domingo, 9 de abril de 2017


O Engano de Vico

 

                            No livro de Richard Osborne, Filosofia para Principiantes, 4ª edição, Rio de Janeiro, 1998, p. 86, falando de Giambattista Vico (italiano, 1668 a 1744), ele diz: “Em princípio influenciado por Descartes, Vico acabou rejeitando seu pensamento – particularmente o ‘cogito ergo sum’, a crença na existência de Deus e a ênfase nas idéias claras e definidas. Vico achava tudo excessivamente baseado na matemática, que de qualquer forma era uma construção humana. No lugar da idéia de que as ciências físicas podiam produzir conhecimento com precisão geométrica, Vico colocou o princípio do ‘Verum Factum’ ou ‘Verdade é fato’. Só podemos conhecer com certeza o que fizemos ou criamos”.

                            Vamos por partes.

                            A Matemática, estando no centro do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica), não pode ser apenas conhecimento humano. Veja que a verdade Física de agora não é a mesma que era entre os gregos, ela foi crescendo, portanto não é absoluta, é relativa, como devem mesmo ser as verdades, aprimorando-se e tornando-se mais completas a cada passo, ao contrário da Matemática, que ainda é a mesma, não mudou nadinha mesmo. Os postulados de Euclides continuam válidos no plano. Então, a Matemática é absoluta, é centro inviolável, está na reunião dos raios dois a dois, dos pares polares opostos/complementares em diâmetros de uma esfera. A Matemática não é construção humana, sempre esteve; o que é humano é a descoberta dela, que é racional em qualquer parte.

                            Por outro lado, se o que fazemos ou criamos é verdadeiro os sonhos ou pesadelos que tenho, porque são construções minhas, seriam verdadeiros; e não verdadeiro apenas o fato de que os tenho, como verdadeiras as coisas neles postas. E isso, como todos sabem, não é verdadeiro. Além disso, a Matemática, que não somos nós que fazemos, apesar disso é POSITIVAMENTE verdadeira, sempre verdadeira.

                            Assim sendo, Vico errou duplamente. Primeiro que fazer ou criar não torna verdadeiro; segundo que a Matemática é verdadeira, mas não é humana. Mais ainda, para garantir veracidade das coisas que fazemos é que as convertemos em Matemática, garantindo assim sua validade inequívoca, universal, total.

                            Vico fez várias coisas boas, mas nisso derrapou barbaramente.
                            Vitória, domingo, 30 de novembro de 2003.

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