quinta-feira, 15 de dezembro de 2016


A Farsa dos Remédios

 

                            Fui a uma farmácia de Vitória, a Drogaria Santa Helena de Jardim da Penha, onde compramos os remédios da família, e o rapaz quis me convencer a comprar um determinado medicamento, Gingko Biloba, porque ele era bom, entre outras coisas, para prevenir os efeitos deletérios dos outros remédios.

                            Eu nunca havia ouvido nada de semelhante.

                            Das estatísticas de 25 anos atrás que ficaram na minha cabeça lembro que o Brasil fabricava 36 mil remédios, enquanto a Suécia, MUITO MAIS avançada, utilizava apenas 800 deles para todas as doenças, numa proporção de 45/1, ou seja, a Suécia precisava de apenas 2,22 % dos remédios usados no Brasil.

                            As multinacionais e as nacionais lucram bilhões, às custas de nossa ingenuidade nacional, estadual e municipal/urbana. Bilhões são remetidos para o exterior, à custa de sangrarem os brasileiros. Dúzias e dúzias de remédios restam em nossas casas, parcialmente usados; dinheiro jogado fora, quando temos tanta necessidade de recursos (riquezas reais) e riquezas (recursos potenciais). Somos “tão ricos” que jogamos dinheiro fora.

                            Os governos não dão a mínima.

                            Apenas foi o caso de o governo federal criar os “genéricos”, remédios mais baratos, para continuarmos a consumir muito, colocando em confronto negativo os medicamentos e nossa biologia/p.2 primária, induzido nossa psicologia/p.3 a confusões intermináveis. E os governos estaduais e municipais/urbanos, para não ficar atrás, colocaram fábricas próprias, para entupir a população de químicos.

                            O resultado é uma aberração, de um país com tanta pobreza e miséria visíveis, estar remetendo dinheiro a rodo para o exterior, quanto tanto há para fazer em nome da verdadeira saúde do povo e das elites.

                            Que dependência demoníaca (a ser trilhada pela Academia – por seus mestres, doutores e pós-doutores) é essa?

                            Como aceitar que os governempresas daqui sejam tão frágeis a ponto de não conseguirem contestar o poder e a influência da Economia farmacoquímica (agropecuária/extrativismo, indústrias, comércio, serviços e bancos envolvidos) estrangeira e brasileira?

                            Que interesses são esses que se sobrepõe à nossa autonomia, aos nossos direitos sagrados à saúde e ao bem-estar, à nossa dignidade e independência?

                            Vitória, sábado, 8 de junho de 2002.

A Década Perdida

 

                            Durante anos os economistas, os governantes, os políticos e as empresas falaram da tal “década perdida” no Brasil, de 1980 a 1990, o que é tudo mentira. Por exemplo, o Calegari pediu que eu comentasse o texto Política de Comércio Exterior e Crescimento Industrial no Brasil, de Arthur Barrionuevo Filho, professor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica da EAESP/FGV, publicado na ERA – Revista de Administração de Empresas.

                            Como as estatísticas estão todas distorcidas, só através do raciocínio poderemos realmente saber a verdade.

                            A ditadura durou, no Brasil, de 1º de abril (dizem 31 de março, por conta do “dia da mentira”) de 1964 a 15de março de 1985 nada menos que 7653 dias, ou 20 anos, onze meses e treze dias, faltando 17 dias para completar 21 anos, morrendo antes de atingir a maioridade. Ninguém ficou sentido por isso, não.

                            Entrementes, é certo que a ditadura, precisando justificar a sua presença com obras, tratou externamente de conseguir muitos empréstimos para coisas úteis e inúteis, mais de 100 bilhões de dólares, e internamente apertou o cerco aos sonegadores, que viveram períodos difíceis.

                            Passando pelas crises do petróleo de 1973 e 1980, e vendo a retração dos investimentos e empréstimos de fora (para além do gasto incrível e desnecessário de Ernesto Geisel, financiando a falida indústria termonuclear alemã, sendo ele mesmo descendente), os milicos acreditaram esgotado seu modelo de desenvolvimento de poucos, e passaram a peteca a outros, para que eles continuassem o processo democraticamente. Como li num muro de Linhares em 1984: “estamos trocando 20 anos de ditadura por 10 anos de merda pura”. A pura verdade.

