ampla pesquisa sobre “adolescente diz cada uma” e depois “universitário diz cada uma”, juntando as bobeiras que ambos os grupos dizem. Claro que não anunciou assim. E também se lembre de que VOCÊ já foi adolescente e universitário, para ver que muitas coisas boas também são ditas.

Pois naquela universidade, não se sabe se do curso de letras, surgiu essa mania da versi-ficação, sendo “ficar” a arte de encostar-se o rapaz na moça e vice-versa para aproveitar-se e dar o fora o quanto antes, chupar o picolé e jogar o palito fora. Chupar a laranja e jogar fora o bagaço. A mesma coisa que se fazia desde sempre, agora com autorização e beneplácito da coletividade, que achava engraçadinho, desde que fosse “com os outros”. E acostumaram-se meninas e garotos a assim proceder.

Só que naquela universidade espalhou-se a moda de “ficar com os versos” e outros com os anversos.

Tudo era versi-ficado.

Para tudo a poesia, a poesia do ficar, a poesia ia ficando tudo cada vez mais chata. TODO MUNDO fazia poesia, qualquer um fazia, era um horror, até no Diário Oficial havia poesia. Por não ser mais necessária a métrica e por o haicai no Brasil ter morrido com Millôr Fernandes, cada qual achava poder fazer poesia. Todo mundo editava livro de poesia, era escandaloso. As leis Rubem Braga de Vitória e Chico Prego da Serra editavam livros de poesia.

Então, eles e elas versi-ficavam.

Ficavam e ficavam e ficavam.

Versavam e versavam e versavam.

Ô chatice!

Aquele professor explorou essa veia. Nem vou dar o nome dele, pois as pessoas notavam a ironia e o espancaram na saída da sala de aula uma sexta de noite, queimando os dois livros dele aos montes, dois montinhos na entrada do IC-4 na TUFES.

Cê acredita que os universitários versificavam até em literatura de cordel? Foi sim, claro que foi, guardei os textos, estão lá em casa por trás dos livros de Lênin, que por sua vez estão escondidos juntos com os de Marx, Mao, Trotsky e Stalin (um dia eles vão voltar).

A universidade ficou falada no Brasil inteiro, mas agora paira silêncio sepulcral, o professor teve três costelas quebradas, e um braço, ninguém sabe e ninguém viu.

Serra, quarta-feira, 02 de maio de 2012.

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