Ignorância Erudita
No
livro de Gerard Durozoi e André Roussel, Dicionário de Filosofia,
Campinas, Papirus, 1993, p. 20 e 21, eles colocam um quadro da filosofia alemã;
na parte relativa a Nicolau de Cusa (1401 a 1464) eles falam do desejo de
Nicolau de “transformar nossa ignorância em
ignorância erudita”. Nicolau
é um dos meus preferidos e poderia, se não tivessem faltado elementos
contemporâneos, feito o modelo, esse que construí, certamente de outro modo,
com outra abordagem, partindo de pontos diversos.
Neste
Livro 13, no artigo Verdade Assustadora, coloquei minha linha de lógica
para a impossibilidade de chegar a Deus e à Verdade da Tela Final pelo lado do
conhecimento e dos conceitos. Postas as diferenças, é a concepção dele, como
está na Barsa eletrônica. Ele falava da Ignorância Erudita (a Douta
Ignorância), o que quer dizer que só podemos nos tornar cada vez mais convictos
de nossas verdades parciais, cada vez mais certos e arrogantes de nossas
verdades incompletas, pois há um poço não-finito entre nós e A Verdade, o
resumo de tudo que faz os universos nascerem como extrema forma nos big bang,
as grandes explosões iniciais que pipocam no Pluriverso. Podemos, sim, ficar
cada vez mais convictos de certezas fracionárias, alguns com orgulho de serem eruditos-ignorantes,
sábios-bobos, espertos-tolos.
Tudo
que vamos poder fazer, eternamente, é transformar continuamente nossa estupidez
em estupidez erudita. Mas isso não é inútil, longe disso, é prova de sabedoria
e maturidade. Se não acabará com o orgulho, que é pólo do par polar
oposto/complementar, pelo menos o reduzirá a níveis aceitáveis nas
conversações, sabendo o lado verdadeiramente esperto deixar de lado as convicções
bobocas dos sabichões-idiotas. O que traz uma tranqüilidade de espírito muito grande.
Vitória,
sexta-feira, 22 de novembro de 2002.