quinta-feira, 27 de abril de 2017


Sapatos Femininos

 

                            Para as mulheres coletoras no Modelo da Caverna os sapatos constituíam um agrado, como uma segunda pele, e é fácil pensar por quê: depois de viverem dez milhões de anos nas cavernas os hominídeos certamente tornaram-nas um “terreiro” completamente mapeado, varrido, cada pedrinha mapeada, com nenhuma farpa que pudesse ferir; se as redondezas das cavernas tornaram-se brutas depois disso deve-se às tempestades que ocorreram desde a chegada dos sapiens há 100, 50 ou 35 mil anos, quando estes abandonaram-nas para construir residências, especialmente desde o período histórico, que começou há 5,5 mil anos na Suméria.

                            O sapato feminino era mais como uma luva de camurça para os pés, um carinho, algo de meigo, de doce, um gesto social, exibição para as outras fêmeas e os machos. Não chegava nem a ser proteção, mesmo, como era para os machos, para quem, como já disse, os sapatos eram escudos, meios de defesa, barreiras, impenetráveis revestimentos que permitiam correr entre galhos, espinhos, farpas, pedras, coisas cortantes em geral, portanto grosseiro, rude, abrutalhado, de marmanjo – não era frescura, não era de proteção dos docinhos. Seriam botas de exército, como já afirmei. Não é à toa que as homossexuais femininas são chamadas de “sapatões”, porque isso identifica o macho. Sapatos fraquinhos calçados por machos vão provocar suspeitas. E, principalmente, só as mulheres calçariam antigamente sandálias, coisas vazadas, que pudessem deixar os pés à mostra, devassados, desprotegidos. Sapato masculino podia ser um só, de um tipo só, e para sempre, ao passo que os das mulheres variarão tremendamente, pois são códigos, são mentais, fazem parte da linguagem (que não foi estudada e muito menos exposta).

                            Para as mulheres eles variarão na forma, nas dimensões, na altura/largura/profundidade (no volume), na composição, na cor, na cobertura, nas filigranas, em tudo, e serão muitos, muitíssimos (Imelda Marcos, esposa do ex-ditador Ferdinando Marcos, das Filipinas, tinha mais de três mil pares), prova de status, de condição de dominância, de alteamento divino, até. Os homens, nos tempos antigos, se tivessem 16 pares seriam todos quase iguais. Podem ser preparados testes psicológicos para verificar a hipótese.
                            Vitória, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004.

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