sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Hugo Imorales


 

O Hugo tinha uma casa e nela um amigo, o Pedróleo, negro distinto e muito trabalhador, tinha feito fortuna, Hugo o explorava muito, achava que com ele podia tudo, mas o Pedróleo superexplorado ia se acabando, coitado. A parte Imorales de Hugo, que era a parte de trás, soltava muitos gases e envergonhava os amigos.

Só por andar junto com o Pedróleo o Hugo se achava o tal, por todos se curvarem diante deles e pensarem que em caso de oposição o Pedróleo não iria mais visitá-los com as boas notícias e facilidades.

O Hugo tinha casa de certo tamanho dum lado da rua e logo adiante outra menor, separadas as duas por uma terceira, que não era propriamente sua amiga. De uma rua próxima o Hugo recebia notícias e instruções do Fiel, um gavião que torcia as coisas do jeito dele e lhe dizia o que fazer no jogo, para quem torcer. Fiel enchia a cabeça do Hugo sobre o que fazer, o que dizer, quem contestar, praticamente mandava nele, como Hugo mandava no Pedróleo.

Do outro lado da rua havia um casarão bem maior cujo proprietário era de outra cultura, não apreciava muito essas liberdades do Hugo, mas por algum tempo a casa foi administrada por um mordomo destrambelhado (simpatizante de Hugo), enquanto o dono estava fora e não se manifestava. Depois esse mordomo chamou a govern/anta muito autoritária que confundia as coisas e as casas, achava que aquela era a casa da mãe Joana, mas não era.

O dono da casa estava voltando, prevendo já certo debate acalorado com os Imorales todos daquela família, verdadeiro confronto, pois parece que estava bem aborrecido.

Aquele Hugô achava que o jogo dele com o Fiel não estava sendo visto, as conversas de bastidores, as injunções, mas estava sim, era transparente.

[Este é só o capítulo I, veja a emocionante sequência em Hugô Passa Mal].

Serra, quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016


Um Pouco de Molejo para Dançar

 

Músicas para conduzir os ridentes, os que riem (como disse Clarice Lispector com as palavras sublimes dela, <mulher que ri e sorri é fácil de levar>): para cima, para cima, vamos lá, vamos lá!

UM POUQUINHO DE GRAÇA/MOLEJO/REMELEXO

La Bamba
 
Para bailar la bamba,
Para bailar la bamba,
Se necesita una poca de gracia.
Una poca de gracia por mí, por ti.
Ay arriba y arriba
Y arriba y arriba, por ti seré,
Por ti seré.
Por ti seré.
Yo no soy marinero.
Yo no soy marinero, soy capitan.
Soy capitan.
Soy capitan.
Bam-ba-bamba,
Bam-ba-bamba,
Bam-ba-bamba,
Ba...
Para bailar la bamba,
Para bailar la bamba,
Se necesita una poca de gracia.
Una poca de gracia por mí, por ti.
Ay arriba y arriba.
R-r-r-r-r, Ja! Ja!
Para bailar la bamba,
Para bailar la bamba,
Se necesita una poca de gracia.
Una poca de gracia por mí,por ti.
Ay arriba y arriba
Ay arriba y arriba, por ti seré,
Por ti seré.
Por ti seré.
Bam-ba-bamba.
Bam-ba-bamba.
Bam-ba-bamba.
La Bamba
 
Para dançar la bamba
Para dançar la bamba
você precisa
De um pouco de graça para mim, para você
Ai, vamos lá, vamos lá
Ai, vamos lá, vamos lá, por você serei
Por você serei
Por você serei
Eu não sou marinheiro
Eu não sou marinheiro, sou capitão
Sou capitão
Sou capitão
Bam-ba-bamba,
Bam-ba-bamba,
Bam-ba-bamba,
Ba...
Para dançar la bamba
Para dançar la bamba
você precisa de um pouco de graça para mim para você
De um pouco de graça e outra coisa
Ai, vamos lá, vamos lá
R-r-r-r-r, Ja! Ja!
Para dançar la bamba
Para dançar la bamba
você precisa
De um pouco de graça para mim para você
Ai, vamos lá, vamos lá
Ai, vamos lá, vamos lá, por você serei
Por você serei
Por você serei
Bam-ba-bamba.
Bam-ba-bamba.
Bam-ba-bamba.

