A Arrumação da Caverna
Por quê as mulheres
se encaminham “naturalmente” para a arrumação das coisas e os homens não? As
pessoas darão as respostas mais esfarrapadas: 1) que é da natureza delas; 2)
que a preocupação com os filhos coloca isso; 3) que se os homens não fazem
sobra para as mulheres fazerem, etc.
Deve haver uma
RESPOSTA DIALÓGICA, quer dizer, lógica-dialética, tanto direta quanto de
relações, relações com os ambientes. Em toda parte, em cada quadradinho (1º x
1º, 111 km x 111 km) angular do mundo as mulheres fazem a mesma coisa, mas a
separação sapiens se fez há 50 mil anos para os SS, e há 200 mil com a EVA
MITOCONDRIAL e o ADÃO Y para os sapiens, inclusive neanderthais, sei lá, os
antropólogos que digam.
OS AMBIENTES MODELAM
respostas físico/químicas, biológicas/p.2, psicológicas/p.3 e as demais. Os
ambientes exigem que as pessoas respondam em termos moleculares, de
replicadores, celulares, orgânicos, corpomentais enfim. Eles redesenham as
PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e aos outros AMBIENTES
(municípios/cidades, estados, nações e mundo) – em termos psicológicos/p.3.
Então, se as
mulheres coletoras viviam nas cavernas e os homens caçadores fora delas, faz
sentido os homens não arrumarem a sujeira, porque nunca vão estar no mesmo
ambiente duas vezes talvez no decorrer de toda a sua vida, dado que as caças
mudam constantemente de lugar, ou a visita se dará com pelo menos o
distanciamento de um ano, ou uma estação. Em todo caso demora um tempo para
voltar ao mesmo lugar.
Ao passo que as
mulheres estarão na caverna DIA APÓS DIA, todos os dias de sua vida, e devem
cuidar para que não haja cheiro de urina e de fezes (faria todo sentido
selecionar os gatos que enterram suas fezes) que atraia predadores. Porisso, se
elas faziam suas necessidades fisiológicas nas cavernas isso deve ter se dado
em lugares privilegiados (que podem ser rastreados), no fundo delas, ou em
qualquer lugar que pudesse ser recoberto, ou em água que ocultasse o cheiro
(devem ter sido elas a inventar as primeiras latrinas). Já os homens e os
cachorros seus acompanhantes podem cagar e mijar em qualquer lugar, sem falar
em cuspir, porque vão demorar a voltar ali e passado esse tempo a catinga
denunciadora terá sido extinta. Daí que escarrar nas antigas escarradeiras não
fosse senão afirmação de masculinidade, de presença de homens adultos no local.
As mulheres não
podiam se dar a esse luxo e assim devem ter se tornado obsessivas com limpeza,
passando-a por treinamento às meninas que iam se tornar mulheres, e aos meninos
enquanto estes não se tornavam guerreiros, quer dizer, homens. Isso pode ser
rastreado PORQUE ao fazerem a transição de meninos para homens aos 13 anos ou o
que for os convertidos devem passar por RITOS DE LIBERAÇÃO de sua “errada”
feminilidade imposta pelas mães. Como resultado disso, oferecer nos
supermercados produtos de limpeza aos homens não é frutuoso, sequer de bom tom:
homens gostarão de espaços abertos, sujos, fedorentos, livres. Mulheres de
espaços fechados, limpos, cheirosos, livres. A repugnância dos meninos às
regras femininas deve poder ser rastreada.
Por outro lado, as
mulheres durante a sangria das regras vazam sangue no ambiente, o que atrai as
feras. Não podem ter sido os homens (que nem sabiam o que estava se passando -
sendo apenas recusados durante o período mensal-lunar) a introduzirem as leis
de “impureza” e sim as próprias mulheres, que levantaram tabus; as outras
deviam escorraçar aquelas em período de sangramento, porque estas colocavam o
lado feminino da tribo em perigo. Com certeza as colocavam de banda nalgum
lugar remoto das cavernas, onde fumaças e fogos deviam servir para ocultar o
chamamento do sangue.
Se as mulheres têm
essa tendência forte, dominante, de arrumar, isso nada tem de natural, foi
coisa construída de um lado pelos ambientes pelos quais passamos. A dialética
ambiente-pessoa possibilitou essa forte disposição, que viceja hoje, quando os
tempos são de outra arrumação socioeconômica. As mulheres não vão conseguir
vencer o instinto, a não ser em muito tempo.
Vitória,
segunda-feira, 10 de novembro de 2003.
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