quarta-feira, 31 de outubro de 2018


A Gostosa do Sétimo

 

O Sétimo não tinha esse nome à toa: era o sétimo filho do sétimo filho e segundo as lendas era mago, feiticeiro - ele acreditava nessas coisas. Achava que mexendo as mãos pra lá e pra cá “num passe de mágica” a realidade seria modificada. Era desses que não queriam trabalhar, igual aos ricos.

Ficava mexendo os dedos, era incrível de se ver.

Pensava mesmo que bastavam palavras para alterar tudo. Vai nessa, mermão, acredita nisso! Não vai trabalhar, não, pra você ver.

Bi, bi, bi, bó, bó, bó.

Bó, bó, boboca.

Não vai pegar no trampo, não, não vai agarrar os chifres do touro pra você ver se sai...

Bem, o boboca do Sétimo tinha uma baranga, um tribufu de beiço, uma Raimunda feia de cara e boa de bunda que vou te falar! Como dizer, se você me vir agarrada com mulher feia pode separar que é briga.

ÍNDICES DE QUE VOCÊ DEVE CORRER (fique atento; nem pare para pensar, comece a correr...)

TRIBUFU DE BEIÇO
BARANGA
RAIMUNDA
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CACO DE VIDRO
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Se você quiser ficar é por sua conta, estou te avisando.

Pois então, o Sétimo fez os tais gestos diante do rosto da Raimunda dele (a Otília) e acreditou que ela tinha ficado linda, lindaça, mulher capa de revista, Miss Universo, essas coisas. Acreditou mesmo, te juro. Acreditou, sim, te juro de pés juntos. Era coisa dolorosa de ver, ele se acreditava mágico poderoso, um Mandrake da periferia.

E veja só o que é a maldade das pessoas, a maldade dessa gente é arte refinada, é o suprassumo da gozação.

Todo mundo dizia:

- Pô, Sétimo, tu tá com tudo, hem, mano?

- Ah, Sétimo, larga dela pra eu pegar, bro.

- Isso é injustiça, tudo de bom para o Sétimo!

- Assim não dá, Sétimo, com a sorte que você tem e mais esses poderes mágicos, meu nego, tu vai longe, tu vai açambarcar, só vai dar você, garoto.

- Ei, gostosa, fiufiu, larga esse cara que eu te dou casa, comida, banho, lavabo, caderneta de poupança, carro. Nega, fica comigo.

O Sétimo, todo prosa, fazia uns gestos no ar, condescendente.

Cara, que doideira.

Serra, quinta-feira, 28 de junho de 2012.

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