O Fim da
Promiscuidade
Como vimos, no
Modelo da Caverna dos homens caçadores e das mulheres coletoras despontou que
todos viviam em grande amontoado dentro das cavernas. Os machos e as
pseudofêmeas (estas deviam ser, classicamente, 2,5 % ou 1/40 do total
populacional – se existiam menos de 40 habitantes a chance toda era não haver
nenhuma) saíam muito para caçar, ficando as fêmeas e pseudomachos, mais
crianças, velhos, doentes, anões e anãs, portanto 50 % de fêmeas e
pseudomachos, mais 25 % de meninos, mais os demais, talvez saíssem uns 20 % de
todos.
Quando os machos
voltavam era uma festa danada e todos copulavam abundantemente, de forma que a
cada partida dos machos todas as fêmeas estavam grávidas (ficavam umas poucas
pseudofêmeas, engravidadas a pulso nas caçadas; mas uma quantidade tendia a
sair até bem tarde, talvez o sétimo ou oitavo mês), menos as deploradas
mulheres inférteis – e os pseudomachos, claro. Acontecia então de todos ficarem
juntos, transando e transando continuamente dentro das tocas e nas suas
imediações, na presença de meninos e meninas, ou escondendo-se muito pouco,
como ainda acontece entre os índios.
Promiscuidade tem
sentido de mistura desordenada, confusão, convivência muito próxima de pessoas
de todo tipo. Mas não tinha na origem esse sentido perverso que adotou
recentemente, de uns séculos para cá, quando ingleses e outros europeus e
americanos e outros povos começaram a adotar a postura de separar os filhos, o
que é saudável por uma parte e doentio por outra. Por um lado permitiu o
crescimento não-supersexualizado das crianças e por outro as adoeceu, porque
nas cavernas as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas – não essas de
agora, mas iniciativas) conviveram pelos dez milhões de anos dos hominídeos,
criando uma dependência mútua extraordinária que a postura principalmente
americana veio desfazer, talvez derivando dessa distância familiar todos os
males que eles estão padecendo agora.
Imagine que as almas
humanas foram moldadas por dez milhões de anos e até pelos 100, 50 ou 35 mil
anos dos sapiens e que agora, de 200 anos para cá, pais-e-mães e filhos e
filhas foram separados. Desastradamente, acredito, gerando todas essas
psicopatias (doenças da alma) e sociopatias (doenças da cultura ou nação ou
povelite) americanas, que o mundo por cópia está partilhando. De muito ao mar
passamos a muito à terra, oscilando barbaramente da esquerda para a direita (ou
vice-versa). Esse desacerto custou-nos inúmeros casos de confronto e conflito
interpessoal, principalmente interindividual e interfamiliar, mas não só. A
mídia (TV, Rádio, Revista, Jornal, Livro e Internet) americana noticia isso
constantemente.
Era erradíssimo pais
e mães se relacionarem com filhas e filhos e foi MUITO BOM cortar esse mal,
porém do outro lado a distância colocada levou à separação dos adultos em
relação às crianças e a todos esses choques, além de a exacerbação e a
amplificação do número de divórcios. Pense só na falta que faz às crianças a
presença de pais e mães. Acho que as casas deverão ser redesenhadas no futuro
para o meio-termo, quer dizer, sem a promiscuidade das cavernas, pois devemos
caminhar para longe de seus erros, e sem o excesso de separação de hoje. Os
psicólogos deverão estudar uma solução compatível 50/50 com os
arquiengenheiros. Isso - é claro - significará centenas de milhões de casas
novas e o treinamento de gerações de casais, de modo que daqui a, sei lá, 60 ou
120 anos tenhamos uma coletividade equilibrada. Quase todas as casas de agora
deverão ser derrubadas (os casos mais graves) ou refeitas (as aproveitáveis),
de modo a adotarem a nova postura. Tudo muito lento e cuidadoso, de forma a não
cairmos em outros exageros de um ou outro lado da média. Custo grande, mas que
tende a sarar a humanidade de suas tensões e traumas (os traumas da sexualidade
foram substituídos pelos traumas do distanciamento – ambos devem ser evitados).
Vitória,
segunda-feira, 12 de janeiro de 2004.