Os Cachorros das
Mulheres
No Livro 59, em Espectro Canino, raciocinei sob
sugestão da Clara, minha filha, sobre os cachorros pequenos que as mulheres
adotam. A idéia é que as mulheres domesticaram os gatos como babás das crianças
e alguns pequenos cachorros, talvez para defendê-las ou para avisarem quanto a
intrusos pretendendo alcançar o interior da caverna.
Mas cachorros têm
bocas, bocas têm em geral dentes ou são peçonhentas, de maneira que todo
cuidado é pouco. Se o Modelo da Caverna das mulheres coletoras e dos homens
caçadores é verdadeiro, deveríamos poder fazer previsões. As mulheres (fêmeas e
pseudomachos) ficavam com a responsabilidade da retaguarda, com crianças de
ambos os sexos, velhos e velhas, doentes e estropiados, mutilados, deficientes de
algum modo (é exatamente porque passaram a mantê-los que os sapiens prosperaram
tão rápido, porque todos somos, de algum modo, deficientes), uma multidão de
gente de todas as idades e feitios. A trabalheira era enorme, muitas bocas para
alimentar sempre, coletas por fazer, as mulheres sempre grávidas, uma confusão
extraordinária, de dar dor de cabeça.
Se OS FILHOS (não as
filhas, competidoras por esperma) eram o xodozinho de todos (e principalmente
todas), então deviam ser vigiados, e para isso foram inventados (!) os gatos.
Bem, as mulheres pegaram os cachorros pequenos dentre os menores lobos, os mais
fraquinhos e foram selecionando-os para ficarem cada vez menores, minúsculos
mesmo, com bocas pequenas, miúdas, acanhadas e quase sem dentes, de modo a não
constituírem perigo para os filhos, não fossem eles (sendo carnívoros)
abocanhá-los, de modo que devem existir dois tipos de cachorros, os que latem,
mas não mordem, e os que mordem mesmo sem latir. Os primeiros são só de
fachada, os segundos acompanhavam os homens (machos e pseudofêmeas). Devemos
esperar que os pequenos cachorros das mulheres (ficando sempre do lado de fora
das cavernas) ouricem muito os pelos, latindo demais sem produzir nenhum dano
notável, que façam um escarcéu danado, pulando e saltando, avançando sem
qualquer prejuízo maior, só para causar espanto nas feras. Quando os grandes
cachorros dos homens voltavam naturalmente transavam com as fêmeas dos
pequenos; os filhotes grandes que nasciam deviam ser sistematicamente mortos ou
entregues de volta aos homens. Isso pode ser testado: se há dois grupos gerais
de cachorros entre as espécies.
Vitória,
sexta-feira, 23 de janeiro de 2004.