O Medo
do Escorregão
Acho que todo pai e
toda mãe tem medo de dizer a palavra mal-dita (veja, até a composição
corriqueira pode nos colocar em confronto), aquele gênero de palavra que mesmo
querendo significar de um lado algo inofensivo do outro aparenta ser terrível
julgamento, que acompanha os filhos durante toda uma vida como, creio, qualquer
um de nós pode atestar (eu posso, e sei que meu pai e minha mãe me amaram
muito, apesar do que seriam os meus erros segundo os desejos simples deles).
Então, dia após dia
passamos por essa angústia e não há no meio de tantos livros de auto-ajuda (é o
“faça você mesmo” da alma, como se a racionalidade humana fosse assim coisa
fácil de tratar – o que a proliferação de livros AA nos centros de compras
parece indicar) nada que oriente-nos acima do nível mais roscofe e chinfrim da
psicologia barata de esquina do livro-minuto.
Não há textos que
coloquem, a partir de discussão acadêmica profunda em congressos, conselhos que
nos ajudem a viver e administrar as vidas de nossos filhos e filhas enquanto
eles crescem para na idade adulta se tornarem seus próprios administradores
(que, sabemos de nossas dolorosas experiências, serão também falíveis). De
profundo assim, não há mesmo nada. Há aquele mundo de conselhos-Wallita, como
os cursinhos Wallita, que se tornaram sinônimo da superficialidade. Como eles
não dispõe das profundidades do modelo talvez seja até exagero pedir a essa
gente correspondência à altura. Saberiam eles responder a todas as nossas
atrapalhações? Saberiam eles proporcionar conselhos substanciais, que realmente
nos permitissem tratar melhor as crianças? Pois as dimensões do modelo são
grandes.
Para conseguirem
isso deveriam realizar uma pesquisa ampla de rua, de campo, com milhares e
mesmo centenas de milhares de famílias, para conhecer as dúvidas, o que
permitiria o enquadramento posterior numas poucas categorias relativas. Não
vejo isso sendo feito, daí meu desespero, porque são centenas de milhões de
famílias abandonadas, sem qualquer ajuda mais significativa nisso que é a tarefa
portentosa de cuidar de almas em crescimento. Quando os governempresas cuidarão
disso? Quando se interessarão institucionalmente? Quando a mídia (TV, Revista,
Jornal, Livro, Rádio e Internet) cuidará do assunto?
Vitória, terça-feira,
11 de novembro de 2003.
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