A Sorte do Vietnam
O Vietnam fica no
Sudeste da Ásia, de baixo para cima no globo entre os paralelos ou latitudes 8º
38’ e 23º 17’ Norte (que no Brasil corresponderia inversamente às posições
entre Recife, Pernambuco, e São Paulo, São Paulo), de longitude entre 102º 03’
e 109º 39’ [portanto, se fosse um retângulo, as distâncias seriam de 1,6 mil km
na vertical e 0,9 mil na horizontal, uma fina tira na vertical], tem 329.566 km2
(por comparação com os 340.118 km2 de Goiás ou os 45.597 km2
do Espírito Santo, 7,2 vezes a nossa área), tinha uma população de 79,2 milhões
em 2001 (coisa de cerca de 25 vezes a do ES), com um PIB de menos de US$ 30
bilhões em 1999 (renda por cabeça de menos de 400 dólares), renda nacional que
é coisa de 1/317 da dos EUA no mesmo ano. Parece um rabo ou calda pendurada nas
costas da China, a grande potência logo acima.
Como a população é
de perto de 25 a do ES e a área somente 7,2 vezes a nossa a densidade é (25/7,2
=) 3,5 vezes a deste estado, com uma per capita que é uma fração. Enfim, muitos
problemas, muita gente e pouco dinheiro.
Dizem os vietnamitas
que estão sofrendo guerras de agressão há quatro mil anos, o que certamente os
endureceu e abrandou ao mesmo tempo. Em 1859 os franceses os dominaram, mas em
1946 o Vietminh (criado em 1939) de Ho Chi Minh criou um estado independente ao
norte, o Vietnam do Norte, capital em Saigon, agora Ho Chi Minh City (em 1996 3,6
milhões de habitantes), a par do estado do sul, Vietnam do Sul, capital em
Hanói (em 1996 1,3 milhão de habitantes); os franceses foram batidos e se
retiraram em 1954, mas a tentativa de reunificação leva à intervenção
desastrada dos EUA, destroçados em 1975, retirando-se em debandada, como vimos
pela TV, dando-se nesse ano a reunião.
Por que eu me
voltaria para um povo assim tão pobre?
Ah, bom, as
adversidades criam grandes figuras, tanto PESSOAIS (individuais, familiares,
grupais e empresariais) quanto AMBIENTAIS (municipais/urbanas, estaduais,
nacionais e mundiais) e os vietnamitas são seguramente um povelite/nação ou
cultura extraordinário. Veja que dos buracos de bombas americanas (foram
jogadas mais lá que durante toda a II Guerra) eles fizeram poças para criação
de peixes.
Eles fazem uns
filmes extraordinariamente sensíveis, dulcíssimos, que vem tanto da sensibilidade
francesa mediterrânea latina quanto do duro pragmatismo americano. Há, todos
nós sentimos, uma dívida dos EUA para com o Vietnam, que deve ser paga por
aproximação e serviços de investimentos pesados mesmo, maciços, e há a imensa
diligência desse povelite acossado e maltratado, que tem em volta os tigres e
os dragões, e acima de tudo a China e o Japão.
Então, ao contrário
do que possa parecer em razão de todas as adversidades e castigos, o Vietnam
teve sorte, foi abençoado, e terá um grande futuro, dos mais dignos mesmo – eu
vejo.
É só você pensar: 80
milhões de indivíduos a alimentar, o acicate ou estímulo ou encorajamento de
uma guerra que foi de 1939 a 1975 (36 anos, uma geração inteira), uma
vizinhança que lança desafios, a herança de finura francesa junto com
pragmatismo americano, tudo isso só pode ter desenhado um grande povelite ou
nação. De forma que, se eu fosse investir num país, investiria principalmente
no Vietnam, entre outros. E há o remorso americano como enorme fonte de todo gênero
de recursos. Pense na extraordinária potência americana, agora realmente tendo
os primeiros desafios de grande porte, unindo-se e abrindo-se para o Vietnam!
É preciso delegar um
grupo-tarefa inteiro a estudar aquele país e nação, de modo a ensinar a e
aprender com eles. Passaram-se apenas 28 anos desde o fim da guerra e eles já
fizeram mais filmes interessantes que o Brasil em 60 anos. E de uma doçura
tocante.
Vitória, sábado, 15
de novembro de 2003.
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