sexta-feira, 26 de outubro de 2018


A Parte do Rei Leão

 

Existia desde há muito tempo “a parte do leão”, quer dizer, do mandatário da Floresta, onde ele era sabidamente “o rei da bicharada”. O elefante era o maior, mas não era o rei; embora pudesse esmagá-lo com uma pata, não fazia isso, era manso. Existia também o javali com seus enormes dentes, de meter medo. O rinoceronte, com sua casca dura, era policial apenas; como não sentia dor não sabia que os outros sentiam. Havia o hipopótamo, que vivia no Rio e pouco dava as caras na terrinha. O jacaré, o moita só com os olhinhos de fora, era olheiro de um time da capital. A coruja, a cientista do lugar, olhava tudo. Os passarinhos viviam flanando. A maritaca vivia maritaqueando e o tucano tinha participado da privataria tucana, estando muito bem de vida com os burros do dinheiro levando o dinheiro para passear nos paraísos (fiscais). O papagaio entregava todo mundo, era dedo duro do rinoceronte.

O Leão fora trabalhar para o Imposto de Renda brasileiro, na Receita Federal do Ministério da Fazenda, onde ficava a floresta como reserva de caça de patos. Era funcionário público há muitos e muitos anos, três décadas ou mais, antes sempre aparecia nos retratos, mas ultimamente (em razão de sua aparente ferocidade real) pouco era mostrado.

Ele exigia essa “parte do leão”. Que, como era rei, passou a ser “a parte do rei leão”. Mensalmente, oferecendo proteção a que cumprisse a obrigação, através do “carnê do leão” ele pegava um tanto de cada um, muito mais percentualmente dos pobres, era a “lei da selva”.

Anualmente havia uma “declaração de ajuste”: se ele tivesse engolido demais durante o decorrer do ano e você provasse que era desvalido conseguiria que cuspisse uma parte pequena.

Não mordia os animais maiores, só os pequenos.

Os grandes, tipo elefante, hipopótamo, jacaré, rinoceronte e Roberto Marinho não eram pegos, só os miudinhos, na fonte, nem deixava levar para depois trazer.

QUEM É REI NUNCA PERDE A MONSTRUOSIDADE

Descrição: [leão+IR]
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No jogo dos grandes havia quatro valetes: advogado, contador, administrador e economista, que os ajudavam a só-negar. Eles NUNCA admitiam a verdade, mentiam sempre e de tal forma e com tanto arrojo e audácia que as pessoas acreditavam, “tudo dentro da lei”.

O rei ia levando, e levava muito.

Ninguém pedia contas, ninguém investigava a contabilidade do rei, ninguém perguntava se ele pegava muito.

Assim eram as coisas em Floresta Feliz.

Ah, esqueci dos macacos, que faziam muita macaquice na Rede Lobo e colegiadas para divertir aquela gente.

Serra, sexta-feira, 20 de abril de 2012.

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