segunda-feira, 12 de dezembro de 2016


Orientação Profissional

 

                            No modelo chamei de Chave do SER memória, inteligência e controle ou comunicação, e de Chave do TER matéria, energia e informação. As duas juntas, Chave CST. Informação e controle se juntam para formar o info-controle ou info-comunicação, que é o que direciona a coletividade humana, no final das contas.

                            Os estúpidos testes de QI, ou quociente de inteligência medem somente um desses fatores, e assim mesmo de modo questionável, de forma que o povo passou a chamar jocosamente de Quem Informou?

                            Como eu já disse nos textos, seria melhor definir um índice total, para o SER QIMC, e para o TER QEIM, digamos, para mensurar a capacidade de resolução de problemas ou questões dos conjuntos, que são, os pessoais, indivíduos, famílias, grupos e empresas, e os ambientais, municípios/cidades, estados, nações e mundo, assim como se fosse a resolução ou separabilidade diametral dos olhos, aquilo que podemos discernir olhando de uma certa distância. Podemos rearranjar as letras, de modo a ficar fácil de falar, como CIM/MEI, um teste completo, científico. Ora, que adianta ter um espírito agudo, enquanto pessoa, e não ter os recursos para estudar? Ou, pior ainda, vice-versa, que é perda de tempo?

                            Vem então a questão da ORIENT/AÇÃO PROFISSIONAL. Olhe que é ato permanente de orientar, AÇÃO. E deve ser profissional e não amadora, quer dizer, deve ter um programa de treinamento apurado dos orientadores, orientação para os primeiros professores, portanto uma distribuição programática feita pelo conhecimento alto ou pelo conhecimento baixo, que seja, pelo menos.

                            E a quem deve se dirigir?

                            Bom, aos pares polares, pois há separações quantitativas, embora não deva havê-las qualitativas, seriam antidemocráticos e inconstitucionais.

                            Mulheres e homens, velhos e novos, negros e brancos, indígenas e conquistadores, crianças e adultos, pobres e ricos, empregados e patrões, etc., dando-se mais a quem tem menos.

                            Por Orientação Profissional, hoje em dia, pensa-se numa coisa provisória e esporádica que ocorre uma vez só na vida, geralmente no final da adolescência, quando deve ser respondida a pergunta “o que vou ser quando crescer? ”. Tal questão já evidencia um pensamento errôneo, de que há um fim para o crescimento. Mas não, se o crescimento em altura termina, o mesmo não se dá com a inteligência, a memória, o controle/comunicação e o domínio da matéria, da energia e da informação. Conseqüentemente a ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL que estou pleiteando deve se estender por toda a vida, do Jardim de Infância até a mais extrema velhice, e deveria constituir um importante departamento nas empresas, e secretaria ou ministério, no governo.

                            Tanto para empregados quanto para desempregados.

                            Às vezes uma pessoa passou a vida toda num emprego ruim, que detestava e onde rendeu pouco, e na aposentadoria poderia desejar fazer o que gosta, reorientando toda a sua vida, tornando-se uma pessoa feliz, e assim também aos que estão à sua volta.

                            Ou dar uma reviravolta, uma volta completa em sua vida.

                            Ou saber o que está correndo no país e no mundo.

                            Do mesmo modo como falei da educação, que deveria passar de moderna a contemporânea, os governos deveriam fazê-lo também, saltando por sobre o fosso, pois ainda são bons para 300 anos atrás. A isso poderíamos chamar CONTEMPORANIZAR-SE. Atualizar-se, vir para o dia de hoje, dar as respostas para as perguntas hodiernas, e não ficar apenas construindo pontes, hospitais, escolas, que eram os pleitos de 300, 200 ou 100 anos atrás.

                            Pessoas de grande conhecimento geral prévio engajadas num treinamento intensivo e amplo, seja em voluntariado, seja por meio de pagamento. Melhor o último, que cria obrigação e aprimoramento, em contratos temporários sujeitos a avaliação permanente de resultados, segundo quesitos. Mas não se deve fechar a outra aproximação, porque existe gente que quer trabalhar sem receber, apenas pelo prazer de fazer o bem.

                            Enfim, rever essa questão de orientação, de contribuir para esclarecer as pessoas e os ambientes quanto aos rumos que podem tomar.

                            O mundo cresceu, complexificou-se, tornou-se extraordinariamente vasto. Não é bom que os produtores e organizadores sejam deixados sozinhos nesses caminhos intrincados.

                            Vitória, sábado, 13 de abril de 2002.

O Tempo Relativo

 

                            Isaac Newton, matemático, físico, astrônomo e filósofo inglês (Woolsthorpe, Lincolnshire, 1642 – Hensington, 1727, 85 anos entre datas) afirmava que o tempo era absoluto, ao passo que Albert Einstein, físico alemão de origem judaica (Ulm, 1879 – Princeton, 1955, 76 anos entre datas) dizia o contrário, que era relativo. Como Einstein fez coisas tão grandiosas quanto Newton, e é mais recente, diz-se que suas teorias englobam as do primeiro.

                            Ambos foram gênios portentosos, dignos de toda reverência humana, pois libertaram a humanidade um monte de crenças errôneas.

                            Mas qual está certo?

                            O modelo respondeu que ambos estão certos e ambos estão errados, ao mesmo tempo.

                            É que existem dois tempos.

                            Um, muito profundo, é o tempo absoluto de que fala Newton, tempo de referência de todos os outros que estão como que numa pirâmide infinitamente particionável colocada virada e aberta para cima, o zero sendo esse absoluto, padrão de todos os demais. Chamei-o de HORIZONTE DE SIMULTANEIDADES, HS, ou propriedade temporal do universo.

                            O outro tempo é relativo às velocidades dos objetos, inclusive das pessoas, e compreende, portanto, infinitos relógios, todos referidos ao zero de que falei. Este é o tempo einsteiniano.

                            Desse modo, não há conflito verdadeiro entre esses dois criadores poderosos, nem há necessidade que se afirme tal.

                            Tudo pulsa no ritmo de tempo verdadeiro, que é como que um pano de fundo do universo inteiro, uma métrica para tudo e todos. E há vários tempos DE ENVELHECIMENTO, digamos assim, que são os pulsos de todos os conjuntos; os que pulsam muito rápido envelhecem rápido também, enquanto os que aproveitam a vida lentamente morrem bem mais tarde, falando-se em termos humanos, à parte os acidentes. Os tempos relativos são, por assim dizer, RITMOS DE APROVEITAMENTO das trocas de informação-controle, o que acaba no nível absoluto com o paradoxo dos gêmeos (paradoxos são originados de definições ruins) e a dilatação do tempo, com o encurtamento das réguas, com toda essa coisa.

                            Como já falei inúmeras vezes, nós nos encontramos todos sobre o HS, horizonte de simultaneidades, e trocamos info-controle sobre ele, em primeiro lugar, sustentação de tudo, de todas as transferências. No nível superior, trocamos informações sem simultaneidades, tal como Einstein disse, e PARECE HAVER aqueles fenômenos descritos por ele. Pois se o tempo fosse realmente absoluto, teríamos vários tempos reais com que lidar e jamais conseguiríamos nos encontrar para as trocas, tudo pulsando a ritmos muito distintos.

                            É como uma árvore, em que as folhas relativas estão todas presas pelo mesmo tronco e pelas raízes absolutas. Senão, como cada folha explicaria a outra?

                            Então, as mensagens relativas são enviadas, desencontram-se no tempo relativo (pois nele não há simultaneidade), mas ficam amarradas no fundo pelo tempo absoluto.

                            Desse jeito pode reinar harmonia entre as criaturas humanas, se nós buscarmos mais fundo ainda uma explicação geral que considere ambos os pólos, e promova a valorização de ambos. Creio firmemente que há espaçotempo para gregos e troianos, árabes e judeus, paquistaneses e indianos, etc. É muito mais fácil adotar uma posição, firmar-se a ela e afastar os motivos para gostar do oposto/complementar. Não acredito que a vida possa fazer-se sem a variedade, sem a diversidade, sem a multiplicidade que dá esse bonito colorido a tudo.

                            Vitória, terça-feira, 15 de janeiro de 2002.

O Senhor dos Anéis


 

                            O filme tem tudo para ser um dos maiores de todos os tempos, senão o maior, se depender só de J. R. R. Tolkien, o autor. Fora terem as três partes custado mais de US$ 200 milhões, ter sido rodado em paisagens maravilhosas da Nova Zelândia, ao sudeste da Austrália, com um ministro especialmente designado para isso acompanhando a criação simultânea dos filmes, correspondendo aos três livros originais, há indicações que apontam para tal.

