quinta-feira, 31 de maio de 2018


Cem Mil Anos de Amor Pagos com Bagatelas

 

Os tecnocientistas estão concluindo que os cachorros não são nossos companheiros há apenas 10 mil anos, mas muito mais, 100 mil, tanto quanto ou mais velhos que o surgimento dos cro-magnons há 80 ou 70 mil anos.

O QUE OS CACHORROS NOS PROPORCIONARAM

·       Conquista definitiva das sociedades das mulheres e muito maior prestígio, pois durante cinco milhões de anos elas dominaram;

·       Expansão desenfreada da humanidade (porque já não comíamos pouco, nem carniça, e não adoecíamos e morríamos tão jovens quanto antes), com muitos mais filhos sustentáveis e sadios;

·       Liberação da boca (como alguém viu) para outras tarefas que morder (por exemplo, falar, o que levou às mutações do cérebro por maior memória e à língua, memória exterior, depois gravação enquanto escrita);

·       O que chamei de “grande proteína” dos grandes animais (inclusive dos próprios cães, o que é como devorar um amigo ou irmão);

·       Proteção dos filhos com os “cachorros de boca pequena”, os menores, que ficavam e latiam à bessa para avisar;

·       Segurança quanto à Natureza, avançando sobre ela para conquistá-la sem temer destruição, pelo contrário, adquirindo cada vez mais confiança em nós mesmos (mesmo quando não tínhamos mais tanta necessidade dos animais);

·       Sensação de amizade e companheirismo entre os guerreiros e seus cães da matilha (muito choro deve ter havido pela morte de uns e outros);

·       Vastas caminhadas e buscas (pois com o tempo a grande proteína rareou em volta do terreirão), o que implicava muitas descobertas;

·       Muitas outras dívidas que as pessoas pensarão.

Como temos pagado essa dívida?

Com pouco, pouquíssimo, com quase nada, com bagatelas, ninharias, insignificâncias. Eles nos tornaram os racionais que somos e temos devolvido em pontapés, em abandono, em falta de proximidade, em fome, em ódio. Que raça odienta nós somos!

Se eu tratasse assim a um irmão e ele me devolvesse do jeito que devolvemos aos cães eu nunca mais olharia a cara dele. No entanto, os cães continuam nos amando e festejando-nos.

Vitória, sábado, 25 de novembro de 2006.

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