As Faces do Desamor
Quando a gente vai à
UFES, Universidade Federal do Espírito Santo, depara com uma quantidade de
construções dos mais variados estilos e épocas, tudo desencontrado, assim como
o são os passeios feitos em variadíssimas épocas – uns de placas, outros de
paralelepípedos, outros de pedra-sabão, outros de materiais diversos, é um
total desencontro. Uns possuem telhados e outros não, com margens de plantas ou
sem, retos ou curvos, nada suaves.
Enfim, é um
desacerto total.
Os prédios seguem as
mais estranhas orientações e posições no terreno e a gente vê logo, mesmo sem
ter vivido próximo à Universidade, que não houve uma definição unificada de
fundo para a arquiengenharia e a urbanização do lugar, que não houve nunca um
Conselho de Construções que uniformizasse o todo e as partes. Nos vários
centros construíram de vários modos, desde as imitações americanas do Centro de
Artes até as construções modernosas da Engenharia. Ofendem o nosso senso
estético. Mesmo os que não são arquitetos e artistas se sentirão agredidos.
De onde veio isso
senão do desamor?
Porque, veja, a UFES
recebe do governo federal 120 milhões de reais por ano, que é mais do que a
grande maioria das prefeituras têm à disposição (seria preciso ver com relação
às 78 do ES e até mesmo comparar com as 5,5 mil do Brasil). É dinheiro demais.
Não há nada que justifique tanto horror arquitetônico, principalmente por não
faltar realmente dinheiro e competência construtiva, ali presente, ou que
poderia ser fartamente solicitada aos governos, especialmente o federal, de que
a UFES é dependente administrativamente.
Desamor, desamor,
desamor. Eis a face do desamor, na UFES como em qualquer lugar. Eis o que a
falta de atenção, de dedicação, de amor, pura e simplesmente, pode fazer a um
lugar. Se a mesma quantidade de dinheiro tivesse sido dada à iniciativa
privada, particular, cinco ou seis vezes tanto quanto teria sido conseguido, e
sem dúvida muito maior beleza. Veja que não sou apologista da iniciativa
particular, pelo contrário, então sinta meu desespero. Tamanha feiúra não faz
da UFES Alma Mater de ninguém, é o inverso, as pessoas estão doidas para se formarem
e saírem correndo de lá, esquecendo-se de tudo que lá viveram, ou quase tudo,
exceto as amizades, que podem ser conseguidas mesmo nos lugares mais rudes.
Vitória, quinta-feira,
06 de novembro de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário