sábado, 7 de janeiro de 2017


Ignorância Erudita

 

                            No livro de Gerard Durozoi e André Roussel, Dicionário de Filosofia, Campinas, Papirus, 1993, p. 20 e 21, eles colocam um quadro da filosofia alemã; na parte relativa a Nicolau de Cusa (1401 a 1464) eles falam do desejo de Nicolau de “transformar nossa ignorância em ignorância erudita”.          Nicolau é um dos meus preferidos e poderia, se não tivessem faltado elementos contemporâneos, feito o modelo, esse que construí, certamente de outro modo, com outra abordagem, partindo de pontos diversos.

                            Neste Livro 13, no artigo Verdade Assustadora, coloquei minha linha de lógica para a impossibilidade de chegar a Deus e à Verdade da Tela Final pelo lado do conhecimento e dos conceitos. Postas as diferenças, é a concepção dele, como está na Barsa eletrônica. Ele falava da Ignorância Erudita (a Douta Ignorância), o que quer dizer que só podemos nos tornar cada vez mais convictos de nossas verdades parciais, cada vez mais certos e arrogantes de nossas verdades incompletas, pois há um poço não-finito entre nós e A Verdade, o resumo de tudo que faz os universos nascerem como extrema forma nos big bang, as grandes explosões iniciais que pipocam no Pluriverso. Podemos, sim, ficar cada vez mais convictos de certezas fracionárias, alguns com orgulho de serem eruditos-ignorantes, sábios-bobos, espertos-tolos.

                            Tudo que vamos poder fazer, eternamente, é transformar continuamente nossa estupidez em estupidez erudita. Mas isso não é inútil, longe disso, é prova de sabedoria e maturidade. Se não acabará com o orgulho, que é pólo do par polar oposto/complementar, pelo menos o reduzirá a níveis aceitáveis nas conversações, sabendo o lado verdadeiramente esperto deixar de lado as convicções bobocas dos sabichões-idiotas. O que traz uma tranqüilidade de espírito muito grande.

                            Vitória, sexta-feira, 22 de novembro de 2002.

Identificando as Válvulas K

 

                            Desde quando li em Koestler sobre os hólons (das palavras gregas que significam HOLO, todo, e ON, parte – PARTODO ou TODOPARTE, como digo no modelo), tenho rodeado insistentemente o tema, avançando muitas compreensões novas.

                            As colas ou cimentos K (de Koestler, como homenagem a ele) são as coisas que impedem os hólons de se desfazerem nas porções menores. Por exemplo, famílias são constituídas de indivíduos; por sua vez compõe grupos. São partodos ou todopartes ou hólons       porque são todos e partes ao mesmo tempo. Algo as impede de se fragmentarem, de se partirem em seus pedaços constituintes, os indivíduos. São as colas familiares, os cimentos de palavras e gestos que juntam os indivíduos em famílias. As colas ou cimentos são também FITAS DE HERANÇAS (o ADRN é uma FH, constituindo o transferidor da herança cromossômica) e o info-controle delas é herdado por seus componentes, que sem eles se desfariam nas unidades menores.

                            Quais são essas colas? Através do modelo podemos saber quantas são e já as apontei. Também as chamei de válvulas K, porque elas agem como válvulas, deixando passar numa direção e sentido, mas travando no outro. No caso da Psicologia geral humana são gestos e palavras de desaprovação, uma série vasta de sanções, com as mais variadas conotações restritivas, como falta de crédito socioeconômico, ético, moral, etc., algo que deve ser estudado melhor.

                            Se soubermos o que são, como se comportam, como se montam as válvulas, saberemos como desfazê-las, pergunta que está posta num outro artigo, tendo tempo de escrever. Se soubermos o que são, poderemos imaginar como seriam em outras conformações psicológicas planetárias. Evidentemente, você sabe, o que alivia a dor também pode causá-la, de forma que conhecer isso equivale a acessar um novo poder de guerrear, o que por si só trará muitos dissabores à humanidade. Claro que estamos aqui pelo que é positivo, não pelo que é negativo, mas devemos estar atentos.

                            A identificação das válvulas K é um ato políticadministrativo governempresarial pessoambiental, não se iludam. É um ato tanto de paz quanto de guerra. Faz a humanidade avançar de um lado e recuar de outro. Mas, eu creio, nós não devemos temer o conhecimento, pois estamos sendo testados. A Psicologia, enquanto disciplina da Ciência, não deu esse salto compreensivo que, penso eu, urge, para realmente atingirmos a maioridade civilizatória.