O CENÁRIO MARAVILHOSO (só para quem consegue ser)

What a Wonderful World

 

I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself, what a wonderful world
I see skies so blue and clouds of white
The bright blessed days, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world
The colors of the rainbow, so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shaking hands, saying: How do you do?
They're really saying: I love you
I hear babies cry, I watch them grow
They'll learn much more, than I'll never know
And I think to myself, what a wonderful world
Yes, I think to myself, what a wonderful world

Que Mundo Maravilhoso

 

Eu vejo as árvores verdes, rosas vermelhas também
Eu as vejo florescer para mim e você
E eu penso, que mundo maravilhoso
Eu vejo os céus tão azuis e as nuvens tão brancas
O brilho abençoado do dia, e a escuridão sagrada da noite
E eu penso comigo, que mundo maravilhoso
As cores do arco-íris, tão bonitas no céu
Estão também nos rostos das pessoas
Vejo amigos apertando as mãos, dizendo: "como você vai?"
Eles realmente dizem: "eu te amo!"
Eu ouço bebês chorando, eu os vejo crescer
Eles vão aprender muito mais que eu jamais vou saber
E eu penso comigo, que mundo maravilhoso
Sim, eu penso comigo, que mundo maravilhoso

E A COMPANHIA FEMININA ESPERADA

Blue Moon

Blue moon, you saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own
Blue moon, you knew just what i was there for
You heard me saying a prayer for
Someone i really could care for
And then there suddenly appeared before me
The only one my arms will ever hold
I heard somebody whisper, "please adore me"
And when i looked, the moon had turned to gold
 
                                                                
Blue moon, now i'm no longer alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own

Lua Azul

Lua azul, você me viu na maior solidão
Sem um sonho no coração
Sem um amor pra ser a minha paixão
Lua azul, você sabe bem porque eu estava ali
Você me ouviu pedindo aos céus
Por alguém por quem eu sentisse algo
E do nada, apareceu na minha frente
A única que meus braços poderiam querer abraçar
Eu ouvi alguém sussurrar ´por favor, me ame`
Mas quando procurei só vi que a lua azul tinha ficado dourada
Lua azul, agora não estou mais sozinho
Sem um sonho no coração
Sem um amor pra ser a minha paixão

Colocando deste jeito:

1.       Molejo de quem já atingiu grande desconsideração pelas irrelevâncias que ficam o tempo todo tentando perturbar;

2.       Esse deve conseguir ver as maravilhas do mundo para poder ser em grande estilo, com simplicidade;

3.      A mulher esperada, a mulher perfeita, a Lua Azul.

Desejar mais que isso é até perversão.

Vitória, quinta-feira, 01 de setembro de 2016.

GAVA.

Hipersuperultra


 

Era uma sociedade muito superlativa, hiperlativa, ultralativa.

Tudo era super, hiper, ultra. Até os menores mercadinhos de bairros roscofinhos e superultrahiperdiminutos, verdadeiros cocozinhos, tinham supermercado.

Era espantoso, mesmo.

Tudo era supermercado e hipermercado. Hiper era mais que super, passava bastante. Enquanto super podia ter 200 metros quadrados, hiper chega fácil a mil, talvez dois mil. Ultra era ainda mais, tanto que ninguém vira ainda um ultramercado. Possivelmente ocuparia a área de uma cidade inteira, com umas casinhas em volta. Acho que super era de bairro, hiper de cidade e ultra de estado (ninguém falava ainda em algo que servisse à nação inteira).

Talvez megamercado.

