sábado, 8 de abril de 2017


Todo Dia Coragem de Enfrentar

 

                            Quem trabalha duro com o corpo (diz-se com as mãos, mas tudo participa, até a cabeça, a mente, porque ser humano é psicológico/p.3, racional, não é mais quase nada apenas biológico/p.2), como os operários, acredita que os que trabalham nisso de escrever levam boa vida. Talvez até seja assim, em termos do corpo, mas dá um cansaço tremendo, uma prostração violenta, uma vontade intensa de abandonar tudo, de largar, de deixar para outros.

                            Então, é preciso a cada dia conscientizar-se de que é necessário sentar e pacientemente ir em frente, extraindo de dentro de si o que possa interessar aos outros e servir. E é isso justamente que não sabemos: terá ou não serventia?

                            Desconfiados que ficássemos disso não mais escreveríamos.

                            A honestidade de propósitos sendo fundamental, base de tudo, podemos prosseguir e a partir daí resta apenas encontrar as forças. A cada dia um leão para matar, essa é a verdade mais simples. Que pensa que é só sentar e ir colocando as palavras não lembra que é preciso FAZER SENTIDO e sentido é o que mais há no planeta, de tanto que já se escreveu nesses 5,5 mil anos de alfabeto e palavras e línguas. A enormidade do que já se pôs no papel e o esforço que se deve fazer para não copiar e para tentar sempre colocar algo de interessante que possa ter utilidade consome a gente, dia após dia. E como não saberemos, até terem lido e aprovado (ou não, o que é o terror de todo escritor, a questão da rejeição), até sabermos se teve ou não utilidade e valor nos corrói a dúvida, que de fato nunca será sanada, pois a aprovação de uns não significa não haver possível rejeição de outros. Dado não ser a fama que nos move (pois ao começar não a temos) o que nos impele é sempre aquele desejo de ser útil, de facilitar a vida de alguém.

                            Não é fácil.
                            Vitória, segunda-feira, 24 de novembro de 2003.

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