sábado, 27 de outubro de 2018


Cada um no Seu Quadradinho

 

Em princípio eram todos quadradinhos, mas uns quadradinhos eram mais quadradinhos que os outros, porque essa era a “justiça dos homens”.

Havia quadradinhos de cinco classes, de A até E (A, B, C, D, E), digamos quadradinhos ricos, quadradinhos médio-altos, quadradinhos médios, quadradinhos pobres ou médio-baixos, quadradinhos miseráveis.

Os quadradinhos ricos eram os mais apurados, os mais belos e os maiores, evidentemente. Estavam no diminutivo, porém eram gigantescos quadradinhos, porque tudo parecia insuficiente aos ricos, tudo era necessário, a necessidade dos ricos era MUITO MAIS necessária do que a dos pobres.

Sem falar que os quadradinhos dos pobres e miseráveis eram tortos dos lados, por vezes as retas nem pareciam retas porque (arg!) tinham “puxadinhas”, aquelas coisas mal planejadas e mal feitas. Os quadradinhos médios estavam sempre tentando passar a quadradinhos médio-altos, enquanto estes rezavam o tempo todo para não cair na condição de quadradinho médio, o que seria tremendo desprestígio social.

Os quadradinhos filhos dos quadradinhos ricos eram abusados, insolentes, arrogantes, caçoadores, audaciosos, por vezes cruéis. Queriam montar nas meninas quadradinhas médias. Assim, sem mais nem menos, a maior poca-vergonha. Uma indecência.

E os quadradinhos ricos andavam em seus possantes carros quadradinhos, que perto dos mirradinhos carros quadradinhos da classe média quadradinha eram imensos, quadradões, até pareciam. A garaginhas dos carrinhos quadradinhos dos ricos eram imensas, caberiam quatro ou cinco carrinhos quadradinhos dos pobres e médios.

É lógico que Deus dera o frio conforme o cobertor, mas os quadradinhos ricos pegaram o cobertor para eles.

O quadradinho dos ricos era gramado, tinha árvores frutíferas, tinha lago, tinha árvores de sombra, tinha até estufa, horta hidropônica, pista de Cooper, balanços e playground para a criançada, enquanto o quadradinho dos pobres era no morro, mal tinha espaço para as tralhas espalhadas. Ai, que sufoco! Telhas, pedaços de lajotas, pedaços de vidro, restos de madeira, enxada quebrada, engradados incompletos e coisas assim. Quadradinhos mínimos entupidos de coisas mínimas.

Certo, é isso mesmo e está acabado: cada um no seu quadradinho.

Serra, sexta-feira, 20 de abril de 2012.

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