Todo Dia Coragem de
Enfrentar
Quem trabalha duro
com o corpo (diz-se com as mãos, mas tudo participa, até a cabeça, a mente,
porque ser humano é psicológico/p.3, racional, não é mais quase nada apenas
biológico/p.2), como os operários, acredita que os que trabalham nisso de
escrever levam boa vida. Talvez até seja assim, em termos do corpo, mas dá um
cansaço tremendo, uma prostração violenta, uma vontade intensa de abandonar
tudo, de largar, de deixar para outros.
Então, é preciso a
cada dia conscientizar-se de que é necessário sentar e pacientemente ir em
frente, extraindo de dentro de si o que possa interessar aos outros e servir. E
é isso justamente que não sabemos: terá ou não serventia?
Desconfiados que
ficássemos disso não mais escreveríamos.
A honestidade de
propósitos sendo fundamental, base de tudo, podemos prosseguir e a partir daí
resta apenas encontrar as forças. A cada dia um leão para matar, essa é a
verdade mais simples. Que pensa que é só sentar e ir colocando as palavras não
lembra que é preciso FAZER SENTIDO e sentido é o que mais há no planeta, de
tanto que já se escreveu nesses 5,5 mil anos de alfabeto e palavras e línguas.
A enormidade do que já se pôs no papel e o esforço que se deve fazer para não
copiar e para tentar sempre colocar algo de interessante que possa ter
utilidade consome a gente, dia após dia. E como não saberemos, até terem lido e
aprovado (ou não, o que é o terror de todo escritor, a questão da rejeição), até
sabermos se teve ou não utilidade e valor nos corrói a dúvida, que de fato
nunca será sanada, pois a aprovação de uns não significa não haver possível
rejeição de outros. Dado não ser a fama que nos move (pois ao começar não a
temos) o que nos impele é sempre aquele desejo de ser útil, de facilitar a vida
de alguém.
Não é fácil.
Vitória,
segunda-feira, 24 de novembro de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário