Psicologia
do Trânsito
Pelo que vou contar
agora você vai ver porque nunca um motorista de ônibus do TRANSCOL (Transporte
Coletivo, ES) vai a psicólogo ou psicanalista.
Nós nos divertimos.
A começar pelas
freadas bruscas, a chamada “freada de arrumação” que empacota os usuários do
sistema, embolando-os junto à roleta ou fazendo-os participar de arranjos
acomodadores.
Depois vem as curvas,
feitas a toda velocidade, a velocidade tangencial empurrando todo mundo para a
esquerda ou a direta (com sorte até cai algum no corredor ou há um monte de
gente resmungando).
Também devemos contar
com deixar algum passageiro no ponto, fazendo com as mãos (dedos unidos para
cima) o sinal de “cheio”; ele fica uma arara. Contudo, isso é perigoso, pois há
alguns sacanas que telefonam para a empresa.
E que delícia é
quando a gente passa junto às poças e espirra água para tudo quanto é lado,
especialmente em cima dos otários que estão nas calçadas. Quando você dá sorte
eles se molham todos e têm de ir para casa trocar de roupa. Há, há, há, é muito
engraçado.
E há os quebra-molas:
você vem correndo e freia, obtendo o efeito de arrumação, sobe no quebra-molas
e acelera o ônibus, a traseira ao passar depressa levantando os passageiros
meio metro nos fundos, na “cozinha”. É hilário. Muito engraçado.
Há aquelas ocasiões
muito raras em que colocam você noutra linha e você aproveita para seguir outro
caminho, os usuários ficando alucinados, “motorista, não é por aí, não”. Hi,
hi, hi, demais da conta.
E quando você vai
correndo, parecendo que vai bater no carro da frente (quando é caminhão é mais
legal), freando no último minuto, a cambada gritando “vai bater, vai bater”.
Puxa, é impagável (mas sei de dois ou três que bateram mesmo e tiveram de pagar
o prejuízo; porisso não é muito aconselhável, é melhor você testar o freio na
garagem).
Também tem o rabear
no trânsito, jogando de um lado para outro, mas isso é bem raro, porque as
condições devem ser logicamente permissíveis, você ter de se justificar (pista
molhada, etc.).
Também tem aquilo de
deixar os respiradouros de teto abertos para molhar os passageiros, mas isso é
coisa de trocador; e sempre tem um patife que fecha, é um horror.
Serra, terça-feira,
08 de maio de 2012.
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