                            No Brasil há a particularidade de a Artenova ter lançado no Rio de Janeiro de 1975 (apenas 10 anos depois da edição inglesa de 1965), em SEIS VOLUMES  --  Livro Primeiro,  A Terra Mágica; Livro Segundo, O Povo do Anel; Livro Terceiro, As Duas Torres; Livro Quarto, A Volta do Anel; Livro Quinto, O Cerco de Gondor; e o Livro Sexto (por enquanto o meu está perdido), que deve ser O Retorno do Rei --, dois para cada um dos ingleses, porque na época nós brasileiros éramos muito mais pobres e as editoras subdividiam os textos. E passavam-se anos entre uma e outra edição, de modo que era uma agonia.

                            Além disso, na edição da Artenova os nomes eram redondinhos, abrasileirados, como Merinho em lugar de Merrin, e Pipinho, em substituição a Pippin, ou o que seja. Já li a edição mais antiga quatro vezes, mas estou iniciando (com certo desgosto) a leitura da nova agora. Mas essa é outra discussão, que retomarei noutra ocasião.

                            Aqui quero visualizar o livro e o filme, que ainda não vi, mas do qual vi trilhas.

                            Bom, o livro começa com uma prosaica e muito trivial festinha dos hobbits, embora na realidade seja um festão. Nada nela prenuncia as extraordinárias aventuras posteriores, que envolvem castelos, capa e espada, magia, tudo que as pessoas gostam. Amor, lealdade, companheirismo, fidelidade, idem. E coisas que todos detestam: traição, malignidade, má-fé.

                            Há um rei que retorna para reclamar o que é seu, e há sua bela consorte. Há os elfos, que vivem milhares de anos. Há águias gigantes. Há os misteriosos enidas (na nova tradução, ents). Há As Aventuras de Tom Bombadil, que merece um livro só seu, pois estava presente na Criação do Mundo. Depois vem O Silmarilion, quando os anéis foram criados. A seguir O Hobbit, que trata de Bilbo, isoladamente, quando ele foi com os anões retomar os tesouros a Smaug, o Dragão. E, por fim, esse livro maravilhoso que é O Senhor dos Anéis, que se divide em três partes – volume 1, A Sociedade do Anel; volume 2, As Duas Torres; volume 3, O Retorno do Rei --, contém um espelho também, que reflete em mal tudo que do outro lado é bom.

                            Como lingüista Tolkien inventou línguas para cada povo, mapas detalhados, genealogias extensíssimas, personagens verossímeis (por exemplo, Aragorn, que virá a ser rei, oculta-se sob um manto e é conhecido na edição antiga como Caminheiro, o-que-caminha, e na edição nova como Passolargo; como eu disse, prefiro muito mais a tradução antiga).

                            E faz de Frodo, um pequenino, o herói de toda a Saga. Não é, como nos filmes americanos, o cara fortão, parrudo, capaz de tudo, aquele armário 2 x 2. É um hobbit, de qual raça o espécime mais alto pôde um dia montar um cavalo. A essa criaturinha frágil está entregue a tarefa de enfrentar Sauron, o Senhor Negro, que possui os Nazgul e seus cavaleiros-espectros.

                            As pessoas da Companhia se juntam, se separam, desesperam-se, oferecem-se com desprendimento pelos outros. E, é claro, no fim tudo é restaurado.

                            Então, não admira nada que já se tenha, segundo as notícias, vendido 160 milhões de exemplares. Com o passar das décadas vai passar de um bilhão. Com relação aos três filmes, eu creio, em conjunto vão arrecadar bem mais de cinco bilhões de dólares americanos, sem falar em bonecos, propaganda, etc. Sem dúvida é o fenômeno do início do século. E é um auspício, neste mundo atribulado.

                            Vitória, quinta-feira, 20 de dezembro de 2001.

O Mundo Assombrado pelos Cientistas

 

                            No livro de Carl Sagan, O Mundo Assombrado pelos Demônios (A Ciência Vista como uma Vela no Escuro), São Paulo, Cia. Das Letras, 1996, o capítulo 7 tem esse título, p. 121 e ss., e ele opõe a Ciência, tomada como Conhecimento (como se não houvesse outros), a todas as outras formas dele, que levariam ao obscurecimento da razão.

                            É claro, a Ciência, que Sagan amava, é a heroína.

                            Também amo a Ciência, o conjunto de ciências, mas não perco de vista o seu lado negativo.