                            Em 1985, ao pegar o poder com a morte muito estranha de Tancredo Neves, José Sarney certamente afrouxou o controle, caindo tanto a receita que os governos seguintes tiveram extrema dificuldade em pagar as contas internas e externas, até a retomada do serviço pela Receita Federal.

                            Evidente que desde João Batista Figueiredo tudo estava correndo pelo Abreu: se ele não pagar, nem eu.

                            O resultado foi que grande parte da economia migrou para o invisível. Tendo entrado em 1984 no Fisco estadual do ES, em 1988, estando no atual Sindifiscal, então AFES, eu disse ao ex-secretário de estado da Fazenda, José Teófilo de Oliveira, que a sonegação passava dos 60 %, do que ele zombou, mesmo sabendo perfeitamente ser verdade, pois era um dos Delfin-boys do regime militar.

                            Não sei quanto era, mas se em 1980 a sonegação estava contida em digamos 10 % e alcançou 60 % em 1988, tendo multiplicado por 5 em 8 anos, aumentou no todo 50 %, num ritmo alucinante de crescimento da demência consentida de mais de 20 % AO ANO, verdadeiro festim de incúria ou desmazelo de um lado e podridão ou devassidão do outro.

                            Claro, ao final da década todos estavam felizes, menos os que sofreram com isso. Os governos desculparam-se inventando a pérfida e totalmente falsa “década perdida”, que é um desses mitos oficiais.

                            Mas de onde vieram todos os televisores, todas as geladeiras, todas as viagens, todas as coisas que os brasileiros estiveram comprando nessa década? Milhares, centenas de milhares de microempresas nasceram na ou foram para a clandestinidade, a ponto de um candidato a presidente, Antônio Ermírio de Moraes, um dos donos da Votorantin, dizer que 33 % da produção das (grandes, veja só) empresas saíam sem notas fiscais. Veja que eram as empresas oficialmente aceitas pelos governos, e era um dos poderosos deste país!

                            Se segue que é tudo mentira, é invenção torpe, depravada pervertida, é maracutaia, fraude, falcatrua mesmo. Que continua a ser propagada pelos que não investigam ou têm interesse na continuidade da farsa. E assim vão os economistas mentindo a rodo. SE colar, colou.

                            Não cola para quem investiga, indaga, pesquisa, quem não aceita de pronto a propagação do erro.
                            Vitória, sábado, 15 de junho de 2002.

A Conveniência dos Paradigmas

 

                            Embora muitos falem contra os paradigmas, tal como os descreveu Kuhn, eles estão longe de serem tão ruins como se diz. Pelo contrário. Afora durante as revoluções, é excelente que existam mesmo. São a base da evolução, enquanto sua destruição é condição das revoluções. Porém o mundo não pode ficar em revolução mais que 2,5 % ou 1/40 do tempo, creio eu, ou de outra forma ninguém produziria.

                            Assim sendo, os paradigmas são convenientes, até muito convenientes. Quem pode trabalhar se há permanentemente baderna em toda parte e tiroteio nas ruas? A Ciência e o restante do Conhecimento dificilmente prosperarão em tais condições, exceto quando esteja operando o modo revolucionário, ou seja, quando tem significado desobstruir o caminho das teias ou cristalizações, com a proposta de modificações profundas e terminais.

                            Os paradigmas são programas a serem seguidos pela grande maioria. A “pequena maioria” (isso faz sentido, creia, porque a pequena maioria, em geral sufocada, se manifesta nas revoluções, enquanto a grande maioria o faz durante os períodos evolucionários) fica o tempo quase todo abafada, vindo à tona quando o mundo está indo para o buraco, justamente recebendo a missão espinhosa de salvá-lo.

                            A grande maioria não é estúpida, só não sabe tudo. Sabe o lado menor da realidade, porque não pesquisa tão a fundo quanto a pequena maioria, os inconformados. Estando conformada, necessariamente ela está contida na mediocridade, a qual também deve subsistir enquanto não for substituída. Enquanto for útil a mediocridade é que conduz o mundo.

                            A mediocridade paradigmática foi a sabedoria revolucionária de antes; a ortodoxia foi a mais pura heterodoxia antes. Tudo que é comum hoje foi um dia profunda verdade oculta, que lutou tremendamente para vez a luz do Sol, contra as opiniões de quase todos, menos dos revolucionários que as conduziam.

                            E é bom que as posições revolucionárias, antidogmáticas, sejam obstruídas, pois elas devem provar seu valor e utilidade, ou de outro modo a todo instante deveríamos alterar o curso das coisas. Imagine o que seria a todo momento mudar a direção de seis bilhões de pessoas.

