segunda-feira, 29 de outubro de 2018


Justiceiro

 

O advogado dividiu seu tempo em duas partes.

CAUSAS PRIVADAS
CAUSAS PÚBLICAS
PESSOAIS
AMBIENTAIS
Indivíduos
Cidades-munic.
Famílias
Estados
Grupos
Nações
Empresas
Mundo

50/50.

“Causas públicas” eram pro bono, para o bem, trabalho gratuito, tudo porque o advogado - “vindo de baixo” - lembrou-se de suas raízes e dificuldades e apostou na retribuição ao povo sofrido (dizer povo já não é dizer sofrido?).

O que parecia restringir seus ganhos, melhorou-os, porque tendo só 50 % do tempo para si ele estudou mais e se tornou mais competente. Realmente empenhado tornou-se expert famoso, muito requisitado.

E já que defendia as “causas perdidas” populares, as pessoas faziam “propaganda de boca”, quer dizer, de boca a ouvido e com tal insistência, que a fama dele se espalhou ainda mais na cidade e nas redondezas, até no estado; quando essas pessoas assim atendidas melhoraram de vida passaram a ira a ele, que enriqueceu mais, colocando escritório e contratando mais gente, tanto advogados quanto pessoal de apoio.

Contratou arquitetos, construiu um prédio para si.

E começou a fazer “justiça pelas próprias mãos”.

Nunca contra aqueles contratadores do outro lado, alegando muito justamente conflito de interesses.

Os outros advogados foram à OAB, Ordem dos Advogados do Brasil. Também representaram junto ao Tribunal de Justiça do ES. Nada surtiu efeito. Sendo advogado ele mesmo se defendeu em ambas as instâncias. Quando ganhou, os querelantes ficaram mal perante a coletividade, que esvaziou seus escritórios.

Contrataram bandidos para simular assalto e feri-lo, até matá-lo, mas não deu certo porque foi avisado pelos próprios contratados, que tiveram membros da família assistidos.

O advogado elegeu uma série de pontos fracos do funcionamento governamental em todos os ambientes (cidades-municípios e estado, pois os demais eram distantes, extrapolariam a capacidade operacional) próximos, fixando seu olhar nas áreas de maior sofrimento.

A fama dele propagou-se.

Insistiram que se candidatasse. Embora detestasse a política, foi lá para ampliar a voz.

O carro dele capotou no viaduto antes de João Neiva, rolou na ribanceira, pegou fogo, ficou totalmente carbonizado.

Serra, sexta-feira, 27 de abril de 2012.

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