O Homem Novo
Quando eu era
adolescente li sobre, e acreditei nisso do “homem novo”, um novo ser humano que
deveria nascer em substituição do suposto “homem velho”; quando ele nascesse já
não haveria mentiras, nem traições, nem perfídia, nem insídia, nem nada do lado
ruim do dicionário – só as coisas boas iriam estar presentes, como a bondade, a
generosidade, a confiança, a pureza, tudo isso.
Eu acreditei.
Marx e outros
falavam disso, ou se não eles diretamente, pelo menos se supunha ser a pregação
de toda a Esquerda.
Nunca vai acontecer
de desaparecer a maldade, porque isso está plantado no Desenho de Mundo ou
Plano da Criação, como dizem os religiosos. Sempre vão existir preguiçosos, não
se pode acabar com a pobreza, porque ela é estatística (classes ABCDE sempre
vão haver no Gabão, no Brasil, na Noruega – assim sendo, se um político prometer
acabar com a pobreza está desde a origem mentindo), não há jeito de suprimir a
imperícia, nem nada do lado bom ou ruim do dicionário.
Não vai aparecer
nenhum Humano Novo que não traga consigo os vícios do Humano Velho. É sempre
novelho ou velhonovo ou como o queiramos chamar, pois sempre o que nasce traz
algo do que morre, ou seja, o que nasce não nasce totalmente nem o que morre
está desaparecendo de todo.
O modelo trouxe
essas reflexões, de que não há jeito de sermos pregadores (exceto iludidos,
ingênuos, tolos) da pureza. Essa desilusão talvez seja, ela mesma,
revolucionária, e possa nos trazer novos e mais úteis pensamentos. Se pelo
menos não nos iludimos nem temos intenção de iludir ninguém, nem todos nem
sequer um, então pode ser que estejamos no caminho certo.
Acho que estamos
entrando num tempo novo, isso sim, em que algumas das coisas que afirmávamos
poder fazer já sabemos ser inútil tentar. Esse tempo novo traz algo do velho:
nós não desistiremos da garra que devemos ter.
Vitória, sábado, 29
de novembro de 2003.
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