                            Não há como, certo?

                            Então, os dogmas ou paradigmas devem existir e até prosperar enquanto não forem fortemente contestados por formas mais avançadas ainda de ver e de proceder.

                            Estão errados os que atacam irrefletidamente os paradigmas. Os modelos ou padrões ou protótipos, os congelamentos são também utilíssimos porque afastam os medíocres da fronteira das discussões. Quão desagradável seria se todos se pusessem a discutir sobre tudo, causando tremenda balbúrdia na linha de frente do trem de ondas das mudanças!

                            É claro que quando a gente fica aborrecida com os paradigmas, já está sendo considerado tudo isso. A reprovação vai para aqueles que podendo estar mais adiante recusam-se a pensar e a avançar, mantendo-se fiéis e superfiéis ao atraso, quando nitidamente está sendo oferecida uma solução melhor, a qual não é vista por falta de um mínimo de audácia.

                            Só estes nos aborrecem.

                            Quanto aos demais, os paradigmas são utilíssimos.

                            Ninguém diria que os brinquedos de crianças não servem só porque já passamos dessa fase.

                            Vitória, quinta-feira, 20 de junho de 2002.

Caixa de AM-W

 

                            No livro de Annete Moser-Wellman, Cinco Faces de um Gênio (como descobrir e desenvolver a genialidade e a criatividade humana), São Paulo, Alegro, 2001, página 173/4, ela fala da “caixa”.

                            Ela estava conversando com uma antiga chefe e reclamou não poder resolver os problemas, a chefe respondendo que ela não estava vendo os “lados da caixa”. “Que caixa”, perguntou. Ao que a chefe respondeu que a tarefa dela (e de todos, digo eu) era ficar sobre uma caixa, aprendendo a ver todos os lados para ver qual é possível vergar, ou seja, forçar como solução e saída, a criatividade começando quando a pessoa se recusa a ver os lados da caixa como limitações e passa a vê-los como auxílios ou potenciais.

                            Bem, deveríamos VER DE DENTRO, em primeiro lugar.

                            A parte de baixo é a realidade, à frente está o futuro ortodoxo, atrás o passado ortodoxo, dos lados as escapadas à esquerda ou à direita, acima a grande idéia.

                            Ou podemos VER DE FORA.

                            Aí teríamos seis soluções para os problemas, cinco correspondendo às faces de que AM-W fala e a sexta sendo a permanência na ortodoxia, ou quatro sendo as quatro faces do diagrama lógico de Aristóteles, a quinta sendo a solução central de onde derivam todas as demais, esta abrindo-se em duas, história, conservação, e geografia, expansão.

                            Ou, em vez de um hexaedro, um cubo, vermos qualquer outra figura geométrica espacial regular (ou não).

                            É uma metáfora muito boa e pode ser um poderoso auxílio nas reuniões de negócios ou seções de criatividade, os tanques de pensamento, obrigando as pessoas a buscar seis (ou “n”) soluções, coordenadas ou não, neste caso depois coordenando-as (o que pode ensinar tecnartes de chefia ou de obediência transitória para propósitos de crescimento) ou não.

                            Pode causar claustrofobia em alguns e isso também é útil para sabermos os que se recusarão a pensar, e, portanto, devem ir a outras tarefas.

                            Em cada lado da caixa pode haver uma tela, numa sala mesmo, onde se iriam acumulando os apontamentos de soluções e suas críticas, com os autores (para os créditos). Se houvesse efetivamente uma IA (Inteligência Artificial) verdadeiramente autônoma para organizar a produção, tanto melhor. Ou alguém pode se incumbir desse mecanismo de classificação nas reuniões, alinhando os grupos de saídas.

                            Saída do futuro, saída do passado, saída da esquerda (popular) saída da direita (elitista), saída de cima (virtual), saída de baixo (real), os vários níveis de compromisso - depois rotulando as classes, em termos de produtividade, a produção da produção, a metaproduçãorganização, de onde se olha a produçãorganização. Pode-se mesmo, posteriormente, definir o rendimento real (em termos de lucros) e potencial (em termos de desdobramento interno e externo), para categorização dos produtores.

                            Enfim, pode se tornar de fato uma tecnociência de valor, se a Academia ou os grupos isolados de pesquisa & desenvolvimento a elevarem a um estatuto maior de busca.

