Cada
um no Seu Quadradinho
Em princípio eram
todos quadradinhos, mas uns quadradinhos eram mais quadradinhos que os outros,
porque essa era a “justiça dos homens”.
Havia quadradinhos de
cinco classes, de A até E (A, B, C, D, E), digamos quadradinhos ricos,
quadradinhos médio-altos, quadradinhos médios, quadradinhos pobres ou
médio-baixos, quadradinhos miseráveis.
Os quadradinhos ricos
eram os mais apurados, os mais belos e os maiores, evidentemente. Estavam no
diminutivo, porém eram gigantescos quadradinhos, porque tudo parecia
insuficiente aos ricos, tudo era necessário, a necessidade dos ricos era MUITO
MAIS necessária do que a dos pobres.
Sem falar que os
quadradinhos dos pobres e miseráveis eram tortos dos lados, por vezes as retas
nem pareciam retas porque (arg!) tinham “puxadinhas”, aquelas coisas mal
planejadas e mal feitas. Os quadradinhos médios estavam sempre tentando passar
a quadradinhos médio-altos, enquanto estes rezavam o tempo todo para não cair
na condição de quadradinho médio, o que seria tremendo desprestígio social.
Os quadradinhos
filhos dos quadradinhos ricos eram abusados, insolentes, arrogantes,
caçoadores, audaciosos, por vezes cruéis. Queriam montar nas meninas
quadradinhas médias. Assim, sem mais nem menos, a maior poca-vergonha. Uma
indecência.
E os quadradinhos
ricos andavam em seus possantes carros quadradinhos, que perto dos mirradinhos
carros quadradinhos da classe média quadradinha eram imensos, quadradões, até
pareciam. A garaginhas dos carrinhos quadradinhos dos ricos eram imensas,
caberiam quatro ou cinco carrinhos quadradinhos dos pobres e médios.
É lógico que Deus
dera o frio conforme o cobertor, mas os quadradinhos ricos pegaram o cobertor
para eles.
O quadradinho dos
ricos era gramado, tinha árvores frutíferas, tinha lago, tinha árvores de
sombra, tinha até estufa, horta hidropônica, pista de Cooper, balanços e
playground para a criançada, enquanto o quadradinho dos pobres era no morro,
mal tinha espaço para as tralhas espalhadas. Ai, que sufoco! Telhas, pedaços de
lajotas, pedaços de vidro, restos de madeira, enxada quebrada, engradados
incompletos e coisas assim. Quadradinhos mínimos entupidos de coisas mínimas.
Certo, é isso mesmo e
está acabado: cada um no seu quadradinho.
Serra, sexta-feira,
20 de abril de 2012.
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