As Tropas de Vovô
MEUS
AVÔS E AVÓS
ANCESTRAL
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HOMENS
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MULHERES
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PARTE
DE PAI (José Attílio Gava)
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Ângelo Gava
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() Costalonga
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PARTE
DE MÃE (Alvira Perim Gava)
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Benevenuto Perim
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Estefânia Grilo
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Eles viviam em Burarama, distrito de
Cachoeiro de Itapemirim, onde minha mãe nasceu; já meu pai é de Matilde,
Alfredo Chaves. Os italianos originais subiram o rio de canoa há mais de 100
anos. Meu pai era de 1917 (morreu em 1978), minha mãe de 1924 (morreu em 2003),
meus avôs e avós de pelo menos duas ou três décadas antes, não sei as datas.
MATILDE
E BURARAMA
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Tudo aquilo era bravio, levavam uma
semana (segundo as histórias de papai e mamãe) de cavalo pelas trilhas no meio
da floresta (é preciso apurar tudo isso, gostaria de poder perguntar agora, mas
estão mortos ou morrendo os que sabiam ou sabem) para andar o que hoje por
asfalto não passa de 40 km e se faz em uma hora, pois há muitas curvas. As
matas eram realmente fechadas há 100 anos, tudo território virgem da Mata
Atlântica; veja que em um século pelaram tudo até sobrarem apenas restos aqui e
acolá.
Minha mãe contava que por vezes
estavam almoçando 30 ou 40 indivíduos na casa grande de vovô Perim lá no que
poderíamos chamar Canto dos Perim (como nos Hobbit). A casa grande foi feita
toda de madeira, troncos inteiros; ainda está lá e hoje é de minha tia Antônia
Perim Friço: chega-se por um pátio que dá para a cozinha, do tamanho de quatro
ou cinco dessas de hoje, com uma mesa enorme de tábuas grandes onde eram
colocados pães cuja receita está abaixo (o fermento parece exagerado, 150 g,
não temos conseguido acertar). A sala, grande, fica à direita disso. Vendo-a de
frente um quarto de filho fica à direita, o que era de vovô e vovó (onde nunca
entrávamos) mais adiante, com dois quartos à esquerda, uma varandinha na frente.
Lá vinham as tropas com dezenas de
mulas levando tecidos, sacos e sacos de trigo, sal, necessidades locais para a
parentalha e de volta carregando os produtos de lá, café e coisas assim. Quando
os tropeiros chegavam era a maior festa para as mulheres e a criançada – os
avôs e avós ficavam felizes vendo todos alegres. Naturalmente eram todos bem
tratados, a época era outra, os anfitriões se dedicavam aos recém-chegados.
A
RECEITA DO “PÃO CASEIRO DE BURARAMA” (minha mãe ditou, eu dei o nome)
ITEM
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QUANTIDADE
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Açúcar
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Oito colheres de sopa
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Banha (ou manteiga ou óleo ou
margarina, nos novos tempos)
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Uma colher
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Fermento
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150 gramas
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Leite
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Um copo e meio de 150 ml
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Ovo
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Três
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Sal
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Uma pitada
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Trigo
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Um quilograma
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MODO
DE FAZER: desmanche
o fermento no leite, ponha os ovos e o açúcar; misture e acrescente o trigo;
ponha de parte para crescer.
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Pães enormes eram feitos e cortavam-se
fatias grandes de dois dedos de largura, lambuzando-se de manteiga, pois nada
era regrado. Quando criança, comi disso barbaridades felizes. Eram outros
tempos, as mulheres não poupavam esforços, nem os homens, Burarama era um
grande parque de diversões para a garotada. As dificuldades eram imensas, mas
as dimensões folgazãs também, a soma é zero tanto lá quanto com agoraqui.
O
RIO BENEVENTE POR ONDE ELES SUBIRAM
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Enfim, eram tempos pacatos, simples,
mas tinham seus picos de felicidade e descontração, de encontro e bondade, de
confraternização, que valiam por muitos meses; não era o excesso de agora em
que temos demais e nem damos mais importância – tudo era concentrado em alguns
dias, depois se esgotavam por meses e as pessoas viviam simploriamente.
A alegria não é coisa do futuro, é de
todo o tempo e todo o espaço, pois antes de nós eles também souberam viver.
Vitória, domingo, 26 de novembro de
2006.
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