                            Vitória, sexta-feira, 31 de maio de 2002.

A Ajuda de Terceiros nos Trabalhos Escolares

 

                            O Calegari é técnico do IDAF, Instituto de Desenvolvimento Florestal, ligado do Ministério da Agricultura e realiza vigilância de divisa verificando os documentos fitossanitários. Tem 24 anos e mora em Nova Venécia, ES, e é tudo que sei dele. Pediu-me que comentasse um texto, do qual falei em A Década Perdida, Livro 3.

                            Quando eu estava no segundo grau em Linhares, meu irmão José Anísio e outros, estando freqüentando a faculdade de direito em Colatina, encomendaram-me uma colagem, um falso estudo, que fiz na Biblioteca Municipal de Linhares, onde tive oportunidade de, pela primeira vez, tomar contato com várias obras de maior vulto, inclusive Shakespeare.

                            Da mesma época foi um trabalho que fiz e coloquei o nome de Joelson Fregona, então colega de estudos, depois formado em odontologia, atualmente trabalhando lá mesmo.

                            E assim por diante, na faculdade coloquei o nome de muita gente, o que me faz pensar sobre o título deste artigo.

                            As pessoas que pedem isso estão realmente “se formando” nos estudos, na faculdade? Estão, claro, se iludindo, porque não testam sua inteligência e memória diante do mundo; não competem pela sobrevivência do mais apto. Não fortalecem os músculos mentais (quem faz isso é quem prepara o trabalho), caem na prostração ou abatimento de encomendarem aos outros a dureza da vida. Evidentemente aquelas pessoas fizeram muitos outros trabalhos, então detém competência própria significativa. Não é uma só tarefa que as qualifica.

                            E a coletividade perde porque atribuiu à pessoa o que ela não é. Num momento de extrema necessidade solicitará e não terá resposta conveniente, adequada, às vezes com grande perda.

                            Evidentemente essa gente não é má, pelo contrário, são todos, até onde posso ver, excelentes indivíduos. Não se trata de julgamento moral ou de valor e sim de compreensão de como o mundo caminha. Ora, eu penso que a própria escola deveria raciocinar, na pedagogia mais alta, que é a filosofia ou a ciência da transferência do conhecimento, e na prática de sala de aula, sobre todo esse processo de encomenda, de escamoteamento. Não se trata de forçar nada e sim de fazer compreender à pessoa de que tanto ela quanto a coletividade, o ambiente, precisam de conhecimento verdadeiro, de respaldo de todo o Conhecimento. Precisamos de pessoas que realmente detenham o conhecimento que a graduação atribui.

                            Quem quer pontes caindo, empresas mal administradas, estremecimento bancário?

                            Pela via da força não vai.

                            É fundamental desde cedo passar carinhosamente a certeza de que ninguém tem nada a ganhar com essa invericidade, inautenticidade, inexatidão, com essa distância entre a afirmação e o fato.
                            Vitória, sábado, 15 de junho de 2002.        

Unigênito!

 

                            Há uma passagem esplendida na vida de Jesus, que não vi ninguém analisar. Diz-se que Ele é filho unigênito de Deus. O Michaelis da máquina diz que é o cognome de Jesus, e traz unigênito como sendo “único gerado por seus pais” (pai e mãe), filho único.

                            Mas pode ter o sentido de uni (único) / gênito (gerado), como o gerado de um só, como um clone, uma réplica. Evidente que os clones só foram pensados pela Ciência enquanto realidade no final século XX, embora a FC viesse falando deles há mais tempo como possíveis, tendo propagado as primeiras discussões científicas e técnicas de algum tempo antes.

                            Já se tinham passado quase dois mil anos antes que alguém levantasse a possibilidade.

                            Uni-gerado, veja só.

                            Filho unigênito de Deus.

                            Compreensão humana da Terra não poderia ser, a menos que haja mais do que dizem. Ou isso vinha de conhecimento de civilização avançada do passado, ou de gente de fora, ou de Deus mesmo.

                            E Jesus dizia: “quem me vê, vê Meu Pai”. O que seria bem lógico, dado que um seria a réplica do outro. E dizia também que estava em Deus desde o princípio, o que também é lógico.

                            Não é espantoso?

                            As pessoas ficam pedindo provas, mas não analisam as palavras a fundo, nem na Bíblia nem em outros lugares, principalmente não o fazem com isenção, sem paixões contras ou a favor.

