quinta-feira, 17 de maio de 2018


A Volta dos que Não Foram

 

Naturalmente (quer dizer, não só se pode afirmar, como é de nossa natureza, de nossa constituição genética) a gente sente saudades dos que amou (na minha vida, oito me amaram e eu amei: quatro humanos e quatro animais; pai e mãe, filha e filho – e três cachorros e uma gata, já falei muito dos quatro). Por vezes podemos pensar como seria bom se pudéssemos estar com os agora mortos (no caso acima, cinco), quer dizer, como seríamos felizes se estivessem vivos e pudéssemos festejá-los, até sem cometer os erros que cometemos.

No entanto, a morte existe mesmo.

Como disse Clarice Lispector, <vou te contar um segredo: a vida é mortal>; dizem os americanos que só existem duas coisas certas (agora posso dizer que Deus é essência, não existe como a Natureza perecível existe), a morte e os impostos (sendo que alguns se livram destes com a ajuda de contadores e fiscais espertos).

A morte existe mesmo.

É a maior surpresa da vida.

Gostaríamos que aqueles que foram (as pessoas dizem assim, como se fosse uma partida) voltassem! Que a morte não existisse. Entretanto, o planeta estaria entupido (há a caminho de oito bilhões de seres humanos, enquanto pelos chutes tecnocientíficos teriam vivido 100 bilhões – como seria alimentar tanta gente?), superpopuloso. E o mundo é 50/50, há 50 % de maus que, todavia, podem ser amados pelos seus chegados, enquanto vários deplorariam as existências que valorizamos.

A morte é o grande evento libertador, embora a deploremos.

E, dos que não foram ainda, quantos gostaríamos de preservar? Se pudéssemos escolher, condenaríamos vários, que fariam falta: é melhor que tudo fique como está nos planos de Deus-i-Natureza, como na velha lição sobre o sujeito que desejava reformar a Natureza (existe um livro de Monteiro Lobato sobre isso), trocando as abóboras pelas jabuticabas, até que lhe cai na cabeça uma destas. Enfim, devemos ser precavidos, ouvindo o próximo, prestando atenção em seus motivos, não valorizando tanto nossas opiniões, exercendo ao máximo a tolerância (posso racionalmente ver isso, mas nem sempre consigo, sou muito nervoso, quer dizer, valorizo minha liberdade).

Essa precaução geral não é ensinada nas escolas, não pegam a veia civilizatória que nos torna civilização respeitante, que nos prepara para a comunidade cultural-cívica (nos meus tempos escolares ninguém falou de não parar em fila dupla, não comprar drogas, não roubar no peso, etc.).

Vitória, quinta-feira, 17 de maio de 2018.

GAVA.

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