Era uma coletividade com problema de identidade, de autoestima, tanto que usava tanto as línguas estrangeiras (primeiro o francês, depois o inglês, sem falar por rápidas incursões no espanhol pouco valorizado, no latim antigamente e no grego para formar prefixos e sufixos) que se envergonhava da própria língua.

Eles se tinham mesmo em baixa conta, se você desse um real para compra-los ainda receberia troco.

Aí passaram a usar os prefixos gregos e latinos com os aumentativos e os superlativos, por exemplo, megamercadão ou ultramercadão (em projeto para a nação, liderado pelo ultragrupo megapoderoso hiperavançado). Ultramercadíssimo era mais para as vedetes.

Eles se sentiam pequenos, porisso queriam tudo grande.

Superusinas, megaindústrias, hiperestradas de 64 pistas de cada lado, era fogo pensar onde colocar tudo isso. Não satisfeitos de ter dívidas pequenas, assumiram logo hiperdívidas interna e externa ultrapesadíssimas.

Hipermeu Deusíssimo do Megacéu, onde iria parar aquela gente do superpaís da presidanta? Difícil dizer. Os literatos consultados pelos empresários e pelos governos inventavam palavras novas, cada qual querendo ultra-passar, hiper-passar, mega-passar, super-passar o outro.

Vixe Maria! A competição estava acirrada. Aliás, hipercompetição, supercompetição, ultracompetição, megacompetição – hiperíssima ativa, ultríssima (nem se sabia o que isso significava, mas o importante era competir).

A excitação era grande (só menor que a fase áurea do uso do gerúndio ou quando se imaginava que o PT seria diferente).

Como disse Fernando Pessoa: “tudo é grande quando a alma não é pequena”. E, correlativamente, se a alma é pequena nada é grande. Como almas não crescem, isso é um problema.

Serra, sábado, 11 de fevereiro de 2012.

Guardiões do Museu do Inexistente

 
O diretor do Instituto de Geo-História levantou-se.
Estava numa beca alinhadíssima. A mulher dele tinha falecido recentemente e via-se uma pontada de dor em seu rosto, que procurou descartar. Persistia um travo de amargura. A doutora Lídia, que era caso dele, fica roçando a perna na dele, para seu grande constrangimento, pois se imaginava vigiado. Ela colocou ostensivamente a mão sobre a dele para lhe dar apoio e mostrar sua posição.
- Senhoras professoras, senhores professores, quero agradecer penhoradamente o esforço de todos e cada um. O pessoal de apoio, como sempre tem o nosso reconhecimento por sua devoção, pois sem ele não poderíamos trabalhar. Sem a segurança proporcionada por nosso pessoal também seria impensável operar, devido à possibilidade de entrada de intrusos. Enfim, obrigado de coração.
Os alunos e as alunas bateram palmas, o diretor agradeceu.
- Lembro-me de vocês cinco anos atrás, naquelas ocasiões em que tivemos alguns desentendimentos, peço desculpas se me exaltei.
Da plateia ouve-se: “que é isso, diretor, nós amamos o senhor”. “Não foi nada, diretor”.
- Obrigado.
Toma um copo d’água, pigarreia.
- Aqui vocês aprenderam muito sobre o papel dos geo-historiadores junto aos governos e viram como tudo é tramurdidura, trama-e-urdidura, tecido como o da própria vida e toda a responsabilidade que temos de mostrarocultar a realidade, remodelá-la, transformá-la em doces mentiras que servem aos governos. Viram que sem nós seria impossível governar, pois as pessoas começariam a indagar muito. Nem falo dos intelectuais, dos jornalistas, que esses vivem na superfície, falo mesmo do povo, o qual ficaria inquieto além das medidas e não trabalharia a contento. Então, mentimos, melhor dizendo, INVENTAMOS a realidade da época.
Gritos da plateia: APOIADO, APOIADO, APOIADO, prorrompem aplausos incontidos, alguns choram, emocionados com a missão.
O diretor faz sinal com a mão pedindo silencio à algazarra.
- Vocês se lembram de que alguns de vocês achavam que iam ser guardiões como nos filmes, ficariam num lugar fechado com vários objetos que não podem existir, não devem existir, não existem, são inexistentes. Seria aquela vida glamorosa à James Bond combatendo o mal, percorrendo o mundo, atirando e tentando escapar das balas?
Risos nervosos dos que acreditavam nisso, risos gozadores dos que não acreditavam, uns zombavam, os outros ficavam furiosos.
- Por favor. Por favor. Tinham essa visão romântica, não é mesmo?
É SIM, É SIM.
- Então. Agora sabem qual é a verdade. Na verdade, mesmo, nossa profissão é muito monótona, é preciso alto equilíbrio, grande paciência, somos como espiões, temos de ficar atentos cada segundo e NUNCA, NUNCA revelar nossas posições. Ouvir e relatar, plantar boatos, desautorizar, coibir, acobertar, rir, debochar, divergir, passar leis, plantar artigos na imprensa, agir na universidade, entrar em cada estamento dos governos, tornarmo-nos empresários, ENFIM PROTEGER SOB QUALQUER FORMA os segredos. Vocês serão governantes, políticos, juízes, empresários, militares, intelectuais, artistas, escritores, qualquer coisa para a qual tenham pendão. E vigiarão. Não são apenas vocês, no mundo formamos centenas de turmas todos os anos, estamos espalhados em toda parte. Veja o Arquivo X, é o contrário, não é? Em vez de tentar descobrir nós encobrimos.
É, É, É – rebentam em risos, batem nas cadeiras, o diretor não liga, os professores estão verdadeiramente extasiados: quem diria, outro dia um grupo de crianças, agora devotados participantes?
- Pois é. Este é um momento verdadeiramente venerável, porque vocês, imbuídos do sentido de missão, sairão pelo mundo negando e mentindo abertamente, falsificando e escondendo sem o menor pudor, pois agora sabem que o objetivo é proteger o status quo. Tudo aquilo que vocês viram nos depósitos ao redor do mundo NÃO EXISTE e vocês são de agora em diante os guardiões do inexistente.
NÃO EXISTE, NÃO EXISTE, NÃO EXISTE. “Viva o diretor”.
Todos se levantam e batem palmas por vários minutos.
Serra, sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012.
 

Arquiengenharia da Minha Cabeça

 

Arquiengenharia é a nova disciplina ainda não operativa, engenharia mais arquitetura, técnica e arte, tecnarte psicológica.

PSICOLOGIA T/C DO TEMPESPAÇO

PSICOLOGIA DA FORMA OU EXPOSIÇÃO OU EXTERIOR.
PSICOLOGIA T/C DO TEMPESPAÇO
PSICOLOGIA DA ESTRUTURA OU CONCEITO OU INTERIOR.
Espaço.
Tempespaço.
Tempo.
Arquitetura.
A/E.
Engenharia.

Se estamos na Psicologia-p.3, tudo é racional, se passamos à Informática-p.4 tudo se torna hiper-racional, super-racional, mais elevado, à enésima potência ainda por descobrir.

Quando houver expansão, não será somente mental, será corporal também, mente sã em corpo são, ou pelo menos equilíbrio para ambos, dentro do possível.

SUPER-RACIONALIDADE

Super-arquitetura corporal Cibernética-X4.
Redesenho corpomental do EU (você, eu, todos – a vida humana antiga será extinta).
Super-engenharia mental Informática-p.4.
Remodelação corporal.
Reconstrução mental.

Não pense que teremos só supersoluções, teremos igualmente superproblemas, as flechas não desaparecem, apenas são alteradas para mais ou para menos com as mudanças de cenários – não fique desejando mudar para a capital da Áustria, Viena, achando que por ser uma das melhores cidades para morar no planeta inteiro (200 ou 300 mil delas) tudo sairá perfeitamente certo, de modo nenhum, você deixará os problemas daqui e achará os de lá.

