quinta-feira, 1 de setembro de 2016


Gerência do Museu do Inexistente


 

O diretor, agora já em final de carreira e com 80 anos, tinha de passar a peteca para outro, o escolhido geral era o Roberval que ouvia tudo caladinho, evitando falar para não falar bobagens. Só ouvia, falava pouco e só quando questionado.

- Senhor Roberval, o senhor é jovem e esperamos que seja equilibrado, pois a tarefa é dura, eu tinha mais ou menos a sua idade quando fui empossado, 37 anos tinha eu, 35 tem o senhor. Esperamos que seja capaz de dominar-se ao máximo e ser complacente com seus colegas, tanto quanto possível, quando não se trate de perigo real, agindo dura e prontamente quando se trate.

- Sim, senhor diretor.

- Já falamos de inúmeras questões relativas à gerência, à política e à administração do Instituto Geo-Histórico, de todas as nossas tarefas, que são muitas, muitas. Agora devemos falar do MI, propriamente.

- Sim, senhor diretor.

- Veja o senhor, aqueles dois filmes sobre tesouros com o Nicolas Gaiola, neles aparecem os tesouros todos reunidos no mesmo lugar: o que há de errado com isso?

- Bem, senhor diretor, jamais os reuniríamos no mesmo lugar, de jeito nenhum, seria impensável encontrarem tudo de uma vez, desastre inqualificável, inimaginável, inconcebível mesmo.

- Pois é, imagine que se alguém chegasse a um chegaria a todos, todo nosso esforço de milhares de anos para mantê-los a salvo, só conhecíveis dos eleitos, dos escolhidos para conhecerem; são eles que nos dão poder, domínio sobre os espertalhões deste mundo – AQUELES MESMOS A QUEM MOSTRAMOS se pudessem iriam lá tentar pegar, o senhor sabe, já aconteceu inúmeras vezes. Sempre os mudamos de lugar quando os mostramos, de modo que os imprudentes dão com a cara no muro, literalmente. Depois os punimos, o senhor sabe. O senhor deve ser inflexível nisso, pode ser qualquer um: sua esposa, seus filhos, seus irmãos, seus pais, o senhor está seguro dessa capacidade?

- Sim, totalmente convencido.

- E o que mais está errado no filme?

- Bem, está tudo muito sujo, com o pó de anos, de séculos até.

- O senhor poderia imaginar nossos objetos venerados, doados diretamente pelos deuses ou representando-os, sujos daquele jeito?

- Seria uma abominação, senhor. Largados assim? Não, nunca, sempre limpos para os olharmos e nos lembrarmos, pois eles prometeram voltar depois de milhares de anos.

- E o senhor pode imaginar quanto custa isso?

- Sim, posso, sei bem dos anos de contabilidade.

- Os governantes e as instituições todas não podem deixar de doar, os desvios de verbas continuam por isso, senão os teríamos bloqueado.

- Com toda certeza.

- Iríamos tolerar malversações de fundos?

- Jamais, senhor.

- Mais o quê, no filme?

- Bem, passa-se nos EUA e há o velho princípio mágico de chamar atenção para a direita e fazer com a esquerda. No caso, o Brasil, a nação Templária, as proteções das falsas oposições, todos os conflitos aparentes, todos esses choques que mantém a população mundial prisioneira, tudo cuidadosamente estipulado.

- Sim, é verdade: a maçonaria, os templários, os Iluminatti, os rosa-cruzes, os choques entre religiões, tudo, tudo. E o que mais?

- Bem, senhor, sabendo que aquilo não poderia nunca acontecer, só posso pensar que os filmes foram financiados por nós.

- Certíssimo, senhor Roberval. Agora o senhor é de pleno direito o diretor, o Guardião dos Segredos, o Guardião Mor do Museu do Inexistente. Só falta empossá-lo. Finalmente, o seguinte: como sabe, nossas reuniões se dão nos fundos desses congressos acontecendo por todo o mundo. O próximo é daqui a uma semana, o senhor já vai como diretor. Ano que vem o senhor irá receber os juramentos de fidelidade do Bilderberg, do Clube de Roma, da Trilateral, etc. A tarefa é muito pesada, desejo-lhe sorte e a ajuda de Deus. Adeus. Vou para aposentadoria. Muito obrigado.

Serra, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário