Gerência
do Museu do Inexistente
O diretor, agora já em final de carreira e
com 80 anos, tinha de passar a peteca para outro, o escolhido geral era o
Roberval que ouvia tudo caladinho, evitando falar para não falar bobagens. Só
ouvia, falava pouco e só quando questionado.
- Senhor Roberval, o senhor é jovem e
esperamos que seja equilibrado, pois a tarefa é dura, eu tinha mais ou menos a
sua idade quando fui empossado, 37 anos tinha eu, 35 tem o senhor. Esperamos
que seja capaz de dominar-se ao máximo e ser complacente com seus colegas,
tanto quanto possível, quando não se trate de perigo real, agindo dura e
prontamente quando se trate.
- Sim, senhor diretor.
- Já falamos de inúmeras questões relativas à
gerência, à política e à administração do Instituto Geo-Histórico, de todas as
nossas tarefas, que são muitas, muitas. Agora devemos falar do MI,
propriamente.
- Sim, senhor diretor.
- Veja o senhor, aqueles dois filmes sobre
tesouros com o Nicolas Gaiola, neles aparecem os tesouros todos reunidos no
mesmo lugar: o que há de errado com isso?
- Bem, senhor diretor, jamais os reuniríamos
no mesmo lugar, de jeito nenhum, seria impensável encontrarem tudo de uma vez,
desastre inqualificável, inimaginável, inconcebível mesmo.
- Pois é, imagine que se alguém chegasse a um
chegaria a todos, todo nosso esforço de milhares de anos para mantê-los a
salvo, só conhecíveis dos eleitos, dos escolhidos para conhecerem; são eles que
nos dão poder, domínio sobre os espertalhões deste mundo – AQUELES MESMOS A
QUEM MOSTRAMOS se pudessem iriam lá tentar pegar, o senhor sabe, já aconteceu
inúmeras vezes. Sempre os mudamos de lugar quando os mostramos, de modo que os
imprudentes dão com a cara no muro, literalmente. Depois os punimos, o senhor
sabe. O senhor deve ser inflexível nisso, pode ser qualquer um: sua esposa,
seus filhos, seus irmãos, seus pais, o senhor está seguro dessa capacidade?
- Sim, totalmente convencido.
- E o que mais está errado no filme?
- Bem, está tudo muito sujo, com o pó de
anos, de séculos até.
- O senhor poderia imaginar nossos objetos
venerados, doados diretamente pelos deuses ou representando-os, sujos daquele
jeito?
- Seria uma abominação, senhor. Largados
assim? Não, nunca, sempre limpos para os olharmos e nos lembrarmos, pois eles
prometeram voltar depois de milhares de anos.
- E o senhor pode imaginar quanto custa isso?
- Sim, posso, sei bem dos anos de
contabilidade.
- Os governantes e as instituições todas não
podem deixar de doar, os desvios de verbas continuam por isso, senão os
teríamos bloqueado.
- Com toda certeza.
- Iríamos tolerar malversações de fundos?
- Jamais, senhor.
- Mais o quê, no filme?
- Bem, passa-se nos EUA e há o velho
princípio mágico de chamar atenção para a direita e fazer com a esquerda. No
caso, o Brasil, a nação Templária, as proteções das falsas oposições, todos os
conflitos aparentes, todos esses choques que mantém a população mundial
prisioneira, tudo cuidadosamente estipulado.
- Sim, é verdade: a maçonaria, os templários,
os Iluminatti, os rosa-cruzes, os choques entre religiões, tudo, tudo. E o que
mais?
- Bem, senhor, sabendo que aquilo não poderia
nunca acontecer, só posso pensar que os filmes foram financiados por nós.
- Certíssimo, senhor Roberval. Agora o senhor
é de pleno direito o diretor, o Guardião dos Segredos, o Guardião Mor do Museu
do Inexistente. Só falta empossá-lo. Finalmente, o seguinte: como sabe, nossas
reuniões se dão nos fundos desses congressos acontecendo por todo o mundo. O
próximo é daqui a uma semana, o senhor já vai como diretor. Ano que vem o senhor
irá receber os juramentos de fidelidade do Bilderberg, do Clube de Roma, da
Trilateral, etc. A tarefa é muito pesada, desejo-lhe sorte e a ajuda de Deus.
Adeus. Vou para aposentadoria. Muito obrigado.
Serra, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012.
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