Pressupostos Etnocentristas
Em
seu livro, Preparando para o Século XXI, Rio de Janeiro, Campus, 1993,
Paul Kennedy diz à página 24: “Vejam-se, por exemplo, as pressões que recairão
sobre os sistemas já inadequados (ou inexistentes) de habitação, higiene,
transportes, distribuição de alimentos e comunicações dessas cidades se as suas
populações duplicarem ou triplicarem. Em muitos desses países uma parcela
desproporcional da limitada riqueza nacional é propriedade das elites
governantes, que terão dificuldades em apaziguar os descontentes das massas
urbanas que viverão nessas novas megacidades. Não é claro como essas enormes
populações serão alimentadas, em especial nas épocas de penúria, e o que
acontecerá com a relação sempre delicada entre a cidade e o campo”.
Para
dar um distanciamento, vamos imaginar que seja a Terra inteira, e vamos reler
em maiúsculas o período todo (como se fosse um relatório de um enviado
alienígena buscando saber se a vida racional terrestre deve ou não ser
eliminada).
VEJAM-SE,
POR EXEMPLO, AS PRESSÕES QUE RECAIRÃO SOBRE OS SISTEMAS TERRESTRES JÁ
INADEQUADOS (OU INEXISTENTES) DE HABITAÇÃO, HIGIENE, TRANSPORTES, DISTRIBUIÇÃO
DE ALIMENTOS E COMUNICAÇÕES DESSES PAÍSES SE A SUA POPULAÇÕE DUPLICAR OU
TRIPLICAR. EM MUITOS DESSES PLANETAS UMA PARCELA DESPROPORCIONAL DA LIMITADA
RIQUEZA MUNDIAL É PROPRIEDADE DAS ELITES GOVERNANTES, QUE TERÃO DIFICULDADES EM
APAZIGUAR OS DESCONTENTES DAS MASSAS ESTADUAIS QUE VIVERÃO NESSAS NOVAS
MEGARREGIÕES. NÃO É CLARO COMO ESSAS ENORMES POPULAÇÕES SERÃO ALIMENTADAS, EM
ESPECIAL NAS ÉPOCAS DE PENÚRIA, E O QUE ACONTECERÁ COM A RELAÇÃO SEMPRE
DELICADA ENTRE A CIDADE E O CAMPO.
Veja
que em cada caso só fiz subir um degrau.
Pois
o mundo-Terra, sob as vistas galáticas, é paupérrimo, muito atrasado e primitivo.
Deveríamos descartar a Terra, só porque ela é assim? Não, ela se desenvolverá
notavelmente, é a nossa confiança.
O
modo euro-americano é o único que dará certo? As possibilidades dialógicas do
universo são muito amplas, incomensuravelmente variadas, desde que se adote as
posturas corretas, que não fecham a avenida em beco-sem-saída.
Veja
só, esse Kennedy, neo-malthusiano disfarçado, e outros como ele estão condenando
todo um futuro em nome de um passado já acabado, como os nazistas alemães e os fascistas
italianos e japoneses quiseram fazer com os judeus e vários povos europeus, e o
Japão ainda faz com os ainos e a Índia ainda faz com as castas “impuras”. Os
condenados são sempre OS OUTROS, que Cristo mandou amar.
Há
só um jeito de fazer um vaso? Milhares de tipos e milhões de formas de vasos e
vasilhas feitas através de toda a geo-história provam que não, absolutamente
não. Podemos encontrar milhares de caminhos desde as folhas pelo mesmo tronco
até as raízes dos problemas e de volta para novas construções. As árvores não
são inumeráveis em espécie e forma?
Porque
a duplicação e a triplicação das populações seriam um impedimento? A população
dos EUA não duplicou nem triplicou, multiplicou por 270, se contarmos a partir
de um milhão. Que pai ou mãe mataria alguns filhos sem lhes dar chance de
tentar a vida de modo diferente alhures?
Veja
que o fascismo malthusiano está voltando. O Kennedy é apenas um dos anúncios.
Vitória,
terça-feira, 10 de dezembro de 2002.