sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Pigmeu-Leão


 

Pigmeuleão era grande artista.

Grande no sentido da perfeição de suas obras, porque pequeno no tamanho. Era escultor, mas dos mais competentes do mundo, TÃO competente que era comparado aos maiores: Policleto e Fídias, Michelangelo, Bernini, Rodin, Kuebler, Mueck e os hiper-realistas pós-contemporâneos.

PIGMEU, O LEÃO


A questão toda é que ele era baixinho, entende?

Baixinho MESMO, entende?

Para dizer tudo, 1,42 m, o pessoal fazia ele de roll-on (esse é de uma amiga, aconteceu com ele também e bem antes, só que eu nunca tinha pensado nisso) nos ônibus. Apoiavam o sovaco na cabeça dele e ficavam esfregando, parecia desodorante roll-on. Isso quando ele era estudante, depois que enricou nunca mais andou de ônibus.

E teve aquela vez em que indo de Jucutuquara para Camburi jogar futebol pisaram no calcanhar dele e pediram desculpas, um cara grande, ele virou pra mim e disse entredentes: “depois que inventaram essa tal de desculpa nunca mais pude dar porrada num filho da puta! ” Nunca esqueci, ele tinha 18 pra 20, faz quase 40 anos.

NUNCA, MAS NUNCA MESMO o chame de Batata, nem os amigos mais íntimos, ele fica uma arara: uma arara pequena, é certo, mas uma arara. Mais de uma amizade esteve para acabar, antes que o idiota se desse conta.

E alguns maldosos dizem Pigmeu-Leão. Leão ele é mesmo, um leão pequeno, é claro, um gatinho, mas um gatinho feroz, não fique na frente dele. Por quê as pessoas falam isso? Inveja, eu acho, pela grandeza moral e artística dele, pelo dom, eu creio. Ele sofre, mas sofre em silêncio, não quer dar o braço a torcer, o bracinho a torcer, é certo, mas é resistente, tem estatura moral que falta a tantos.

Agora, chamar de Pigmeu já é maldade. Pior ainda é Pig, porco em inglês, isso nunca, aí já é achincalhe, já dei porrada em três.

De nome mesmo é Tércio, por ser o terceiro filho.

Acontece que o Tércio, com aquele complexo de inferioridade que tem e que não deveria ter, em vista de sua grandeza artística, queria mulher, como todo macho quer mesmo, mas um mulherão, e pôs-se a esculpir, camarada, aquela foi demorada, porque a par de suas tarefas e das numerosíssimas encomendas todas caras ele queria detalhes, daí demorou meses, demorou anos. Encomendava um bloco, começava, quando já estava na metade ficava com raiva, quebrava tudo. Começava outro e depois de dois anos e meio de trabalho um detalhezinho não encaixava e ele rebentava tudo com marretas, claro, marretinhas que eram como martelos para os outros, mas para ele era marreta e pronto.

Então, lá pela sétima ou oitava tentativa, ficou pronta e fosse pelo que fosse Pigmeuleão ficou apaixonado. Xonadinho! Doido de pedra.

Ele colocou o nome de Gala Téia.

Pois é, a Téia despertou para a vida e de início via somente o Tércio, não via mais ninguém, ficaram de amores; com o tempo e as visitas a Téia conheceu um moço de barriga de tanquinho, saradão, cheio de músculos, alto, pouco mais de 1,80 m, ela que tinha 1,73 m, se apaixonaram e fugiram juntos, Tércio ficou a ver navios que ele mesmo fazia. Por que não construiu a formosíssima de 1,35 m, pouco menos que ele? Eu falei, mas conselho adianta?

Desde então ele nunca mais fez nem um pirulito de pedra, parou de esculpir, está vivendo de rendas em Nice e a chama de Galinha.

Eu disse.

Tércio, não faz isso.

Ele quis me ouvir?

Serra, quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012.

Pé de Valsa


 

- Tenho para mim que os pés de Valsa dão mais em clima frio.

- É?

- É, sim. Por exemplo, no Brasil eles não pegaram, exceto no Sul, onde em colônias alemãs parece que há alguns exemplares, mas mirradinhos, nunca esplendorosos como os austríacos. Na Áustria os Strauss foram grandes desenvolvedores de Valsa, cultivaram muito, expuseram grandes exemplares. Não só eles, outros também.

- Lá isso é, fora engano não se dão muito bem na América Latina, até onde fui, nem, parece nas América Central e América do Norte, pelo menos que eu saiba, talvez o plantio tenha sido deficiente.

- Será que só dão na Europa?

- Não posso afirmar, teríamos de pesquisar com os maestros, mas assim de pronto, dentro da minha memória não há nada na China, na Índia, sequer no Japão, onde eles assumem e desenvolvem tudo. Foram bons em lentes, carros, (se deixassem, aviões e satélites), em computadores, em tudo mesmo, exceto em valsas. Lá não frutificou. Você sabe de alguma?

- Não, é estranho mesmo. Eu, por exemplo, já pesquisei na Internet e nada. Talvez eu tenha sido incompetente ao perguntar.

- Que nada, eu também já perguntei.

- É esquisito. Será que o pé de Valsa não se adapta? Talvez seja o jeito de colocar na terra ou falta cultura? Será que faltou alimentar direito, faltou conhecimento? Alguém tentou transplantar para esses lugares?

- Taí uma coisa curiosa, acho que vou pesquisar. Vamos começar pela universidade.

- Não sei se será útil, a universidade não dá bola para as coisas importantes.

Serra, segunda-feira, 05 de março de 2012.

 

VALSAS NO BRASIL (os personagens de ficção também se enganam, falta atenção na ficção)

Sábado, 15 de abril de 2006

Valsas brasileiras

http://photos1.blogger.com/blogger/5526/2097/320/valsa.jpg
A valsa chegou ao Brasil no final da década de 1830 e imitou inicialmente o modelo europeu. A partir de 1870, com o surgimento do choro, os músicos brasileiros imprimiram novas características às composições e a valsa tornou-se um gênero da música popular. Entre os primeiros compositores de valsas estão Alfredo da Rocha Viana, pai de Pixinguinha, e Ernesto Nazareth.

Parece Ficção


 

- Todos prontos para saltar?

Todos responderam a uma só voz pelo canal subetérico, uma capa de inumeráveis seres postos a ½ ano-luz do Sol, para além da Nuvem de Öort:

- Sim.

E saltaram.

60 bilhões de seres-naves, seres-novos expandidos das formas de vida antigas e construídos saltaram rumo à Galáxia, uns para perto, na Constelação, outros para bem longe atingindo velocidades sub-luz.

Iam colonizar.

Corria 2150 e apenas 150 anos antes era julgado impossível, as pessoas tinham feito “previsões lentas” de que demoraria milhares de anos. É verdade que não sabemos pré-ver.

Por todo o Primeiro Sistema trilhões de criaturas estavam ligadas a seus irmãos e irmãs voadoras, milhões de baleias-expandidas, golfinhos-expandidos, primatas-expandidos, humanos-expandidos, elefantes-expandidos e outros como androides e ciborgues de todos os tipos, robôs e computadores, todos eles voavam, enquanto os que ficavam nas cidades celestiais voltavam a suas atividades de colonização interna.

Depois de descoberta a ligação cérebro-cérebro, depois de inventados os primeiros seres-novos a expansão foi rápida, exponencial. Não havia mais seres isolados, todos estavam conectados. Nem as naves espaciais que surgiram se assemelhavam àquelas planejadas pela FC, de modo nenhum. Cada ser estava ligado a todos os outros e para todos os efeitos era entidade única com quatrilhões de células racionais entranhadas em meteoritos-cidades, em ciclo-cidades, em planetas e satélites, em toda parte, construção em expansão geométrica crescendo a ritmo avassalador – todo o Sistema estava sendo devorado metro cúbico a metro cúbico, preparado o espaço para os SN e os planetas e satélites para a vida orgânica restaurada que estava sendo ajudada a evoluir lentamente até adotar as formas mínimas conexas com a racionalidade.

