segunda-feira, 30 de outubro de 2017


Palavrões

 

                            Certo dia o povo acordou revoltado em conjunto – porque particularmente cada um e todos eram revoltados com alguma coisa, mas nesse dia por assim dizer aglomerou, sem quê nem para quê, vindo do fundo da alma de todos e cada um – e exigiu o fim dos palavrões na mídia (TV, Revista, Jornal, Livro, Rádio e Internet).

Burocracia
Congresso
Fiscalização
Governo
INSS
Políticos
Queimadas

E várias outras foram definitivamente proibidas. Todos passaram a raciocinar profundamente e viram que nada disso prestava. Quanto mais raciocinavam e debatiam mais foram vendo que podiam ser felizes se evitassem os palavrões (exceto na fase de inocência, em que falta racionalidade).

Tudo começou naquele dia em que o povo saiu às ruas com faixas e palavras de ordem dizendo “abaixo os palavrões”.

Vitória, agosto de 2005.

Os Trilhões que Habitavam o Lugar e a Produçãorganização Deles

 

                            Não estou falando do conjunto dos seres humanos, que não passam de 6,5 bilhões na Terra atual, um milésimo do que desejo mostrar.

OS TRILHÕES CUJAS IDENTIDADES NÃO CONHECEMOS PLENAMENTE (mas sabe-se que são de 200 tipos diferentes)


Formado de um óvulo que mal se pode ver, apesar de ser a maior célula do corpo da mulher, e de um espermatozóide masculino que é realmente invisível ao olhar humano, surge essa criatura de trilhões de células distintas em 200 grupos – agora ela pode crescer por contar própria, se for alimentada, rir e chorar, ter emoções e pensar, elaborar seus autoprogramas como ainda não sabemos nem de longe fazer; mesmo após 3,8 bilhões de anos de Vida, parte de 100 milhões de anos dos primatas até a derivação, parte de 10 milhões de anos dos hominídeos, parte de 200 mil anos dos neanderthais, 80 a 70 mil anos dos cro-magnons, 11 mil anos de civilização desde Jericó, mais 5,5 mil anos de acumulação escrita ainda não fomos capazes não só de explicar como de fazer pela prática, sem compreensão total; porque é muito complexo.

Dois desses, a Eva Mitocondrial e o Adão Y - como chamei EMAY– criaram o mundo como o conhecemos. OS Nemay (neanderthais de EMAY) deram origem a tudo. Bastaram 200 mil anos depois dessa montagem e desse encontro. Tal criatura extraordinariamente complexa, esse formidável programáquina de trilhões de tijolos, essa casa fantástica é capaz de todos os gestos que vemos. E, veja, as pessoas se acham pobres, tendo trilhões para gastar e gostar.

Vitória, agosto de 2005.

Os Recados de Mamãe

 

                            Usando a Rede Cognata lá vamos nós decifrando outros sentidos nas palavras e compondo com elas muitas frases.

                            Isso vem de Descartes, com seu famoso Cogito, Ergo Sum (Penso, Logo Existo), que podemos traduzir de muitos modos.

TRADUZINDO (do latim e do português para o português; são muitas, não darei todas)

·       Cogito = CRIADOR = G = ATO = ATIVO = ADORADO = CORREDOR = QUADRO = CORTE = CEDO = CARO = CREIO = CÚ;

·       Ergo = EGO = TU = TODO = TERRA = TE = ACRE;

·       Sum = SOU = AMO = HOMEM = PAI = SÓ = SOM = PUM;

·       Penso = HOMEM = ÍMANE = AMOR = HONRA = PIRÚ = PAU;

·       Logo = TÁ = TODO = TATO = DEDO = DOR = EQUILÍBRIO;

·       Existo = ESQUELETO = MOLDE = MUDO = MORTO = EXILADO = ESPOSADA = METIDA = METIDO e outros.

DESPONTAM ESTES CONJUNTOS

·       Cogito, ergo sum = CRIADOR, TE AMO = ADORADO, TE SOU;

·       Penso, logo existo = HOMEM, TUA MULHER = PAI, TUA ESPOSADA.

Não é extraordinário (imagino que as outras composições também sejam; algumas podem ser extremamente perversas)? Parece um Ente falando, como se Deus papai de todos e mamãe Natureza estivessem conversando, por vezes de forma muito aflitiva e ofensiva.

Vitória, agosto de 2005.

 

                            DESCARTES

Descartes, René (1596-1650), filósofo francês, cientista e matemático. É também muito conhecido pelo nome em latim, Renatus Cartesius. Pode ser considerado o fundador da filosofia moderna por ter rompido com a predominância da escolástica e fundado seu próprio sistema de pensamento. Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.

