Apenas esposas e
crianças antes, agora também maridos, o fato é que todos se beneficiam em
silêncio das bandalheiras do cônjuge, seja marido antes, sejam ele e ela agora.
Ninguém fala nada, ninguém dá um pio de aversão pelas facilidades conseguidas
com sonegação, com tráfico de drogas, com venda de pedras preciosas ao exterior
sem denotação, com corrupção, com tráfego de influências, com desvio de verbas,
com furtos em empresas, com venda de informações na espionagem econômica
(agropecuária/extrativista, industrial, comercial, de serviços e bancária), com
gastos de mordomia, com aproveitamento das facilidades empresariais e
governamentais – todos usufruem em silêncio. O cônjuge primeiro, pois tem desde
o início consciência plena, depois as crianças à medida que crescem e entendem,
todos calam.
Todos se beneficiam
e calam.
Não vejo nem ouço
ninguém reclamando, nunca vi nem ouvi, em todas essas décadas em que deparei
com os desvios de conduta.
Eventualmente,
quando um ou uma é preso (a), tudo vem à tona, a mídia explora (e serve para
alertar os outros para terem mais cuidado, porque não pára nunca), há um
escarcéu tremendo.
Entrementes,
enquanto ninguém é pego, família, parentes, amigos, colegas, desconhecidos,
todos se beneficiam daquele excesso de dinheiro, daquelas folgas inexplicáveis
que podem pagar para todo mundo, das realizações de churrascadas, de viajar “à lavonté”,
como diz o povo, à vontade desbragada.
Não seria o caso de
recusarem?
Uma coletividade
realmente decente não perguntaria como é que pode haver tanta fartura, tanta
gratuidade, quando tudo é tão difícil para os que não pactuam?
Seria interessante
expor em livro a vida dos pegos em flagrante desde antes, quando começaram as
facilidades lá para trás: toda a felicidade, toda a vibração da sobrevida, todo
o brilho e alegria de gastar o dos outros, por exemplo, do que é dos governos e
chega a ele através dos tributos que o povo paga.
Vitória,
sexta-feira, 21 de novembro de 2003.
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