sábado, 29 de abril de 2017


Cristo de Jeans

 

                            Em filmes como Jesus Cristo Superstar, de Norman Jewinson, 1973, e em várias iniciativas desde a década dos 1960 tentaram contemporanizar Jesus, aproximando-o do público mundial atual, desvestindo-o dos mantos e tornando-o contemporâneo. Uns quiseram vê-lo negro, outros o colocaram tentado por Madalena (A Última Tentação de Cristo, Martin Scorcese, 1988), outros disseram isso e aquilo. Creio que não se deve ir nem muito à esquerda nem muito à direita, ficando-se na média; nem exagerar a aproximação, a intimidade, porque afinal de contas Jesus é tido como Deus-Filho, nem mantê-lo exageradamente distante, inidentificado com seus seguidores.

                            Rabo de cavalo e tiara, piercing e tatuagens, brincos nas orelhas, anéis e relógios, todas essas coisas seriam abusivas e estranhas demais, mas colocá-lo de jeans talvez fosse proveitoso, desde quando tantos trabalhadores sofredores os usam. Contemporanizá-lo assim iria atualizar sua causa junto aos sofredores. Paralelamente seria preciso verter suas falas em linguagem coloquial recente num TESTAMENTO POPULAR, até colocando em imagens contemporâneas sua vida como a de um trabalhador que é crucificado pelas riquezas atuais, esse exagero de acumulação, sem qualquer consideração por amizade e proximidade. Pode-se construir um enredo muito conveniente, maduro, sem os excessos dos contestadores abusados, mostrando como as elites (e o povo também) continuam a crucificar Jesus a cada geração. E as igrejas mais avançadas poderiam colocar um Jesus de Jeans na cruz, simbolizando a crucificação desde mundo de agoraqui.

                            Vitória, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004.

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