A
Volta dos que Não Foram
Naturalmente (quer
dizer, não só se pode afirmar, como é de nossa natureza, de nossa constituição
genética) a gente sente saudades dos que amou (na minha vida, oito me amaram e
eu amei: quatro humanos e quatro animais; pai e mãe, filha e filho – e três
cachorros e uma gata, já falei muito dos quatro). Por vezes podemos pensar como
seria bom se pudéssemos estar com os agora mortos (no caso acima, cinco), quer
dizer, como seríamos felizes se estivessem vivos e pudéssemos festejá-los, até
sem cometer os erros que cometemos.
No entanto, a morte
existe mesmo.
Como disse Clarice
Lispector, <vou te contar um segredo: a vida é mortal>; dizem os
americanos que só existem duas coisas certas (agora posso dizer que Deus é
essência, não existe como a Natureza perecível existe), a morte e os impostos
(sendo que alguns se livram destes com a ajuda de contadores e fiscais
espertos).
A morte existe
mesmo.
É a maior surpresa
da vida.
Gostaríamos
que aqueles que foram (as pessoas dizem assim, como se fosse uma partida)
voltassem! Que a morte não existisse. Entretanto, o planeta estaria entupido
(há a caminho de oito bilhões de seres humanos, enquanto pelos chutes
tecnocientíficos teriam vivido 100 bilhões – como seria alimentar tanta gente?),
superpopuloso. E o mundo é 50/50, há 50 % de maus que, todavia, podem ser amados
pelos seus chegados, enquanto vários deplorariam as existências que
valorizamos.
A morte é o grande
evento libertador, embora a deploremos.
E, dos que não
foram ainda, quantos gostaríamos de preservar? Se pudéssemos escolher,
condenaríamos vários, que fariam falta: é melhor que tudo fique como está nos
planos de Deus-i-Natureza, como na velha lição sobre o sujeito que desejava reformar
a Natureza (existe um livro de Monteiro Lobato sobre isso), trocando as
abóboras pelas jabuticabas, até que lhe cai na cabeça uma destas. Enfim,
devemos ser precavidos, ouvindo o próximo, prestando atenção em seus motivos, não
valorizando tanto nossas opiniões, exercendo ao máximo a tolerância (posso
racionalmente ver isso, mas nem sempre consigo, sou muito nervoso, quer dizer,
valorizo minha liberdade).
Essa precaução
geral não é ensinada nas escolas, não pegam a veia civilizatória que nos torna
civilização respeitante, que nos prepara para a comunidade cultural-cívica (nos
meus tempos escolares ninguém falou de não parar em fila dupla, não comprar
drogas, não roubar no peso, etc.).
Vitória, quinta-feira,
17 de maio de 2018.
GAVA.
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