Os Monstros de Terno

 

OS YUPPIES (vem de Young urban people, YUP, jovem povo urbano – vicejaram na década dos 1980 e 1990, atravessando como enternados na década dos 2000)

[Este nem preciso esconder o rosto porque é ladrão mesmo]

Evidentemente eles são um dos cânceres do mundo. Para ter e pousar com o ter eles são capazes de tudo, de vender pai e mãe, irmãos e filhos, corrompendo-se e sustentando o poder burguês. Tendo-se como pessoas bonitas e bem apessoadas, bem vestidas e brilhantes física e mentalmente, superiores em todos os sentidos, o supra-sumo da humanidade, eles não só desdenham os demais como para sustentar seus vícios comuns e incomuns praticam todo tipo de sordidez. Sinto um nojo irrefreável deles, porque são os cavalos elegantes da burguesia.

Vitória, Vitória, agosto de 2005.

 

O QUE SÃO OS YUPPIES

Afinal de contas! O que são yuppies? Você se lembra das hippies? É basicamente o contrário, enquanto a turma do paz e amor era totalmente desapegada a bens materiais, a turma da Wall Street é capaz de tudo para ter algo mais valioso que outro, o julgamento das pessoas era pelo aquilo que tinham ou aparentavam ter, eles conduziam grandes carrões, tinham apartamentos decorados de forma minimalista mas chique (muitos cromados, muito vidro...) e vestiam os fatos da moda (sempre de marca, claro!)!

O Vôo da Lagaru

 

                            Teria de ser muito parecido com este filme abaixo, exceto que seria uma nave espacial vinda à Terra para buscar mineiros que estariam aqui extraindo qualquer mineral muito raro - tudo acontecendo há vários milhares de anos no passado, digamos 15 mil ou 45 mil, o que fosse - porque foi descoberto dele em lugares muito mais aprazíveis.

                            Se o filme abaixo conta a bravura sempre propagandeada dos americanos e o que pode fazer um engenheiro “destruidor de problemas” (como disse o professor de Gabriel) encarnado pelo Ribisi junto a uma quantidade de profissionais dedicados, o outro filme seria sobre a bravura alienígena, para mostrar os aliens como uma raça racional qualquer, com tantos valores quantos os nossos. O diretor aproveitaria para passar alguns flashbacks (voltas rápidas ao passado) de cada um, mostrando os xenomundos. Criei o nome acima, pode ser qualquer um.

                            Seria algo de muito trivial, bastante comum, mas com gestos de heroísmos desses alienígenas.

Vitória, agosto de 2005.

 

                            A BASE SERIA O FILME O VÔO DA FÊNIX

O Voo da Fênix
Uma tempestade de areia faz com que um avião caia no deserto de Gobi. Sem comunicação e com pouca água e comida, os sobreviventes decidem levar adiante um plano inusitado: construir um novo avião a partir dos destroços do primeiro.

domingo, 29 de outubro de 2017


O Rapaz da Manutenção

 

                            Um dia eu estava passando na rua e tinha um bichinho estranho na calçada. Abaixei e peguei nele, porque ninguém estava reparando mesmo. Peguei pra mim. Perguntei em volta, mas o povo fazia que nem via, a indiferença das cidades é terrível, muito deprimente. Não é só em Nova Iorque que ninguém faz nada, em toda parte é a mesma coisa, menos nas cidades muito pequenas, em que todos perguntam. Aí ficamos incomodados exatamente por isso. A humanidade nunca está satisfeita.

                            Era uma criaturinha estranha mesmo, coisa de outro mundo e fiquei com ela dois meses, até que apareceu um povo dizendo que era deles e até apresentaram documentos. Eu dei, fazer o quê, já tinha me acostumado. Bicho é uma bosta, mesmo, a gente se apega, pega amor pela coisa e depois rebenta algo dentro da gente. Pouco tempo e já é assim. Nunca tinha visto animal feito o Geraldo (era um sujeito esquisitão que era meu amigo, coloquei o nome no animal, ele fez desfeita; ah, bom, ele não ficou sabendo mesmo!). Era mansinho comigo, mas creio que fazia medo nos cachorros e gatos da redondeza porque não sobrou um, fugiram todos. Sei lá, sumiram, acho que tinham medo do bichinho e evitavam se aproximar.

