domingo, 2 de abril de 2017


O Medo do Escorregão

 

                            Acho que todo pai e toda mãe tem medo de dizer a palavra mal-dita (veja, até a composição corriqueira pode nos colocar em confronto), aquele gênero de palavra que mesmo querendo significar de um lado algo inofensivo do outro aparenta ser terrível julgamento, que acompanha os filhos durante toda uma vida como, creio, qualquer um de nós pode atestar (eu posso, e sei que meu pai e minha mãe me amaram muito, apesar do que seriam os meus erros segundo os desejos simples deles).

                            Então, dia após dia passamos por essa angústia e não há no meio de tantos livros de auto-ajuda (é o “faça você mesmo” da alma, como se a racionalidade humana fosse assim coisa fácil de tratar – o que a proliferação de livros AA nos centros de compras parece indicar) nada que oriente-nos acima do nível mais roscofe e chinfrim da psicologia barata de esquina do livro-minuto.

                            Não há textos que coloquem, a partir de discussão acadêmica profunda em congressos, conselhos que nos ajudem a viver e administrar as vidas de nossos filhos e filhas enquanto eles crescem para na idade adulta se tornarem seus próprios administradores (que, sabemos de nossas dolorosas experiências, serão também falíveis). De profundo assim, não há mesmo nada. Há aquele mundo de conselhos-Wallita, como os cursinhos Wallita, que se tornaram sinônimo da superficialidade. Como eles não dispõe das profundidades do modelo talvez seja até exagero pedir a essa gente correspondência à altura. Saberiam eles responder a todas as nossas atrapalhações? Saberiam eles proporcionar conselhos substanciais, que realmente nos permitissem tratar melhor as crianças? Pois as dimensões do modelo são grandes.

                            Para conseguirem isso deveriam realizar uma pesquisa ampla de rua, de campo, com milhares e mesmo centenas de milhares de famílias, para conhecer as dúvidas, o que permitiria o enquadramento posterior numas poucas categorias relativas. Não vejo isso sendo feito, daí meu desespero, porque são centenas de milhões de famílias abandonadas, sem qualquer ajuda mais significativa nisso que é a tarefa portentosa de cuidar de almas em crescimento. Quando os governempresas cuidarão disso? Quando se interessarão institucionalmente? Quando a mídia (TV, Revista, Jornal, Livro, Rádio e Internet) cuidará do assunto?

                            Vitória, terça-feira, 11 de novembro de 2003.

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