Tinha raiado a terceira natureza informacional-p.4 (quarta ponte) e cibernética-X4. Ela já não se via como humana, mas mantinha o nome em homenagem aos Primeiros: e desse jeito, há 300 anos a Humanidade saltou, colonizando toda a Galáxia.

Agora, pergunto: estão prontos para saltar?

- Sim.

E saltaram. Para Andrômeda e as Nuvens e para além do Grupo Local.

Serra, sábado, 10 de março de 2012.

Panacéia Universal

 

Assim, sem mais nem menos, aconteceu de Samira deparar com essa fórmula. Na realidade, não foi totalmente ao acaso porque havia preparação tecnocientífica, ela era doutora longamente treinada: nesses casos de visão ampliada, vê-se muito mais coisas em muito mais oportunidades. Sirindipitia, nome difícil para falar de acaso e necessidade, fome e vontade de comer, sorte e atenção.

Por acaso ela manipulou o gel e dias depois começou a se sentir bem demais. Todas as suas dorzinhas daqui e dali que começam a aparecer aos 40 e aos 50 se instalaram em definitivo foram sumindo aos poucos, ela começou a reparar, e meses depois foi como se tivesse de novo 20 anos e poucos e não 50 e poucos.

Primeiro ficou espantada, depois eufórica.

Deu um jeito de colocar no leite do namorado: a mesma coisa, ele começou a melhorar, a artrite foi sumindo, os cabelos pararam de cair e voltaram a nascer pretos, eles conversaram, decidiram dizer que ele tinha começado a pintar o cabelo depois do implante.

Ela fez uma vitamina de banana que sabia que a amiga com cefaléia crônica gostava de tomar. Não só curou a dor de cabeça de décadas como também todas as demais dores, a amiga achou que era milagre, ela não falou nada, não antes de patentear.

Patenteou: Vidanova.

Era, literalmente.

Ela começou a imaginar no mecanismo bioquímico responsável pelos efeitos, foi se aprofundando, aprendeu muito sobre equilíbrio hormonal, mas não pôde ir até o fim porque a fabricação em série depois que saiu da empresa começou a tomar o seu tempo. Fez sociedade com o agora noivo, breve o marido: 1 % já era muito. Amor, amor, negócios à parte. Pegaram capital, os bancos ficaram ansiosos.

Colocaram nomes insossos como subtítulo: defesa hormonal, equilíbrio homeostático, regularização sistêmica. Dizia a verdade, mas era ao mesmo tempo vago.

As pessoas começaram a comprar pensando que servia para uma coisa e iam melhorando de tudo. De tudo, mesmo. E se lançavam à propaganda de boca. Claro, se um remédio melhora a doença, ninguém precisa tomar outro remédio, OUTROS remédios, TODOS os remédios. As pessoas pararam de comprar os outros remédios, dezenas de milhares de fórmulas. De início eram poucos a tomar Vidanova, depois foram muitos e o número foi crescendo.

As empresas farmacêuticas, acreditando que aquilo não iria durar, que rapidamente o Vidanova iria mostrar seus defeitos, não se preocuparam; os meses passaram e dentro de um ano o rombo era enorme. Fábricas fechavam por toda parte, havia desemprego crescente no setor, diretamente, relativo a fabricação de caixas, de tintas, de planejamento, de propaganda. Transportes, estocagem e foi em frente, derrubando dominó por dominó.

As empresas tentaram comprar a empresa Vidanova (que não tinha se diversificado), mas Samira e o marido foram inflexíveis, pensando não somente nos lucros como também na felicidade das pessoas, pois a compradora poderia desativar o produto, bem como falsificá-lo para lhe trazer má fama. Mil coisas poderiam fazer. O dinheiro entrava aos borbotões: bastava uma dose mensal e tudo corria às mil maravilhas.

Do Brasil a empresa Vidanova se espalhou pelo mundo, não havia fronteiras, todos os países queriam comprá-lo, os governantes tanto quanto os governados. Vidanova não fazia distinção de cor, de sexo, de idade, de classe social: curava a todos.

As empresas entraram em pânico.

O pânico não é bom conselheiro.

Milhares ficaram desempregados, centenas de milhares, milhões.

Vidanova não curava só o corpo, de repente começou a curar as doenças mentais, as pessoas se sentiam “numa ótima”, “numa nice”. Desapareceu a compulsão de mentir e enganar. A sonegação reduziu-se a zero, todos pagavam corretamente os impostos, os cofres dos governos começaram a encher, uma nova harmonia reinou, os governos ficaram satisfeitos. Os governados também, porque indo embora o “caixa dois” sonegador das empresas com isso os desvios de verba também desapareceram e obras maravilhosas passaram a ser feitas, ainda mais porque as empresas faziam toda questão de colocar os melhores materiais e de zelar pelos cumprimentos dos prazos, ajudavam na medição correta das obras, entregavam verdadeiras obras primas.

Bom, se não há sonegação, para quê os fiscais? Os fiscais foram encostados, não havia mais concursos. Se não há conflitos, para quê juízes, promotores, advogados, ministério público? Para quê legisladores, se as pessoas desejavam fazer as coisas certas e não precisavam de leis para isso? Lá se foram todos esses do Judiciário e do Legislativo. O Executivo precisava de pouca gente.

E ademais, para quê forças armadas, se ninguém mais desejava fazer guerra? Ninguém queria matar e os alistamentos caíram a perto de zero, no máximo os soldados da ONU cuidavam da defesa civil, com grande número de voluntários, pois todos se ofereciam para ajudar.

Quase todos.

Uns dentre os empresários fizeram uma reunião para ver como matar a Samira e destruir o Vidanova...

Serra, quarta-feira, 08 de fevereiro de 2012.

 

NOTA: de modo nenhum prego a continuação da baderna atual, pelo contrário, Vidanova é extremamente necessário a todos nós.

Panaceia Universal II


 

- Estive pensando.

- É? É porisso que você está com dor de cabeça?

- Rá, Rá, Rá. É o seguinte: a morte livra a gente de todos os problemas, acho que é porisso que as pessoas dizem “descansou” quando o sujeito morre.

- Só que para “descansar” é preciso estar vivo.

- Me deixe falar, caramba.

- Fala.

- Então, podíamos anunciar a morte como solução geral, panaceia universal. Um produto chamado Morte.

- Essa foi a maior bobagem que você já disse. E olhe que você se supera continuamente.

- Rapaz, você já viu as propagandas que existem por aí? Para as coisas mais cretinas do mundo. Eu nunca tinha lido o Dilbert, mas decidi ler, comprei e achei ótimo. Selecionei umas passagens para você.

PASSAGENS NA ESTAÇÃO DILBERT (Scott Adams)

LIVRO, PÁGINA                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   
CITAÇÃO
2, 10
“Combina tendências passadas irrelevantes com a ignorância e a cobiça do usuário”.
2, 12
“Aí sou pago, compro algum produto desnecessário e me sinto melhor novamente”.
2, 46
“Isso não passa de uma vigarice, criada para convencer estagiários ingênuos a comprar placas caras e inúteis para pendurar na parede”.
3, 40
“Preciso montar hipóteses irrealistas pra defender um péssimo projeto”.
5, 27
“Portanto, só resta a fraude, que eu gostaria que vocês chamassem de ‘marketing’”.
5, 29
“Utilizo um processo que os experts denominam ‘desonestidade’”.
5, 37
“Sim... Um amontoado de informações inúteis e conclusões sem fundamento”.

- É, olhando por esses prismas, pode dar certo, sim. O que você propõe?

- Primeiro temos de contratar firma de propaganda. Depois um advogado. A seguir, mais adiante, um contador de confiança que separe uma grana para o caso de sermos presos e outra para corromper os políticos e governantes.

- É, você tá se esquecendo do governo.

