quinta-feira, 3 de agosto de 2017


O Que o Povo Não Sabe, Nem Sequer Pressente

 

                            Naturalmente existem muitos corruptos.

                            Com certeza o Brasil é a grande pátria deles.

                            Eles estão presentes em todas as profissões, inclusive na minha, no Fisco; e há-os no Judiciário, no Legislativo e no Executivo, para não falar dos empresários. Há uma turma grande em toda parte.

                            No Legislativo podem roubar pouco, exceto os presidentes de câmaras de vereadores, de assembléias legislativas, de câmaras de deputados, de senados. Os vereadores menos que todos, os deputados estaduais mais e assim por diante, o que depende de votação de leis e outros acordos escusos que traem os povos. Se o salário de um deputado estadual é de, digamos, oito mil reais, ele pode extrair mais 20 mil por mês, por ano menos de 300 mil.

                            Um prefeito, mesmo de uma cidade pequena, pode muito mais. Dizem que o ex-prefeito de Linhares, ES, LD, e seu vice, NC, levaram várias fazendas cada um. Fazendas podem custar de três a 300 milhões. As de Linhares custam caro, porque cada alqueire não fica por menos de 50 mil nas áreas mais nobres. Uma de 100 alqueires ficaria por 100 x 50, cinco milhões. Nos municípios centrais do Brasil, como em São Paulo, custariam muito mais, embora lá se vigie mais também. O povo vota nos que “roubam menos”, porque a expectativa é de que roubem sempre. Começam os políticos com quase nada e ao cabo de alguns anos, ganhando por ano 60 mil ou o dobro disso, acumulam vários milhões ou dezenas deles. Quércia é um caso famoso (pois, sendo fiscal, acumulou patrimônio de várias dezenas de milhões de dólares). Maluf é outro, mas existem muitos.

                            O povo não fica sabendo de nada. Não quer saber. A vida é muito curta e aborrecida para levar em conta tais tramóias. Finge que não vê, finge que não ouve.

                            Está escancarado nos jornais.

                            Deve haver infinitamente mais oculto, porém não há quem faça um levantamento completo, indicando os mecanismos judiciários, legislativos e executivos de enriquecimento ilícito. Seria preciso elaborar tal livro atencioso. O povo não o lerá, diretamente, mas as elites formadoras de opinião, sim, dela passando ao povo. Pelo menor haveria ligeiro deslocamento rumo à correção.

                            Vitória, domingo, 24 de outubro de 2004.

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