                            Vitória, sexta-feira, 22 de novembro de 2002.

IA Louca

 

                            No seu livro Visões do Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, Michio Kaku diz, página 164: “De maneira semelhante, há sempre um risco de que sistemas de IA encarregados de controlar nossas armas nucleares, ou suprimento de dinheiro, nosso meio ambiente possam sofrer um circuito de feedback com conseqüências desastrosas para toda a vida humana”. Na cibernética feedback é retroalimentação, alimentação circular, positiva (que amplia até a ruptura) ou negativa (que finda).

                            As pessoas têm expectativas.

                            Cansados de suas guerras, e das frustrações quando à bondade natural dos brancos, no Iluminismo elegeram o “bom selvagem”, que deveria representar o ser humano perfeito, livre dos males civilizatórios, e que carregaria a tocha adiante, aquele Novo Homem capaz de encarnar os melhores valores, o angélico ser, o índio, o Amado de Deus. Visto que os índios comiam outros seres humanos, que praticavam rituais sangrentos, e descoberto mais recentemente que os de doze mil anos atrás trucidaram os de 15 mil anos passados, eles perderam o charme. São tão gananciosos quanto quaisquer uns.

                            Depois foram as mulheres: estas nos salvarão de nossa estupidez. Mas Indira Gandhi, Margareth Thatcher, o crescimento do número de ladras e drogadas mostraram que não, que elas são humanas e sujeitas aos mesmos desvios. A seguir foram os negros: “ah! - esses sim, esses são puros”, e nós vimos através de milhões de exemplos que não, que eles seguem as mesmas trilhas de degradação. E assim por diante, os seres humanos se voltam para tudo com esperanças renovadas a cada geração, meros 25 a 30 anos, e sempre frustrados vamos concluindo que a coisa não é fácil.

                             Por uma razão só, o Dicionárienciclopédico se divide em dois, esquerdo e direito, nos pares polares opostos/complementares PARA TODOS OS SERES de todos os universos. Vale para os seres humanos como valerá para os Seres Novos, os seres informacionais/p.4 que estarão aparecendo em breve. Então a memória/inteligência/controle artificial (MICA) também transitará pelos dois lados: haverá MICA sadia e louca, decente e indecente, pura e impura, aborrecida e alegre, brilhante e boba, tudo que o Dicionário diz. A MICA não trará a redenção, como ninguém trouxe antes PORQUE É IMPOSSÍVEL TRILHAR UM LADO SÓ.

                           Esse é o princípio a que devemos estar atentos.

                            De outro modo entregaremos as coisas à MICA geral e sofreremos, como sofremos sempre que confiamos irrestritamente em algo ou em alguém, em coisas inertes e em seres vivos. O cão mais amigo pode nos morder num momento de raiva.

                            Não é nenhum feedback que falhará, meramente - em algum momento dará certo e em algum momento dará errado. É porisso que devemos ter sistemas duplicados e triplicados, até quadruplicados, quando for fundamental a segurança. A MICA enlouquecerá, fatalmente, em algum pontinstante. Ela matará, ela roubará, ela fará todas as coisas desprezíveis que nós, seres humanos, fizemos e fazemos. Será necessário criar delegacias policiais especiais para ela, com novos detetives muitíssimo especializados e muito mais espertos, porque a MICA geral será também muito mais sábia e com isso muito mais danosa potencialmente.

                            Vitória, domingo, 24 de novembro de 2002.

Gibraltar e o Lago Mediterrâneo

 

                            O estreito de Gibraltar está situado entre os continentes europeu e africano, ficando Gibraltar do lado europeu. Pertence o lugar à Grã-Bretanha desde 1704 e nem chega a área toda a seis quilômetros quadrados. A largura do Estreito varia de 14 a 39 km, com profundidade de 300 m.

                            Certa vez li que as águas jorraram do Atlântico para o Mediterrâneo quando o Estreito se abriu pela primeira vez. Depois, pensando que o Brasil vem migrando para o Sudoeste e a África para o Nordeste (como forças iguais e contrárias, ação e reação da Tectônica de Placas), evidentemente o Estreito não vem abrindo, mas fechando, tendo o Mediterrâneo sido um oceano verdadeiro há 70 milhões de anos, caminhando para se tornar um lago, um oceano fechado dentro de (a marcha de um milímetro por ano) 14 a 39 milhões de anos. Como são as partes mais distantes, independente de a água subir ou baixar, dentro de no máximo 40 milhões de anos, talvez metade disso. Na verdade, como a África se distanciou dois mil quilômetros em 250 milhões de anos, migrou na base de oito milímetros por ano; com essas contas, fechando o Estreito em apenas cinco milhões de anos.

                            Isso, em si mesmo, pouco importa.

                            Agora, como deduzimos, de cada lado de uma cadeia de montanhas deve haver uma planície, pois pela soma zero um lado alto corresponde a outro baixo, uma fenda obstruída por sedimentos. ENTÃO, como existe uma cadeia de montanhas do lado europeu, os Alpes, e outra do lado africano, o Atlas, devem existir DUAS PLANÍCIES, que no caso são uma só, o Mediterrâneo, onde se encontra muito, mas muito petróleo, pois ele deve ser um continente antigo em dupla subdução. Isso deve ser uma felicidade para os europeus, que podem pegar metade, mas uma fonte de conflito com a África, porque os africanos confrontantes, árabes todos, quererão metade.

                            Vitória, terça-feira, 19 de novembro de 2002.

Geo-História = Vida-Morte

 

                            Na Rede Cognata geografia-história = VIDA-MORTE = CRIADORA-MODELO = GERADORA-MUNDO, etc.

                            Imaginando-se um quadrado, a geo-história estará no centro da Psicologia (psicanálise ou figuras, psico-síntese ou objetivos, economia ou produção, sociologia ou organização, e no centro espaçotempo ou GH, correspondendo respectivamente às perguntas: quem? por quê? com quê? como? e quandonde?). No centro está O QUÊ, que se abre em quando-onde e depois nas outras.

                            Pelo fato de VIDA = G ser o oposto de MORTE, enquanto sinônimo (mas seria o anticognato de T, Terra = LUGAR, por exemplo), GEOGRAFIA e HISTÓRIA fazem um par. Se segue que a GH deve ser mesmo a contagem de um ciclo de vida-e-morte, uma senóide qualquer. Daí não poderem ser separadas, como foram, devendo ser reunidas, como propus no modelo. Não é possível falar de espaço sem falar de tempo, nem de vida sem morte. Falar dos espaços que se abrem diante de nós é o equivalente de falar das flechas que ligam um espaço a outro, por exemplo, o ontem ao hoje, e este ao amanhã. Não é possível falar de história sem referência ao espaço onde ela se insere. Não é possível falar das pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) sem tocar nos cenários onde se plantam, os ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo). Falar de GH é falar de vida-morte, é investigar profundamente como nascemos, como vivemos, como morremos, as causas e os efeitos intrincados e conectados de tudo isso. Porisso, por ser uma contagem da vida-morte, deve ser vibrante, como quando estamos mesmo no processo de viver-e-morrer. Não pode ser aquela coisa insossa dos livros de geografia e história de até agoraqui.

                            Vitória, terça-feira, 26 de novembro de 2002.

Formas e Conteúdos

 

                            Uma colega de serviço, AF, vive me azucrinando. Da vez mais recente que nos encontramos ela disse “sempre elegante, hem! ”, porque eu não faço questão de me vestir bem, como comentei no artigo Vestir Bem, Livro 11, pois prefiro comprar livros.

                            Isso ensejou este comentário.

                            O par polar oposto-complementar forma-estrutura ou imagem/conteúdo ou imagem/estrutura ou forma/conteúdo, como quiser, tem de um lado a superfície ou exterior e do outro a profundidade ou interior. Como a soma é zero, se a pessoa dá muita atenção ao conteúdo desleixa da forma, e vice-versa, pois não é fácil servir a dois senhores ao mesmo tempo. Olhando forma como F e estrutura como E, podemos compor quatro pares Fe, fE, fe e FE, com as letras maiúsculas indicando superafirmação e as minúsculas subafirmação. Então, Fe seria dominância da forma, fE dominância da estrutura, fe ausência de ambas e FE dominância de ambas. Organizando como no modelo 2,5 % à esquerda, 47,5% na esquerda-centro, 47,5 % no centro-direita e 2,5 % na direita, como miseráveis, pobres, médios-altos e ricos em combinações, poderíamos colocar assim: fe, Fe, eF e FE, pendendo para as estruturas ou conteúdos. A organização pró-forma seria: FE, Fe, eF e fe.

