sábado, 1 de abril de 2017


As Faces do Desamor

 

                            Quando a gente vai à UFES, Universidade Federal do Espírito Santo, depara com uma quantidade de construções dos mais variados estilos e épocas, tudo desencontrado, assim como o são os passeios feitos em variadíssimas épocas – uns de placas, outros de paralelepípedos, outros de pedra-sabão, outros de materiais diversos, é um total desencontro. Uns possuem telhados e outros não, com margens de plantas ou sem, retos ou curvos, nada suaves.

                            Enfim, é um desacerto total.

                            Os prédios seguem as mais estranhas orientações e posições no terreno e a gente vê logo, mesmo sem ter vivido próximo à Universidade, que não houve uma definição unificada de fundo para a arquiengenharia e a urbanização do lugar, que não houve nunca um Conselho de Construções que uniformizasse o todo e as partes. Nos vários centros construíram de vários modos, desde as imitações americanas do Centro de Artes até as construções modernosas da Engenharia. Ofendem o nosso senso estético. Mesmo os que não são arquitetos e artistas se sentirão agredidos.

                            De onde veio isso senão do desamor?

                            Porque, veja, a UFES recebe do governo federal 120 milhões de reais por ano, que é mais do que a grande maioria das prefeituras têm à disposição (seria preciso ver com relação às 78 do ES e até mesmo comparar com as 5,5 mil do Brasil). É dinheiro demais. Não há nada que justifique tanto horror arquitetônico, principalmente por não faltar realmente dinheiro e competência construtiva, ali presente, ou que poderia ser fartamente solicitada aos governos, especialmente o federal, de que a UFES é dependente administrativamente.

                            Desamor, desamor, desamor. Eis a face do desamor, na UFES como em qualquer lugar. Eis o que a falta de atenção, de dedicação, de amor, pura e simplesmente, pode fazer a um lugar. Se a mesma quantidade de dinheiro tivesse sido dada à iniciativa privada, particular, cinco ou seis vezes tanto quanto teria sido conseguido, e sem dúvida muito maior beleza. Veja que não sou apologista da iniciativa particular, pelo contrário, então sinta meu desespero. Tamanha feiúra não faz da UFES Alma Mater de ninguém, é o inverso, as pessoas estão doidas para se formarem e saírem correndo de lá, esquecendo-se de tudo que lá viveram, ou quase tudo, exceto as amizades, que podem ser conseguidas mesmo nos lugares mais rudes.

                            Vitória, quinta-feira, 06 de novembro de 2003.

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