- Não, ele já tá ocupado com as patifarias dele, não vai prestar atenção na gente. Ademais, podemos dar participação, sem falar em fazer propaganda dos tributos que nem somos nós que pagamos.

- Como iríamos fazer?

- Acho que vender em pílulas, para bula pegamos os efeitos colaterais de qualquer remédio, o povo nem lê. E se ler vai pensar que corre riscos necessários. Certamente vamos frisar que acaba com os problemas das pessoas: “depois de tomar Morte você não verá mais problemas”. Ou “seus problemas findarão”. Ou “você nunca mais irá sentir dores”, nem precisará gastar dinheiro com outros remédios. “Dê adeus a sua sogra”.

- Pô, legal. De passagem vamos resolver o problema da superpopulação planetária, acomodando a gente toda ao nível de pesquisa & desenvolvimento da tecnociência, à frente de ondas da tecnologia.

- Isso! O Clube de Roma vai dar verbas, o Bilderberg, a Trilateral, um monte de gente.

- E os governos, por trás dos panos.

- “Morte, mate todos os seus problemas de uma vez”.

- “Morte, você não terá mais dívidas nem dúvidas”.

- “Ser ou não ser, eis a questão”.

- Vamos conversar com os sócios.

Serra, sábado, 10 de março de 2012.

Ouvindo uma Voz


 

Nacom.

- O que é?

Nacom.

- Fala, caramba.

Nacom.

- Ih, emperrou, fala logo, ô doidão.

- O Senhor me mandou.

- Que senhor, como é o nome dele?

- O Senhor, com S maiúsculo, Nacom.

- Ah, O Senhor. Tá bem, fala logo.

Pigarreia, empoa a voz, fala grosso como os mensageiros divinos.

- Ó Nacom.

- Ih, é hoje. Vem cá, você não pode ir falar com Abdus Salam?

- Quem é Abdus Salam?

- Sei lá, um árabe qualquer, inventei agora.

- Peraí, vou consultar a NETCÉU. Ah, não posso, ele já morreu, 70 anos, paquistanês, o Senhor precisava dele para resolver umas equações de Física avançada que estavam meio emperradas.

- Tá bom, então pega outro árabe.

- Não posso, eles pensam que sou Djinn.

- E eu com isso? O que é Jin? Algum tipo de bebida?

- Djinn. É um ser sobrenatural, um gênio e aí tenho de conceder três desejos, sou só uma Voz, tenho mensagens para entregar, se você quiser entender assim, uma espécie de mensageiro, como Mercúrio.

- Você é um planeta?

- Não, o deus mensageiro romano, Mercúrio, ou o deus mensageiro grego, Hermes, portador das mensagens, só para você entender.

- Não entendi nada.

- Tá bom, deixe pra lá. O caso é que tenho uma mensagem pra ti.

- Pra ti, por acaso sou carioca? Pra ti, pra tu, que diabo é isso?

- Tá difícil, Senhor.

- Fala logo que tenho jogo de porrinha na esquina daqui a seis quadras, no bar do Dionísio. Aliás, como vou saber se você é uma Voz, mesmo?

- Lembra-se do que Einstein disse pro cozinheiro dele?

- Ah, já vi esse livro na livraria, não comprei, vou lá gastar dinheiro com coisa de mulher, esse negócio de cozinha.

- Então, se eu fosse coisa de sua cabeça como iria saber uma coisa que você não sabe?

- Tem tanta coisa que não sei... Tá bom, vamos dizer que seja mesmo uma Voz, entrega logo essa merda de mensagem e me deixa ir, que a turma tá me esperando.

- Você vai lembrar?

- Vou, que troço difícil, meu Deus. Por quê você não pega a Dilmandona?

- Ela tem muitos ministros em volta, não consegue ouvir nada, além de pensar que é Deus (ou deusa).

- Então pega o Lula, quando ele ouvir uma Voz vai pensar que já tá indo. Qui, qui, qui.

- Não dá, Nacom. A mensagem agora está direcionada, você tem um grande papel a cumprir.

- Entrega logo ESTA MERDA que as guias que tomei já tão esgotando o potencial, vou ter que reabastecer no primeiro bar, antes mesmo de chegar ao Dionísio. O pessoal vai me capar.

- Presta atenção, Nacom, o Senhor mandou dizer a você pra você dizer aos outros que o negócio dos maias é a sério mesmo, o mundo vai acabar em 21 de dezembro, aliás vai mudar completamente, mas isso pode ser alterado se (buzina no ouvido de Nacom). Você vai lembrar?

NACOM (aborrecido) – é claro que sim.

- Não esquece, hem, é importante.

Nacom saiu dali, bebeu todas, esqueceu, viveu feliz até 21 de dezembro, mas havia um grilo buzinando na consciência dele, parecia que tinha um recado para alguém, que coisa chata.

Serra, domingo, 26 de fevereiro de 2012.

Otimismo Multiplicador ou (em termos científicos) O Fator Excedente na Superafirmação do Ótimo Frente à Superafirmação do Péssimo

 

O conceito é de um amigo, tomo-o emprestado.

 

Extratos do debate sobre a Tese Dissertativa do Formando em Engenharia Especulativa da Universidade *, Jonas Oriundi.

- Jonas. Posso chamá-lo de Jonas?

- Pode, claro.

- Então, Jonas, explique para a plateia sua tese, se não for muito difícil.

- Claro que não, é simples. Você toma café?

- Tomo, sim, com gosto.

- Pois você sabia que com o seu vulgar cafezinho pode comprar um carro?

- Não sabia, não. Com um cafezinho?

- Pois, então. Não, com vários. Vamos supor um café a 0,75 e um carro a 75 mil: com quantos cafés você pagaria esse carro de valor bastante significativo?

- Não sei.

- 100.000. E quantos dias dá isso?

Abobado, olhando para a plateia.

- Nem faço ideia.

- Ô, 100.000 dias ou pouco menos de 274 anos. Use o seu note.

Faz as contas.

- É mesmo.

- Pois, é. Mas ninguém (dizem) vive 274 anos, de forma que se você toma 10 cafés por dia...

- Tomo mais que isso, sou viciado.

- Eu também. Se parar de tomar dez por dia, baixa para 27,4 anos, menos de 30 anos.

- Então, eu que estou com 45, se parar agora aos 75 consigo um carro de 75 mil? Até coincidiu.

- Viu?

- Poxa, estou pasmo.

- Pasmado.

- O quê?

- Deixe para lá.

- Fala mais, estou ficando animado.

- Vamos supor que você faça guarda-chuvas. Se fizer um desses Ching Ling vendidos barato por 10 e ganhar dois reais em cada, vendendo mil são dois mil reais, vendendo 10 mil são 20 mil, vendendo 100 mil são 200 mil por mês.

- Certo, e a concorrência?

- Não atrapalhe o raciocínio.

- Hum, mas não é preciso que chova para as pessoas comprarem?

- Você tá querendo atrapalhar.

- Tá bom, tá bom, continue.

- Quantas pessoas há no mundo?

- Sete bilhões.

- Então, imagine que você venda pra todas. São (7.000.000.000/100.000, x 200 mil =) 14 bilhões/ano.

- E os bebês de colo?

- As mães compram para eles. Ou os pais.

- Entendi. Uma fortuna.

- Ou se a humanidade continuar a crescer a 1 % ao ano, em quanto estaremos em 200 anos?

- Não sei fazer essas contas. Você sabe, plateia?

- NÃO.

- y = a.xn = 7.109.1,01200 = 51 bilhões, vai multiplicando por 7, em 400 anos 350 bilhões, em 600 anos 2,2 trilhões, ocuparemos a Galáxia inteira.

- A matemática é tão sublime, né mesmo? É maravilhoso! Eu não sabia disso, é fantástico. Você vê: ocupar a Galáxia inteira em 600 anos. Você já se formou?

- Não, estou no segundo ano.

- Puxa, tanta sabedoria em tão pouco tempo.

JONAS (modesto) – faço o que posso.

Serra, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012.