Como já disse há muito tempo de minha vida, os ficcionistas passaram a usar as projeções de futuro para apaziguar as lutas presentes (como alguns na Igreja fizeram ao prometer o Paraíso), assegurando o paraíso ilusionista. Virou patrimônio sócioeconômico dos capitalistas-burgueses, que o usam à larga ao financiarem a mídia (Cinema, Internet com jogos e fakes, TV, Revista, Jornal, Rádio, Livro-Editoria) fantasmagórica.

Vitória, quinta-feira, 01 de setembro de 2016.

GAVA.

Gerência do Museu do Inexistente


 

O diretor, agora já em final de carreira e com 80 anos, tinha de passar a peteca para outro, o escolhido geral era o Roberval que ouvia tudo caladinho, evitando falar para não falar bobagens. Só ouvia, falava pouco e só quando questionado.

- Senhor Roberval, o senhor é jovem e esperamos que seja equilibrado, pois a tarefa é dura, eu tinha mais ou menos a sua idade quando fui empossado, 37 anos tinha eu, 35 tem o senhor. Esperamos que seja capaz de dominar-se ao máximo e ser complacente com seus colegas, tanto quanto possível, quando não se trate de perigo real, agindo dura e prontamente quando se trate.

- Sim, senhor diretor.

- Já falamos de inúmeras questões relativas à gerência, à política e à administração do Instituto Geo-Histórico, de todas as nossas tarefas, que são muitas, muitas. Agora devemos falar do MI, propriamente.

- Sim, senhor diretor.

- Veja o senhor, aqueles dois filmes sobre tesouros com o Nicolas Gaiola, neles aparecem os tesouros todos reunidos no mesmo lugar: o que há de errado com isso?

- Bem, senhor diretor, jamais os reuniríamos no mesmo lugar, de jeito nenhum, seria impensável encontrarem tudo de uma vez, desastre inqualificável, inimaginável, inconcebível mesmo.

- Pois é, imagine que se alguém chegasse a um chegaria a todos, todo nosso esforço de milhares de anos para mantê-los a salvo, só conhecíveis dos eleitos, dos escolhidos para conhecerem; são eles que nos dão poder, domínio sobre os espertalhões deste mundo – AQUELES MESMOS A QUEM MOSTRAMOS se pudessem iriam lá tentar pegar, o senhor sabe, já aconteceu inúmeras vezes. Sempre os mudamos de lugar quando os mostramos, de modo que os imprudentes dão com a cara no muro, literalmente. Depois os punimos, o senhor sabe. O senhor deve ser inflexível nisso, pode ser qualquer um: sua esposa, seus filhos, seus irmãos, seus pais, o senhor está seguro dessa capacidade?

- Sim, totalmente convencido.

- E o que mais está errado no filme?

- Bem, está tudo muito sujo, com o pó de anos, de séculos até.

- O senhor poderia imaginar nossos objetos venerados, doados diretamente pelos deuses ou representando-os, sujos daquele jeito?

- Seria uma abominação, senhor. Largados assim? Não, nunca, sempre limpos para os olharmos e nos lembrarmos, pois eles prometeram voltar depois de milhares de anos.

- E o senhor pode imaginar quanto custa isso?

- Sim, posso, sei bem dos anos de contabilidade.

- Os governantes e as instituições todas não podem deixar de doar, os desvios de verbas continuam por isso, senão os teríamos bloqueado.

- Com toda certeza.

- Iríamos tolerar malversações de fundos?

- Jamais, senhor.

- Mais o quê, no filme?

- Bem, passa-se nos EUA e há o velho princípio mágico de chamar atenção para a direita e fazer com a esquerda. No caso, o Brasil, a nação Templária, as proteções das falsas oposições, todos os conflitos aparentes, todos esses choques que mantém a população mundial prisioneira, tudo cuidadosamente estipulado.