                            Depois, um sábado eu tava indo pro futebol e vi na parede de um prédio uma coisa pontuda aparecendo, fiquei um tempão olhando, o pessoal passava e me olhava de banda. Que que é, endoidaram? Fiquei mirando e admirando, olhei com atenção, peguei, passei a mão, que troço esquisito saindo assim da parede – quem foi o burro que fez essa burrice? Quem vai construir uma parede com uma coisa doida dessa enfiada? Fiquei cismado duas semanas, mas no sábado seguinte não pude ir pra partida, dei uma topada, tive até de dar ponto, acredita? No outro sábado não tava mais lá. Tiraram, é lógico, e fizeram o serviço bem feito, nem marca ficou. E olha que eu sou pedreiro, é difícil rebocar sem deixar marca, mas tava tudo certinho, olhei de perto. Que trabalho bem feito, ô xente!

                            Duma outra vez foi um globo parado no ar dentro de um bar. Chamei um companheiro. Que é isso? <Isso o quê? > Isso. <O quê, porra? > Isso aqui, caramba, esse troço, esse negócio aqui, merda. <Cê tá doido? > Vai dizer que você não tá vendo? <Não tô vendo porque não tem nada aí> Outros se juntaram no bate-boca, foi uma zona do cacete. Aglomerou, chamaram a polícia, fui parar no hospital, me deram remédio, faltei três dias no trabalho, também dei porrada pra caramba, me internaram, o patrão apareceu, foi assustador. Disseram que eu tinha enlouquecido. Eles que são cegos de não ver uma bolona assim bem paradinha no ar. Se tava ali bem nas fuças de todo mundo, como é que pode?

                            Daí, vez em quando acontecia uma coisa assim e eu comecei a pensar mesmo que tava zureta, doidinho de pedra. Fiquei com medo, pode acreditar. Começou a me dar uns calafrios, senti as pernas bambas, ai meu Deus, tô ficando doido, que será de mim, vou sair por aí falando doideira.

                            Até um dia que apareceram uns caras lá no meu barraco, pediram para entrar e começaram a conversar e aí eu fui ver que não tava doido não, é problema de manutenção do Programão. É que umas coisas falham. Não é problema de Deus, não senhor, o Plano é perfeito mesmo, são os materiais que não são muito confiáveis, exatamente por serem materiais e caóticos – em algum momento dá pau, entra em colapso. Aí é que nós entramos em ação, para corrigir esta ou aquela desconformidade. A maioria não vê nada, mas de vez em quando surge um ou outro que vê algo, escuta algo, cheira algo, toca algo, esse tipo de coisa. Se nós conseguimos corrigir a tempo a vida prossegue, mas há uns espíritos muito agudos e sensíveis que devem ser chamados, como você. Se você topar irá para treinamento num certo lugar e será um dos rapazes da manutenção, as coisas com defeito devem ser substituídas, está na garantia. Se não, infelizmente, será preciso dar outro jeito.

                            Vitória, sábado, 12 de março de 2005.

O Ponto-Cabeça e o Mundo Diante Dele ou Quanto Custa se Centro

 

                            Olhando cada pessoa na rua (se olhassem para mim seria a mesma coisa) podemos ver um ponto-cabeça se abrindo diante do ilimitado que é o futuro: cada decisão que tomamos repercute no futuro de mil modos diferentes, construindo-o, na verdade ameaçando destruí-lo. Se dependesse de nossas competências o futuro seria algo de bem deplorável, mesmo, porque não há como tomar as decisões corretas, de jeito algum. Cometeríamos necessariamente erros.

                            O PONTO-CABEÇA E O FUTURO QUE ELE ABRE

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         Se, NECESSARIAMENTE, ser racional é ser incompleto e cego, impotente diante das equações inumeráveis que representariam as decisões mais equilibradas e frutuosas, o que é então que produz os acertos? Somos nós mesmos, mas não por nossa intenção.

A CURVA DO SINO DOS GRANDES NÚMEROS DE DECISÕES IMPEDE QUE NOSSOS ERROS CONDUZAM AO DESASTRE (quanto maior o número de humanos e maiores os conjuntos de problemas-soluções, maior a chance teórica de dar certo)


O CENTRO E O CÍRCULO


Falei do círculo e de como o centro é o equilibrador de todos os pares polares opostos/complementares pelo centro, como diâmetro, cada um constituindo o terceiro – que é solução - a partir de dois que se opõe. Eis porque é tão difícil ser centro (na Rede Cognata = CRISTO = GOVERNANTE = ADMINISTRADOR), porque é preciso produzir circunferência exterior que tenha a mesma circularidade ou solução ou proteção ou engenharia EM CADA PONTO, quer dizer, não deve des-toar, sair do tom.

Por si só cada um de nós tenderia a conduzir ao des-astre, ao desalinhamento dos astros ou dos modelos, mas o Cristo, não, ele conduz a uma solução belíssima que no plano é o círculo e no espaço é a esfera, com TOTAL alinhamento dos opostos, que a partir daí se tornam complementares.

Vitória, agosto de 2005.