A Gostosa do Sétimo
O Sétimo não tinha esse nome à toa:
era o sétimo filho do sétimo filho e segundo as lendas era mago, feiticeiro -
ele acreditava nessas coisas. Achava que mexendo as mãos pra lá e pra cá “num
passe de mágica” a realidade seria modificada. Era desses que não queriam
trabalhar, igual aos ricos.
Ficava mexendo os dedos, era incrível
de se ver.
Pensava mesmo que bastavam palavras
para alterar tudo. Vai nessa, mermão, acredita nisso! Não vai trabalhar, não,
pra você ver.
Bi, bi, bi, bó, bó, bó.
Bó, bó, boboca.
Não vai pegar no trampo, não, não vai
agarrar os chifres do touro pra você ver se sai...
Bem, o boboca do Sétimo tinha uma
baranga, um tribufu de beiço, uma Raimunda feia de cara e boa de bunda que vou
te falar! Como dizer, se você me vir agarrada com mulher feia pode separar que
é briga.
ÍNDICES
DE QUE VOCÊ DEVE CORRER
(fique atento; nem pare para pensar, comece a correr...)
TRIBUFU
DE BEIÇO
|
BARANGA
|
RAIMUNDA
|
CACO
DE VIDRO
|
Se você quiser ficar é por sua conta,
estou te avisando.
Pois então, o Sétimo fez os tais
gestos diante do rosto da Raimunda dele (a Otília) e acreditou que ela tinha
ficado linda, lindaça, mulher capa de revista, Miss Universo, essas coisas.
Acreditou mesmo, te juro. Acreditou, sim, te juro de pés juntos. Era coisa
dolorosa de ver, ele se acreditava mágico poderoso, um Mandrake da periferia.
E veja só o que é a maldade das
pessoas, a maldade dessa gente é arte refinada, é o suprassumo da gozação.
Todo mundo dizia:
- Pô, Sétimo, tu tá com tudo, hem,
mano?
- Ah, Sétimo, larga dela pra eu pegar,
bro.
- Isso é injustiça, tudo de bom para o
Sétimo!
- Assim não dá, Sétimo, com a sorte
que você tem e mais esses poderes mágicos, meu nego, tu vai longe, tu vai
açambarcar, só vai dar você, garoto.
- Ei, gostosa, fiufiu, larga esse cara
que eu te dou casa, comida, banho, lavabo, caderneta de poupança, carro. Nega,
fica comigo.
O Sétimo, todo prosa, fazia uns gestos
no ar, condescendente.
Cara, que doideira.
Serra, quinta-feira, 28 de junho de
2012.
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