segunda-feira, 19 de dezembro de 2016


Pessoa Pública e Pessoa Privada

 

                            Por vezes a gente vê alguns idiotas criticando Einstein ou Mao, ou outras grandes personalidades, o que me irrita. Não que os grandes não sejam criticáveis ou não devam ser criticados, pelo contrário, devemos nos defender ao máximo deles, porque a autoridade excessiva leva à ditadura políticadministrativa ou ideológica, ou à das idéias, ao estreitamento, de todo modo, à ortodoxia feroz.

                            Contudo, devemos separar os elementos, a saber, a pessoa (indivíduo, família, grupo e empresa), que é privada, do ambiente (município/cidade, estado, nação, mundo), que é público. Com certeza não há senão pessoas liderando os ambientes, porisso devemos distinguir entre PESSOA PRIVADA e PESSOA PÚBLICA, sendo esta aquela à qual está afeita tarefa pública, para além da privada.

                            Na medida da PUBLICAÇÃO da pessoa, ela deixa de ser indivíduo, família, grupo ou empresa, exclusivamente, tornando-se pessoa de conhecimento geral.

                            Sabemos que Einstein tinha lá seus pegas com a primeira esposa, Mileva, que ele a tratava mal (e, possivelmente, vice-versa, ninguém investiga o outro lado, PORQUE ela era pessoa privada e o que é privado não interessa ao público, pois não é fonte de escândalos que vendem a mídia e que a mídia vende com amor e dedicação). Há as histórias de Mao com as moças. E assim por diante, a mídia e os jornalistas podem cavar indefinidamente escândalos das figuras proeminentes de todos os espaços e tempos.

                            Entrementes, constituiria argumento ad hominem, contra o ser humano, derivar das características pessoais as características ambientais. Qualquer um poder ser péssimo ser humano (como foi Francis Bacon) e extraordinário filósofo (como ele foi). Pessoa muito ruim, excelente filósofo. Agora, tentar manchar a excepcional filosofia de Bacon com suas particularidades é errado.

                            A separação é fundamental.

                            Apelar à homossexualidade de um político para denegrir sua excelente administração é errado. Por outro lado, esse mesmo político usar de sua posição para desfavorecer a família também é errado.

                            Agora, certas criaturas infames usam as questões íntimas de Einstein, de Mao, de Colombo, de Santos Dumont, de quem quer que seja, para diminuí-los publicamente. O que é público não deve ser tocado pelo que é privado, nem vice-versa.

                            Todos nós comportamos defeitos e nem poderia ser diferente. Entrementes o que tem significado geral é o serviço público, as qualidades de doação – é isso que é grande em cada um. Individualmente todos somos igualmente pequenos, só podendo engrandecer-nos publicamente, por este sinal de doação. Tentar apequenar tal gesto só pode ser coisa de gente complexada. Pessoalmente complexada, que não tem talento para projetar-se no ambiente e pega carona nos ombros d’outrem, o que é deveras lamentável.

                            Vitória, segunda-feira, 24 de junho de 2002.

Pátria Exterior

 

                            Como previ no modelo, a próxima guerra começou dentro dos países centrais, no caso os EUA, em 11 de setembro de 2001, com a derrubada das torres gêmeas do World Trade Center no ataque do Al Qaeda do Osama Bin Laden e seus companheiros.

                            Como é que isso foi se dar?

                            Bom, há muitas causas a apontar, mas a coisa é muito simples, na realidade: os EUA não são mais amados no mundo. De defensores da liberdade eles passaram a opressores e porisso são detestados, especialmente depois de 1991, com a queda da URSS e seus satélites, já a partir de 1989, na Alemanha Oriental.

                            Os EUA tornaram-se apenas uma PÁTRIA INTERIOR, dentro de suas fronteiras. Não são mais amados fora, como já foram a partir de 1776, com sua revolução contra o domínio inglês, e particularmente desde a substituição da Grã-Bretanha na liderança do mundo. Já significaram o lume da liberdade, representado pela chama simbólica da Estátua da Liberdade. Não são mais PÁTRIA EXTERIOR, não detém mais o amor dos povos do mundo, advindo principalmente da alegria mostrada no cinema e em razão da generosidade americana. É claro que era em parte uma bondade interesseira, mas em todo caso não de todo; havia algo de realmente puro naquilo.

