Malandragem Carioca
Não tenho os dados
corretos, seria preciso você pesquisar, mas tomemos como sendo de 35 % do PIB
nacional a participação do Rio de Janeiro em 1960, ao passo que agora está
quase empatado com Minas Gerais nuns 12 %, tendo caído, digamos, 23 %, para
1/3. A população do Brasil cresceu na década dos 1960 3,2 % ao ano, enquanto
agora cresce 1,6 %. Suponhamos 2,4 % de média. Em quarenta anos multiplica por
2,6. Dividiu a renda por três, multiplicou a população por dois, vírgula seis, pelo
menos (POR BAIXO, pode ser até o dobro) a renda percapita dos fluminenses
desceu PERCENTUALMENTE a 1/8. É claro que absolutamente o Rio de Janeiro
cresceu muito, especialmente nos últimos oito anos, quando Fernando Henrique
Cardoso, presidente da República fluminense de nascimento, injetou recursos lá,
de 1994 a 2002, com qualquer governador, de oposição ou não. Além disso, há o
petróleo, que tem dado um impulso poderoso.
Há essa coisa da
“malandragem carioca”. Bom, até 1960 o Rio de Janeiro era a capital da
República, papel que Brasília exerce deste então, carreando grandes recursos de
manutenção e ostentação, fazendo dela a maior renda percapita do país hoje. Os
cariocas eram nababos, viviam no “bem-bom”, na felicidade das tardinhas regadas
a dinheiro extraído das minas estaduais, sem saberem de onde vinha. Quando a
fonte secou a renda percentual começou a declinar terrivelmente, a proeminência
dos fluminenses, habitantes do estado do Rio de Janeiro, especialmente dos
cariocas, moradores da cidade do Rio de Janeiro, no cenário nacional foi quase
ao fundo.
Como é que cariocas
e fluminenses se arranjaram? Que tipo de coisas fizeram para realizar essa
custosa passagem? Que inferno enfrentaram que veio dar nessa caracterização de
“malandragem”? Que adaptações socioeconômicas precisaram arranjar? Aí já saímos
do folclore cultural para as teses de mestrado, doutorado e pós-doutorado DE
TRANSIÇÕES, um fenômeno nunca estudado, ao que eu saiba. Como o RJ transitou de
sua condição de foco das atenções para um enjeitado políticadministrativo? E,
mais ainda, diante do crescimento exponencial de São Paulo, que em 40 anos
passou de população menor a população muito maior? Quais foram os
comportamentos de cariocas e fluminenses? Como eles reagiram? Essa é uma lição importante,
não apenas para o Brasil como para o mundo inteiro.
Vitória, sábado, 04
de janeiro de 2003.