O Trabalho Oculto
Se eu tiver chance
de terminar o 50º livro serão (50 x 50 =) 2,5 mil artigos. Contando que para
cada um leve, entre escrever e corrigir, 40 minutos, teremos (2,5 mil x 40 =)
100 mil minutos ou umas 1,7 mil horas ou cerca de 200 dias de oito horas ou 400
de quatro horas, todos os dias, fora aqueles em que estive nos plantões ou
impedido de alguma forma. Falo de mim porque conheço o caso e ninguém vai me
processar por estar falando, mostrando de público.
Como eu, existem
muitos milhões.
Há o trabalho
evidenciado, de escritório, que todos vêem, com muito fingimento e enganação,
porque as pessoas se sentem forçadas e rejeitam dar-se nesse estupro do prazer
de fazer, e há o trabalho espontâneo ou contratado feito em casa, longe das
vistas. Neste caso se encaixava o Jorge Amado, que escreveu uma quantidade de
livros que deleitam a população através do mundo e terão ainda uma vida útil de
décadas, senão de séculos; ele mesmo dizia que escrevia todos os dias,
religiosamente, muitas e muitas horas – e a maioria do povo não sabe disso.
Se a gente pensar
quantas pessoas estão nessa condição!
Os artistas e os
corredores que treinam todo dia oito horas ou mais, sem que ninguém fique
sabendo, ou com as pessoas acreditando que eles vivem uma vida de divertimentos.
Ou a pontinha que é o filme na tela, atrás dele tendo ficado milhares e até
milhões de horas-homem (melhor seria dizer horas-trabalho) e centenas de
milhões de dólares, tanto quando uma grande fábrica.
A gente nem faz
idéia quanto desse trabalho oculto nos beneficia em nossa existência muito mais
rica de hoje em dia, mas faria todo sentido alguém contar isso em livro,
enquanto visão geral, que não mire ninguém em particular (porque seria
constrangedor).
Vitória,
quarta-feira, 12 de novembro de 2003.