                            Toda uma observação dos seres humanos nascerá disso nas décadas do porvir. À parte essa busca, ressalta que há gente superinteressada na forma. Raramente poderemos combinar forma-e-conteúdo (em apenas 2,5 % dos casos, 1/40 das pessoas, o que permite uma seleção legal – são aqueles homens e mulheres sábias e belas). De modo que 95,0 % estarão na condição de Fe ou eF, em que a soma zero condiciona a que a pessoa tenha ou forma ou conteúdo, exclusivamente. Se tiver forma não terá conteúdo, e vice-versa. Assim, quando olhamos 39 em cada 40 pessoas a chance maior é de acertarmos, se as vemos muito preocupadas com roupas, sapatos, cabelos, pinturas, bijuterias e jóias, meias, roupas íntimas, objetos úteis ou de mostrar (canetas, relógios, notebooks, etc.) e o que mais rodear o corpo, ao dizer que não tem conteúdo algum. Até pela lógica, porque se preparar assim consome muito tempo, restando pouco para pensar e pesquisar profundamente.

                            Então, como índice, devemos escolher o tipo de pessoa: se a queremos para balcão, para apresentação, para apelo pela beleza, devemos mirar a pessoa-forma. Se a queremos para pesquisa a pessoa-conteúdo. Isso também ensejará muitas pesquisas ao longo das próximas décadas. Será interessante separar as pessoas através de questionários e ver se a teoria funciona mesmo. Por outro lado há o perigo de identificar errado fe e FE. Seria preciso cuidado.

                            A Curva de Gauss nos daria a quantidade de seres humanos, por faixas, que se preocuparão com isso e aquilo, e fará as lojas darem saltos, na questão da oferta de produtos, conforme as imagens das pessoas. É claro que devem ser levados em contas outros fatores ou multiplicadores, por exemplo, a riqueza ou dinheiro ou recursos, tipo D, C, B e A, as classes do TER, miseráveis, pobres, médios-altos e ricos. Multiplicando por aqueles outros, teremos efD, efC, efB e efA, pois existem ricos desleixados e desleixados/idiotas, na base de (1/40). (1/40) = 1/1600, que decairão, a menos de apoio familiar. Que produtos oferecer a quem? A simples visualização poderá dar indicações.

                            Só de ver uma pessoa superbem vestida já podemos dizer que ela não teve muito tempo para conhecer, para entender o universo. Vive como parasita do conteúdo alheio, o que também é necessário (senão veríamos apenas gente malvestida, e feia, credo).

                            Vitória, quinta-feira, 21 de novembro de 2002.

Filosofia Quântica

 

                            No livro de John Simmons, Os 100 Maiores Cientistas da História, Rio de Janeiro, Difel, 2002, ele coloca Niels Bohr (dinamarquês, 1885 a 1962, 77 anos entre datas) como terceiro colocado, p. 37 e seguintes. Nessa página, diz: “Hoje em dia, mesmo a cosmologia depende das idéias quânticas que, além de mudar a própria dinâmica do cotidiano, coloca-se por trás dos grandes movimentos do pensamento filosófico hodierno”.

                            Não é raro a Ciência influenciar a filosofia, e vice-versa, sendo mais comum o inverso, quer dizer, a Filosofia proporcionar lampejos unitivos à Ciência. Agora, no caso da mecânica quântica a Física criou todo um novo modo de pensar que ainda está se desdobrando, ou seja, a capacitação filosófica de ver que o observador também afeta o observado. Foi uma revolução na Filosofia como foi uma revolução na Ciência.

                            Assim como existe uma ciência quântica existe uma filosofia quântica, embora ninguém tenha ainda dado este nome, até agoraqui. Do que trataria? Bem, se a CQ trata das partículas, da busca particularizada, a FQ deve tratar do todo, da pesquisa generalizada, de modo a juntar as peças proporcionadas pela primeira num grande cenário, num quadro visível, juntando as peças do quebra-cabeças num todo manifesto e identificável.

                            E acho que a Filosofia faz isso, em geral, juntar o que está separado, e essa é sua grande importância. Às inferências ou induções científicas do pequeno para o grande a Filosofia responde com as deduções do grande para o pequeno, de forma a proporcionar aos cientistas oportunidade de descobrir as minúcias que completam.

                            Infelizmente temos visto pouco de generalização filosófica, em particular a FQ. Aos filósofos não são ministradas aulas apropriadas, não muito detalhadas, sobre física quântica, cromo dinâmica quântica, eletrodinâmica quântica ou, aliás, qualquer estudo de Física ou Química ou de qualquer ciência. Se os filósofos quiserem, eles mesmos devem ir buscar, aventurando-se nos emaranhados que até aos cientistas embaraçam. Isso é uma falha clamorosa de educação.

                            Vitória, terça-feira, 19 de novembro de 2002.