                            Imagine que tivemos de evoluir sócio-economicamente dois milênios para chegarmos a ponto de pensar em gerar um clone, uma repetição exata de um ser, e mesmo assim animais. Embora se diga que há condições, e que já estão em gestação seres humanos, meditemos que dos clones animais obtidos vários foram teratogênicos não mostrados. Dizem que 300 mulheres estão na fila, mas é esperar para ver. Isso que é incipiente e mal-posto pela humanidade de dois mil anos depois, aparentemente era cursivo, comum, trivial para quem gerou Jesus há dois mil anos.

                            E, se Jesus era filho unigênito de Deus, quer dizer que: 1) Deus é só humano, e Jesus também, ou 2) ambos são só divinos, ou 3) ambos são parcialmente divinos e parcialmente humanos. Só existem estas possibilidades.

                            As implicações são sérias, pois se Deus é humano, é mortal, e Jesus também. Se é exclusivamente divino, e Jesus também, deve ser imortal, razão pela qual Jesus não queria ser tocado, nem teria se misturado a gente humana. E se Jesus era mortal, morreu, e não houve ressurreição, furando o dogma na base de todo o cristianismo.

                            Os cristãos vão se apegar à hipótese de serem ambos imortais, pois que sentido faria um ser, criador de todo o universo, ser mortal?

                            Eu creio que a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, está cheia de mensagens que só poderão ser entendidas mais adiante. E muitos outros livros também. Que há mais coisa entre o Céu e a Terra do que pode sonhar a vã filosofia humana está bem claro.

                            Vitória, quinta-feira, 23 de maio de 2002.

Um Modelo para os Morros

 

                            Escrevi e entreguei ou protocolei alguns artigos e textos a e para Luis Paulo Veloso Lucas, atual prefeito de Vitória, um deles falando dessa renov/ação, o ato permanente de re-novar os morros. No Brasil os morros são lugares de invasão, aonde pobres e miseráveis iam e vão morar. Mais recentemente têm aparecido casas boas, sobrados, prédios até. A coisa vem mudando lentamente e a dialética diz que no oposto do ciclo serão os ricos e os médios-altos que morarão lá.

                            Enquanto esse tempo não chega, é preciso olhar os atuais moradores com desvelo, com o máximo de atenção.

                            Pouco imaginativas que são, as pessoas em geral só olham para o futuro como se esse fosse uma repetição do passado, e daí não dão valor tão grande a ele. Se fôssemos trabalhar pelo ano de 1852 daríamos tanto de nós? A humanidade era pobre, como um todo, em relação a 2002. Por outro lado, se víssemos o futuro de 150 anos depois de agoraqui, certamente colocaríamos grande empenho na coisa, dando incomparavelmente mais de nós.

                            A mediocridade reina e impera, de modo que as pessoas quase todas não projetam que daqui a 150 anos, em 2152, o mundo estará não só muito mudado, o que é aceito, como muito maior. Devemos trabalhar para transformar este mundo simples e pobre de agora no mundo complexo e rico de depois.

                            E isso se fará com grandes projetos, com estupendas construções de toda espécie, com arrojo e determinação, com audácia para aceitar as novas idéias, com dignidade para aceitar a liberdade e o crescimento e desenvolvimento (sustentável) dos outros, com mudanças de rumo, com alterações comportamentais, com novas visões de mundo.

                            Não adianta manter o Brasil dividido em dois, um dos que têm quase tudo, e outro dos despossuídos, que não tem quase nada.

                            É do maior interesse de todos a abertura rumo à igualdade geral e de oportunidades assimétricas, dando mais a quem menos tem, seja riqueza, seja capacidade de fazer – o que também não pode decair para doações sem retorno, ou seja, esmolas, que viciam o cidadão, como dizia Gonzagão.

                            Neste sentido um projeto para os morros pode ser visto como algo de verdadeiramente gigantesco, com a participação dos tecnartistas todos, em especial dos arquiengenheiros e dos urbanistas, e de todos os ramos do Conhecimento. Algo para um horizonte curtíssimo de cinco, curto de 10, médio de 20, largo de 40 e larguíssimo de 80 anos.

                            Algo para mudar mesmo o Brasil, a começar do ES.

                            Será que ninguém vai ter grandeza de começar isso?

                            Por coincidência ou não, o citado prefeito construiu várias casas grandes em alguns morros (mas não assumiu as sugestões).

                            Vitória, quarta-feira, 15 de maio de 2002.