Pigmeu-Leão
Pigmeuleão era grande artista.
Grande no sentido da perfeição de suas obras, porque
pequeno no tamanho. Era escultor, mas dos mais competentes do mundo, TÃO
competente que era comparado aos maiores: Policleto e Fídias, Michelangelo,
Bernini, Rodin, Kuebler, Mueck e os hiper-realistas pós-contemporâneos.
PIGMEU, O
LEÃO
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A questão toda é que ele era baixinho, entende?
Baixinho MESMO, entende?
Para dizer tudo, 1,42 m, o pessoal fazia ele de
roll-on (esse é de uma amiga, aconteceu com ele também e bem antes, só que eu
nunca tinha pensado nisso) nos ônibus. Apoiavam o sovaco na cabeça dele e
ficavam esfregando, parecia desodorante roll-on. Isso quando ele era estudante,
depois que enricou nunca mais andou de ônibus.
E teve aquela vez em que indo de Jucutuquara para
Camburi jogar futebol pisaram no calcanhar dele e pediram desculpas, um cara
grande, ele virou pra mim e disse entredentes: “depois que inventaram essa tal
de desculpa nunca mais pude dar porrada num filho da puta! ” Nunca esqueci, ele
tinha 18 pra 20, faz quase 40 anos.
NUNCA, MAS NUNCA MESMO o chame de Batata, nem os
amigos mais íntimos, ele fica uma arara: uma arara pequena, é certo, mas uma
arara. Mais de uma amizade esteve para acabar, antes que o idiota se desse
conta.
E alguns maldosos dizem Pigmeu-Leão. Leão ele é
mesmo, um leão pequeno, é claro, um gatinho, mas um gatinho feroz, não fique na
frente dele. Por quê as pessoas falam isso? Inveja, eu acho, pela grandeza
moral e artística dele, pelo dom, eu creio. Ele sofre, mas sofre em silêncio,
não quer dar o braço a torcer, o bracinho a torcer, é certo, mas é resistente,
tem estatura moral que falta a tantos.
Agora, chamar de Pigmeu já é maldade. Pior ainda é
Pig, porco em inglês, isso nunca, aí já é achincalhe, já dei porrada em três.
De nome mesmo é Tércio, por ser o terceiro filho.
Acontece que o Tércio, com aquele complexo de
inferioridade que tem e que não deveria ter, em vista de sua grandeza
artística, queria mulher, como todo macho quer mesmo, mas um mulherão, e pôs-se
a esculpir, camarada, aquela foi demorada, porque a par de suas tarefas e das
numerosíssimas encomendas todas caras ele queria detalhes, daí demorou meses,
demorou anos. Encomendava um bloco, começava, quando já estava na metade ficava
com raiva, quebrava tudo. Começava outro e depois de dois anos e meio de
trabalho um detalhezinho não encaixava e ele rebentava tudo com marretas,
claro, marretinhas que eram como martelos para os outros, mas para ele era
marreta e pronto.
Então, lá pela sétima ou oitava tentativa, ficou
pronta e fosse pelo que fosse Pigmeuleão ficou apaixonado. Xonadinho! Doido de
pedra.
Ele colocou o nome de Gala Téia.
Pois é, a Téia despertou para a vida e de início via
somente o Tércio, não via mais ninguém, ficaram de amores; com o tempo e as
visitas a Téia conheceu um moço de barriga de tanquinho, saradão, cheio de
músculos, alto, pouco mais de 1,80 m, ela que tinha 1,73 m, se apaixonaram e
fugiram juntos, Tércio ficou a ver navios que ele mesmo fazia. Por que não
construiu a formosíssima de 1,35 m, pouco menos que ele? Eu falei, mas conselho
adianta?
Desde então ele nunca mais fez nem um pirulito de
pedra, parou de esculpir, está vivendo de rendas em Nice e a chama de Galinha.
Eu disse.
Tércio, não faz isso.
Ele quis me ouvir?
Serra, quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012.