O Que Se Move?
Deitado no chão em
volta da pequena piscina circular do prédio onde moramos olhei para o céu e vi
as nuvens passando, como qualquer um pode ver. Mas, seriam as nuvens, mesmo,
perguntaria um relativista simplório, que passam?
Pesquisemos.
O fato é que a Terra
gira em torno de seu eixo 2πR quilômetros a cada 24 horas, sendo R = 6.372 km,
raio planetário, portanto 40.036/24 = 1.668 km/h, mais do que Mach 1,
velocidade de avião bem rápido. Os relativistas simplórios dizem que tanto faz
eu pensar que o ônibus se move de Linhares para Vitória quanto pensar que a
Terra toda (porque Vitória) o faz no sentido de Linhares. ISSO não é
verdadeiro, desde quando existem muitos ônibus se movendo, digamos de Cachoeiro
para Vitória, e esta deveria estar se movendo TAMBÉM para lá, e do mesmo modo
de e para todas as cidades de onde para ela estão vindo ônibus, e assim igualmente
para cada uma das cidades sucessivamente tomadas como centro, o que dilaceraria
simbolicamente a Terra.
As nuvens é que estariam
se movendo, ou a Terra?
Bom, as nuvens não
podem por si mesmas imprimir velocidade de jato, perto de mil e setecentos
quilômetros por hora, dez vezes a velocidade de um carro bem rápido, senão uma
nuvem circundaria a Terra em 24 horas. Evidentemente ela participa do momento
de inércia, junto com os objetos colados à superfície pela gravidade. Mas as
nuvens movem-se em qualquer sentido, paralelas ao solo, quer dizer, à esfera
ideal com centro no centro de gravidade da Terra. Evidentemente as nuvens se
movem à mesma velocidade da superfície da Terra, de 1,7 mil km/h, e mais um
pouco, ou menos um pouco, elas VÃO JUNTO, na totalidade, e na particularidade,
considerada a Terra como um zero referencial, se movem para um ou outro lado. Então, de fato, como todos nós, as
nuvens têm essa velocidade NÃO PERCEBIDA, absoluta, de 1,7 mil km/h, e, além
disso, adquirem uma VELOCIDADE RELATIVA que é aquela com a qual as vemos se
movendo. Daí que, como diz o modelo, simultaneamente o movimento é sempre
relativo e absoluto. É absoluto porque, como vimos neste Livro 29, em Tudo é Relativo? - há sem dúvida um
centro, um absoluto em torno do qual tudo mais gira, prisão geral, e há
liberdade particular. Assim,
reinterpretando a relatividade, há um relativo pelo qual, TOMADAS APENAS
VITÓRIA E LINHARES, Vitória se move EM RELAÇÃO no sentido de Linhares. Tomado o
conjunto PODEMOS VER que o ônibus se move no sentido de Vitória, a partir de
Linhares, e sabemos disso porque é realizado trabalho, o óleo diesel é
consumido.
Assim, é suprimido o
relativismo boçal, trivial, simplório que tanto mal causou, que tanto
aborrecimento cultural nos trouxe, com essas afirmações redutivas terríveis,
que embaralharam nosso raciocínio durante décadas.
Eis aí quanto
devemos nos precaver de todo poderoso conhecimento, porque a soma é zero, e do
outro lado vem o negativo do positivo, o retrocesso do avanço, e é porisso
mesmo que prego INSISTENTEMENTE que, se o que venho construindo tiver utilidade
é bom as pessoas se precaverem, para não tentarem tornar absoluto o modelo.
As coisas têm apenas
utilidade. Não devem, de modo algum, ser superpostas ao progresso, por melhores
que sejam.
Vitória, domingo, 13
de abril de 2003.