O Que o Povo Não
Sabe, Nem Sequer Pressente
Naturalmente existem
muitos corruptos.
Com certeza o Brasil
é a grande pátria deles.
Eles estão presentes
em todas as profissões, inclusive na minha, no Fisco; e há-os no Judiciário, no
Legislativo e no Executivo, para não falar dos empresários. Há uma turma grande
em toda parte.
No Legislativo podem
roubar pouco, exceto os presidentes de câmaras de vereadores, de assembléias
legislativas, de câmaras de deputados, de senados. Os vereadores menos que
todos, os deputados estaduais mais e assim por diante, o que depende de votação
de leis e outros acordos escusos que traem os povos. Se o salário de um
deputado estadual é de, digamos, oito mil reais, ele pode extrair mais 20 mil
por mês, por ano menos de 300 mil.
Um prefeito, mesmo
de uma cidade pequena, pode muito mais. Dizem que o ex-prefeito de Linhares,
ES, LD, e seu vice, NC, levaram várias fazendas cada um. Fazendas podem custar
de três a 300 milhões. As de Linhares custam caro, porque cada alqueire não
fica por menos de 50 mil nas áreas mais nobres. Uma de 100 alqueires ficaria
por 100 x 50, cinco milhões. Nos municípios centrais do Brasil, como em São
Paulo, custariam muito mais, embora lá se vigie mais também. O povo vota nos
que “roubam menos”, porque a expectativa é de que roubem sempre. Começam os
políticos com quase nada e ao cabo de alguns anos, ganhando por ano 60 mil ou o
dobro disso, acumulam vários milhões ou dezenas deles. Quércia é um caso famoso
(pois, sendo fiscal, acumulou patrimônio de várias dezenas de milhões de
dólares). Maluf é outro, mas existem muitos.
O povo não fica
sabendo de nada. Não quer saber. A vida é muito curta e aborrecida para levar
em conta tais tramóias. Finge que não vê, finge que não ouve.
Está escancarado nos
jornais.
Deve
haver infinitamente mais oculto, porém não há quem faça um levantamento
completo, indicando os mecanismos judiciários, legislativos e executivos de
enriquecimento ilícito. Seria preciso elaborar tal livro atencioso. O povo não
o lerá, diretamente, mas as elites formadoras de opinião, sim, dela passando ao
povo. Pelo menor haveria ligeiro deslocamento rumo à correção.
Vitória, domingo, 24
de outubro de 2004.
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