                            Tudo isso se foi.

                            De soldado da liberdade o americano tornou-se o opressor reconhecido como tal em toda parte, mesmo pelos amigos acabrunhados, ressabiados e sem jeito. Envergonhados com um amigo que de repente se tornou grosseiro e mesquinho.

                            Ora, é claro que as linhas de defesas são várias, dentro: 1) as pessoas (os indivíduos, as famílias, os grupos, as empresas); 2) os limites ambientais (municípios/cidades, estados, nação). Na Bandeira Elementar toda: ar, água, terra/solo, fogo/energia, no centro Vida e no centro do centro Vida-racional. Defesa quanto aos amigos e quanto aos inimigos, pois um amigo pode inadvertidamente ou por interesse inconfesso (neste caso seria um falso amigo) fazer muito mal.

                            Agora, o principal é a DEFESA EXTERIOR, quando as pessoas de fora estão todas, POR PRINCÍPIO, desarmadas de qualquer intuito daninho. Disso os Estados Unidos dispuseram durante um tempo, como antes Roma muito mais.

                            Querendo ou sem querer o fato é que os americanos foram mestres nisso, através do uso de toda a mídia. Quando passaram a dar importância demasiada a si mesmos, quando deixaram de rir de si mesmos, tudo começou a ir pelo pior. Agora, com a Era do Terror, como vem sendo chamada, as coisas tendem a piorar, com o fechamento e um novo marcartismo a caminho.

                            Quem pode pensar que não vá haver um fechamento geral, das fronteiras e dos humores gerais e particulares americanos?

                            Contudo, se podemos desejar algo de bom àquele povo bravo e de certo modo fiel, apesar de tudo que há nos bastidores, é que ele não se renda ao mau humor, que não se tranque, que não deixe de amar. Como disse São Francisco, é dando que se recebe, e de fato na Rede Cognata DAR = RECEBER.

                            Isso o Brasil precisa aprender: a dilatar nossas fronteiras, de tal modo que não-fisicamente elas abranjam todo o mundo – que todos gostem de nós, para que não precisemos nos entupir de armamentos. Só assim uma nação não é atingida nem dentro nem de fora. Foi o que senti nesta Copa do Mundo de 2002, com torcedores de vários países torcendo pela Seleção Brasileira.
                            Vitória, terça-feira, 09 de julho de 2002.

Outra Visão da Árvore

 

                            Geralmente vemos a árvore com o tronco, os galhos, as folhas, as flores e os frutos para cima. Usei uma vez uma propriedade que chamei de “inversão” para trocar as posições das coisas no modelo, sugerindo-a como tecnociência expansível da prospecção de toda a realidade.

                            Um tempo depois comprei e li quase todo, até este ponto, o livro de Annette Moser-Wellman, Cinco Faces de um Gênio (como descobrir e desenvolver a genialidade e a criatividade humana), São Paulo, Alegro, 2001, onde ela fala de cinco personalidades criativas, o Visionário, o Observador, o Alquimista, o Tolo e o Sábio.

                            Uma dessas personalidades é a que revira as coisas, que inverte as situações, vendo-as de modo totalmente novo.

                            Isso é necessário, como coloquei nas Posteridades e Ulterioridades, de modo a reconceitualizarmos desde o fundo as coisas, virando a ortodoxia do avesso.

                            Por exemplo, você pode ver a árvore arquetípica ao contrário. Normalmente a vemos com tronco, galhos, folhas, flores e frutos para cima, como se esta fosse a parte mais importante, as raízes trabalhando para sustentar tudo isso, pois o objetivo da árvore é sobreviver, criar futuro, deixar descendência. Isso obviamente favorece a superestrutura, deixando a infra-estrutura em segundo plano.

                            O contrário também pode ser feito, vendo a parte de cima como existindo para permitir o espalhamento das raízes, quer dizer, frutos, flores, folhas, galhos e tronco existindo para dar prosseguimento às raízes e ao processo de nitrofixação das bactérias fixadoras. Então veríamos a agora parte de baixo mergulhar no ar e na água (umidade relativa do ar), extraindo energia do Sol para financiar as raízes e seu crescimento dentro da comunidade de raízes.

                            Isso nos faria pensar que de fato tanto a parte de cima, superestrutura ou elites, quanto a parte de baixo, infra-estrutura ou povo, trabalham pelo todo da árvore, povelite ou nação ou cultura. Fazem um conjunto.

                            Tanto povo quanto elites são importantes para o progresso geral, e tanto tronco e o resto de cima quanto as raízes são importantes para o crescimento da árvore. É uma sociedade esquerdireita, que morreria se um dos lados fosse extirpado.

                            Por mais que se detestem e se desprezem mutuamente esquerda e direita fazem parte do mesmo corpo bilateral biológico e psicológico, digamos, sócio-econômico. Juntos conquistam o espaçotempo figurobjetivo ou pessoambiental.

                            Não podem ser separados, sob pena de ambos sucumbirem.

                            Vitória, sábado, 22 de junho de 2002.

O Martelo e o Prego

 

                            Se fosse só pelas palavras jamais saberíamos porque as pessoas falam assim com um tom de significação. É claro que martelo e prego estão associados, o primeiro bate logicamente no segundo, e não vice-versa. Ninguém diz O Prego e o Martelo, é sempre o contrário.

                            Com a Rede Cognata, no entanto, nós podemos entender, pois Martelo e Prego = MODELO E PIRÂMIDE = ESPÍRITO E SANTO = NOITE E PRETA. Ou seja, modelo pirâmide, espírito santo, noite preta, meteorito solto, mortal planeta, morto planeta, muita porta, muita pirâmide, morte súbita e outras traduções. O que a Rede parece estar dizendo é que os meteoritos ligados gravitacionalmente não nos trazem risco nenhum, ao passo que os soltos, sim, são mortais. E que, havendo meteorito solto, já que é noite preta, é indetectável, a única saída sendo estabelecer fora da Terra cidades espaciais. Os soltos viriam de fora, não dos entornos da Terra ou do Sol.

                            A imagem do martelo descendo no prego seria a do meteorito descendo no planeta, o que é evidentemente assustador. Tais acontecimentos do passado remoto ficaram no inconsciente coletivo das espécies terrestres e são relembrados pela imagem arquetípica do martelo batendo no prego, uma evocação atemorizante. Daí a imagem chamar na gente a destruição como término, como terminação, como fim – o que remete à inquietação.

                            Veja que martelo vem sempre primeiro, prego depois. Martelo = MUNDO = MORTO = METEORITO, prego = PLANETA = PLANTA = SEMENTE, o contrário cognato exato de MUNDO. Daí vemos que mundos são mortos, ao passo que planetas são vivos, como eu já disse em Mundos e Planetas, neste mesmo Livro 4. O meteorito, sendo morto, ao cair sobre o planeta, traz a morte com ele.

                            É ou não é apavorante?

                            Vitória, terça-feira, 16 de julho de 2002.

Os 2,5 %

 

                            Da Curva de Gauss (ou Curva do Sino), da margem estatística de erro de 5,0 %, da soma zero 50/50 do modelo, da visão polar dos opostos/complementares e do triângulo bipartido em sombra e luz tirei a idéia de que 5 % da esquerda e 5 % da direita, cada lado com 2,5 % atrai os restantes 47,5 % que lhe estão próximos.

                            Os resultados disso são vários.

                            Olhando cada par de opostos/complementares, por exemplo, argúcia e seu antônimo inépcia, poderemos ver que 2,5 % de cada conjunto serão necessariamente argutos, astutos, perspicazes, finos, espertos, inteligentes, atilados, sutis – mas isso não é somente favorável, é desfavorável também.

                            Olhando verdade e mentira, 2,5 % dos seres humanos vão mentir sempre, em qualquer situação, independente de precisarem ou não, enquanto 2,5 % não mentirão em hipótese alguma, ainda que a situação seja de permissividade total. Cada extremo desses e seus cooptados lutará com o outro extremo e seus aderentes, criando os ciclos. Num determinado instante até 97,5 % estarão de cada lado, o outro lado ficando acossado, sem, no entanto, desaparecer. Sob tão extraordinária pressão o lado atacado inventará soluções novas e começará a amealhar adesões, mudando o sim em não, conforme a dialética. Depois o não será mudando em sim-renovado, e daí segue.

                            Então, num período em que haja extremado livre-arbítrio sexual, licenciosidade, o período seguinte será de puritanismo, de contenção quase absoluta. A geo-história e toda a Psicologia devem ser vistas por essa ótica.

                            A Psicologia (psicanálise/figuras, psico-síntese/objetivos, economia/produção, sociologia/organização e geo-história/espaçotempo) é uma continuada demonstração disso. Em Economia (agropecuária/extrativismo, indústrias, comércio, serviços e bancos), uma época de privatizações (superprivado) será seguida de outra de estatizações (superpúblico). Se segue que a onda de privatizações iniciada por Margareth Tatcher na Grã-Bretanha e seguida no mundo inteiro, quase, inclusive no Brasil, será irremediavelmente secundada por outra onda planetária de estatizações. É fatal.

                            Quanto mais aguda for uma, tanto mais o será a outra.

                            Resulta disso que sempre podemos esperar encontrar esses 1/40 ou 2,5 % em todos os pares de opostos/complementares.

                            Sempre 2,5 % de histéricos, 2,5 % de comilões insaciáveis, 2,5 % de covardes, 2,5 % de meigos e assim por diante, em tudo que o dicionário nos apresentar. E 2,5 % terão todas as qualidades reunidas. Só que o modelo diz que esses 2,5 % “perfeitos” na realidade vão exigir muito dos demais e que eles não são efetivamente totalmente bons. Só 2,5 % deles serão definitivamente imaculados.

                            Se os 2,5 % licenciosos levam 95,0 % ao seu encontro, a esse domínio seguir-se-á extremo aprisionamento sexual antilibidinoso, antidevasso, de condenação quase absoluta da sexualidade, o que é também ruim, pois muito = MORTE, na Rede Cognata. Os supostamente puros castigarão fortemente os outros todos, começando pela cooptação dos seus 47,5 %, fazendo-os retornar à “retidão”. SE conseguirem os outros 47,5 % acabarão por implantar o terror antissexual.

                            Enfim, os extremos custam muito, de qualquer modo. Tanto o excesso quanto a ausência de sexo são daninhas.

                            O melhor seria se conseguíssemos ficar totalmente longe disso.

                            Contudo, já sabemos que em 2,5 % do tempo isso será impossível; e que nos 2,5 % que forem realizáveis nada lucraremos com a possibilidade. Então, devemos nos contentar com a moderação. Nem um extremo nem outro, nem sequer fazer força para que não seja nem um nem outro, sabendo que fatalmente em algum momento e lugar um ou outro predominarão em ciclo, levando a oscilações tremendas.

                            Seria verdade, essa coisa?

                            Por que razão o universo seria modelado dessa forma?
                            Vitória, segunda-feira, 24 de junho de 2002.

O Espírito das Catedrais

 

                            É risível ler essa história, ou essa incipiente geo-história segundo a qual a Idade Média foi uma época de atrasos, quando olhamos os seus produtos variadíssimos, em especial as catedrais.

                            Olhando as catedrais não deparamos só com a solução (mesmo hoje) invejável de inúmeros problemas de engenharia e arquitetura, em composições belíssimas que atravessaram séculos. Quantos prédios de nossos dias estarão de pé daqui a 700 anos, mesmo se forem tratados com carinho? As catedrais são preces erguidas. E denotam a maioridade dos medievos.

                            A primeira foi, segundo a Barsa eletrônica, a catedral de Pisa, que é de 1063, há 939 anos - já vai completar mil anos. Esse ano marca a independência da Idade Média em relação à Antiguidade, em relação a Roma e à Grécia. A Queda de Roma tendo se dado em 476, 587 anos antes, pode-se ver que é um tempo deveras curto! Menos de 600 anos depois o Ocidente, sob a condução segura da Igreja, já tinha mudado a face do mundo, desde o escravagismo até as novas relações humanas.

                            Então, sucessivamente, os europeus medievais foram erguendo em toda parte notícias, comunicações de sua independência. Mudaram inteiramente sua Psicologia (psicanálise/figuras, psico-síntese/objetivos, economia/produções, sociologia/organizações e geo-história ou espaçotempo). Adquiriram maioridade plena. Aquela única catedral de Pisa foi o anúncio inicial de uma crescente satisfação do povelite/nação europeu. Pela primeira vez os europeus não eram nem romanos, nem gregos, nem judeus, nem egípcios, nem babilônicos, nem persas – deixaram de ser copiadores para serem eles mesmos. O cartaz anunciador disso foi a Catedral de Pisa, seguida de dezenas e dezenas, por toda parte.

                            Cada cidade queria dizer: “veja, nós somos maiores que o passado”. E eram mesmo, passaram a ser.

                            Com as catedrais a Europa anunciou sua superioridade em relação aos complexos de inferioridade, ou seja, sua igualdade, sua autonomia, sua fortuna, sua independência, sua liberdade, sua identidade, seu futuro.

                            Seu, seu, seu e de mais ninguém.

                            Não foi na Queda de Constantinopla em 1453, foi bem antes. Com aquilo começou a verdadeira Reforma, a construção verdadeira da Europa. Tudo que veio depois (Renascença, Iluminismo, Século das Luzes) teve sua pedra fundamental naquela primeira catedral.

                            É claro, as pessoas em geral passaram ao largo dessa constatação, o que é uma pena, sob a ótica da melhor interpretação que esperaríamos sobre a geo-história.
                            Vitória, domingo, 30 de junho de 2002.

O Acúmulo do Mal

 

                            O mal que fazemos é como acumular numa represa de hidrelétrica, atrás da qual vai se juntando o mal em milhões de metros cúbicos. Cada um faz um pouquinho. Uma palavra displicente com um filho, aspereza com um colega de trabalho, pessoas que são abandonadas pelos governantes, roubos, furtos, juros, telefones grampeados, drogas, álcool, sexo exposto no TV às crianças, um milhão de modos de fabricar a dissolução.

                            Depois, nós reclamamos.

                            Todos aqueles infinitos pequenos gestos, aos quais pouca ou nenhuma importância damos.

                            O certo seria a gente agir sempre com o coração puro, pensando em fazer o bem a outrem, como os santos, e mesmo assim haveria uma carga residual, pois não somos verdadeiramente isentos. No entanto essa carga mínima seria tão pequena que a soma contínua de mal chegaria a ser o Mal, mal absoluto, muitos séculos ou milênios depois. Porém, do jeito que a humanidade está acumulando tão rápido, poucas décadas já levam ao rompimento da represa.

                            Então as pessoas e ambientes, as pessoambientes, os governempresas políticadministrativos vão providenciando remendos aqui e acolá, de modo a aumentar a base da represa, sua resistência ao extravasamento. Quanto tempo isso pode durar, se o peso acrescentado acaba por ser demais para a base? 

                            Vem um iluminado ou muitos e muitos santos que conseguem com seu sacrifício esvaziar a represa, às vezes até quase o chão, para logo em seguida ela ser cheia de novo pelas perversidades humanas. Lá vai a carga extraordinária da humanidade sendo entupida até a borda.

                            Quem são os que, tipicamente, enchem e esvaziam?

                            Seria preciso estudar, em teses de mestrado e doutorado, cientificamente. Há o preenchimento passivo, por descuido, por desleixo, por apatia, e o enchimento ativo, o mal orientado como tal. Há o mal que é pago e há o gratuito, há o infantil e o adulto, o masculino e o feminino, há todo tipo de mal.

                            Se o mal só beneficia a quem o pratica ou o teoriza, o custo dele é coletivo, é geral, é para todo o conjunto dos seres humanos, tanto para pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) quanto para os ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo).

                            Os iluminados forneceram regras de vida, listas de bem-aventuranças, de verdades nobres, de modos e posturas adequadas à mente e ao corpo, que nós não seguimos. Está chegando um tempo em que não mais poderemos nos esquivar, porquanto o poder dado a todos e a cada um excedeu a sustentação autônoma da vida. Pode-se, com uma praga biológica sintética, destruir toda a existência, como antes as bombas nucleares ameaçaram fazê-lo. A diferença é que para fazer isso com elas, antes, era preciso toda uma coletividade trabalhando, feitos os EUA e a URSS, ao passo que agora qualquer bio-arquiengenheiro pode, com a recombinação genética, criar uma nova forma letal de vírus em casa mesmo, comprando os materiais pelos Correios.

                            Havendo muito mais chance de degeneração mental de uns e outros, o perigo se tornou intolerável. Se devemos fazer algo para pacificar definitivamente a humanidade, é agoraqui que devemos fazê-lo.

                            Vitória, domingo, 14 de julho de 2002.