- Sim, é verdade: a maçonaria, os templários, os Iluminatti, os rosa-cruzes, os choques entre religiões, tudo, tudo. E o que mais?

- Bem, senhor, sabendo que aquilo não poderia nunca acontecer, só posso pensar que os filmes foram financiados por nós.

- Certíssimo, senhor Roberval. Agora o senhor é de pleno direito o diretor, o Guardião dos Segredos, o Guardião Mor do Museu do Inexistente. Só falta empossá-lo. Finalmente, o seguinte: como sabe, nossas reuniões se dão nos fundos desses congressos acontecendo por todo o mundo. O próximo é daqui a uma semana, o senhor já vai como diretor. Ano que vem o senhor irá receber os juramentos de fidelidade do Bilderberg, do Clube de Roma, da Trilateral, etc. A tarefa é muito pesada, desejo-lhe sorte e a ajuda de Deus. Adeus. Vou para aposentadoria. Muito obrigado.

Serra, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012.

Geo-Historiador

 

- Senhor Romualdo.

- Sim, senhor diretor?

- Não é à toa que seus colegas o apelidaram de Travesso (O DIRETOR ESTAVA FURIOSO, SE AGUENTANDO PELAS PONTAS). Como o senhor foi misturar Marx e Lênin?

- Mas eles são socialistas revolucionários! Podiam ter se conhecido.

- Como, senhor Romualdo? Marx é de 1818 a 1883, Lênin é de 1870 a 1924, quando Marx morreu Lênin tinha em torno dos 13 a 14 anos, se o senhor quiser eu faço as contas precisas. Marx morreu em Londres, Lênin ainda estava nos cueiros na Rússia.

- Mas Marx não poderia ter dado um pulinho em Simbirsk?

- PODERIA, senhor Romualdo, mas não deu.

- Como o senhor vai saber?

- VOU SABER PORQUE NÃO HÁ NADA NA HISTÓRIA (que o senhor deveria ter pesquisado) dizendo coisa nem parecida. Marx NUNCA foi à Rússia.

- Sei lá, a mãe de Lênin poderia tê-lo levado para conhecer a Inglaterra, eles se toparam num parque.

O diretor está quase apoplético.

- Eu não aguento, tá difícil de encontrar historiadores.

ROMUALDO (querendo ajudar) – procura na universidade.

- É ISSO MESMO QUE ESTOU DIZENDO, senhor Romualdo. O senhor deve aprender a reconhecer ironias. Eu não aguento, vou pedir minha licença prêmio, 45 anos de trabalho, uma profissão tão bonita, vou gozar meu ano sabático, não tem jeito. Por quê o senhor inventa tanto, senhor Romualdo?

- Mas professor, tem tantos aí inventando... Veja esses romances. Eles colocam por dentro as coisas ilógicas cheias de arestas do improvável, cobrem com um pouco de verdades e por fora colocam a tese deles pintada sobre aquele núcleo intermediário – há centenas deles por aí, como o Dan.

- Senhor Romualdo, pare, por favor, senão vou ter um troço.

- O senhor está bem, diretor, quer um copo d’água?

- Não, quero me entender com o senhor. Veja, o tempo é cronológico, o tempo é separador, o evento anterior não pode suceder o posterior, essa é a lógica, e o senhor não pode sair por aí misturando os personagens históricos, assim como não pode trocar os espaços como fez a senhora Maria Eugênia, o senhor se lembra?

- Lembro.

- Então, veja, essa gente está atacando a Igreja pelos motivos inconfessados dela, dessa gente. É outra questão. O senhor não pode trazer esses artifícios e devido às suas simpatias combinar elementos SEM PROVA, entendeu bem? (NISSO O DIRETOR BAMBEOU, TROUXERAM O REMÉDIO DE PRESSÃO, COLOCARAM UM DEBAIXO DA LÍNGUA).
Serra, quinta-feira, 26 de janeiro de 2012.