Tá Entendendo, Pai?
Certo
dia fomos Gabriel e eu, como fazemos com certa frequência, tomar água de coco,
perto do carro estando pai e seu filho de dois ou três anos. Em um instante
qualquer o menino perguntou “tá entendendo, pai? ”, querendo dizer: ESTÁ
PERCEBENDO O CONCEITO?
Pois
ninguém pode pretender que se perceba o sentimento ou o sentidinterpretação.
Ninguém perguntaria se outro está entendendo o que ele está ouvindo, nem se
percebe o amor que sente. As pessoas meramente anunciam os sentimentos ou os
sentidinterpretações. Estou vendo, te amo, está quente. Ninguém pergunta: você
está compreendendo minha desolação? Sentimentos não são transferíveis, eles são
apenas sentidos; podem até ser interpretados depois, mas não são transferíveis
enquanto essências.
O
garoto estava perguntando se o pai percebia o conceito.
Isso
com dois ou três anos, mal tinha aprendido a falar e não só compreendia a
complexidade da língua como estava apto a perguntar a um adulto, muito mais
velho, com 7, 8, 9, 10 vezes a sua idade, se estava percebendo as estruturas
por debaixo das formas.
Como
perguntou Chomsky há 30 ou 40 anos, como é que se dá que as mentes, recém
entradas no mundo, possam desvendar as complexas camadas das línguas? Não há
treinamento. Se houver nem os adultos serão capazes de perceber, muito menos
explicar, como funciona a Língua geral. Nem mesmo os acadêmicos, que passam a
vida inteira estudando o português, podem de fato compreender essa língua.
Então, como é que um bebê de uns meses de idades pode não apenas falar como até
presumir em adultos dificuldades de dedução e inferência, indução? Não é
espantoso demais?
Evidentemente
não apenas a capacidade de decifração está inserida no ADRN como também a mente
não é uma tábula rasa, um quadro sem nada escrito. Há nele potenciais de
decifração que são a priori, realmente. Não que esteja lá a palavra MESA, mas
há lá dentro a capacidade de, EM CONFRONTAÇÃO COM O REAL, manipulá-lo, de
conjugá-lo, de cooptá-lo em seqüências de decodificação. Lá dentro não estão as
palavras e imagens do dicionárioenciclopédico, mas sim a competência ao
emparelhamento em qualquer língua e realidade que seja.
Posta
em pessoambientes ingleses a mente decifra as pessoas e ambientes de lá. Posta
em cenários brasileiros, a língua portuguesa e os virturreais daqui.
Transportada ao Planeta X de Alfacentauri ela falaria todas as línguas X (i),
infalivelmente. Enfim, as mentes são CIRCUITOS DECIFRADORES universalmente
válidos. Aceitam qualquer língua PORQUE aceitam por trás dela a dialógica,
lógica-dialética monodual, direto-relacional implícita no ADRN, que por sua vez
é obediência à construção matemática ou geo-algébrica do universo. Cada mente
é, postas as diferenças de grau, um de-cifrador ou des-criptador universal GA.
E é porisso mesmo que pensamentos e experiências podem ser refletidos e
repensados por todos e cada um, com maior ou menor dificuldade. A mente é um
resolvedor de problemas, inclusive a daquela criancinha. Não é atoa que o
primeiro falar é recebido com manifestações de alegria por pais e mães, como verdadeiro
índice de humanização.
Vitória,
terça-feira, 10 de dezembro de 2002.