                            Para começar, dizem que 50 % dos cientistas trabalham para a chamada “indústria da morte”, o complexo industrial-militar, que trabalha constantemente para aprimorar e tornar mais variados e eficazes os modos de matar seres humanos e desfigurar as paisagens. Coloquei “dizem”, porque é tudo secreto, mas quem estuda esse lado fala em tal percentual.

                            Depois, os cientistas realmente fizeram coisas notáveis, memoráveis, fantásticas, francamente libertárias, e aplaudo até o furor esse lado.

                            Contudo, sendo as coisas de soma zero, decorre de cada conquista uma série extraordinária de problemas, que às vezes agudizam em lugar de melhorar a situação geral da humanidade. Pode-se dizer que não é culpa deles, mas a verdade é que lhes falta visão de conjunto, de totalidade da matriz vital e racional da Terra, e, portanto, eles propõem soluções de momento, que servem naquele pontinstante ali, sem maiores considerações sobre a letalidade subseqüente das soluções em outros pontos.

                            Tal como com os técnicos, de que são os mentores, especialmente os engenheiros, a solução é local, aplicada naquele tempo preciso.

                            Isso vem, com veemente certeza, da unilateralidade da análise, sem investigação dita holística, do todo, e das implicações gerais da introdução de um vetor-solução sobre as demais partes da matriz. Só muito tardiamente foram perceber, na ecologia, que os antigos agricultores, em suas práticas milenares, não eram exatamente bobos, pelo contrário. Agora recomendam os agrônomos e biólogos como novidade, que eles teriam descoberto, o que aqueles agricultores e pecuaristas faziam, justamente àquilo que eles negavam sustentação científica e técnica.

                            Pois bem, se o mundo está sendo assombrado pelos demônios, igualmente está sendo assombrado pelos cientistas e técnicos. Nos dois sentidos: 1) o positivo, das coisas espantosas que têm feito, e 2) dos espíritos perversos da Ciência ditatorial, que impõem as soluções, como se todos os seres humanos fossem tolos que devessem render graças pela benignidade dos pesquisadores.

                            Resultou de tal orgulho desmedido que o mundo vem sofrendo conseqüências devastadoras em virtude dessa prepotência e unilateralidade, dessa superioridade aborrecidíssima, cujo custo total em consertos e reparações não sabemos avaliar, mas que seguramente será rateada pela coletividade mundial, Brasil e Espírito Santo no meio.

                            Ficamos com essa constatação: de que os demônios por vezes se apresentam com o que parecem ser ótimas soluções científicas. E com a certeza inequívoca de que devemos tomar mais cuidado no futuro, e avaliar melhor as propostas de aplicação de recursos públicos e privados nas ciências.

                            Vitória, sexta-feira, 19 de abril de 2002.

O Horizonte de 2040


 

                            Segundo os cálculos dos pesquisadores as reservas de petróleo devem durar, ao consumo atual e projetado, até 2040, na falta de novas descobertas.

                            O Ocidente pode se ver em sérios apuros, se não desenvolver novas frentes tecnocientíficas de aproveitamento da energia que o Sol remete à Terra todo dia, e da qual aproveitamos menos de 1/10.000.

                            Norbert Wiener, em seu livro (escrito nos EUA em junho de 1954, veja só a capacidade de antecipação dele) Inventar (sobre la gestación y el cultivo de las ideas), Barcelona, Tusquets, 1995, série Metatemas, que Pedro Augusto César Oliveira de Sá me deu de sua estadia lá, diz na página 28, em minha pobre tradução: “O desenvolvimento técnico, sempre em ampliação, acelerado pela sucessão de duas grandes guerras e um prolongado período de tensão militar, fez com que a questão da escassez de recursos seja objeto de razoável preocupação no presente, uma questão bastante importante para dedicar-se-lhe uma parte considerável de nosso potencial planificador aqui e agora", p. 28, negrito meu.

                            Mas o Ocidente, junto ou não com o Oriente, pode dedicar-se à ampliação da frente de ondas tecnocientífica de aproveitamento dos recursos, energéticos ou materiais. Ao contrário do que se pensa, quase toda energia provém do Sol, inclusive biomassas, ventos/eólica, marés, ondas, petróleo, gás, hidroeletricidade (que depende da evaporação e da evapotranspiração da água), xisto betuminoso, diferenciais de temperatura, etc., menos a radiativa, que provém do interior da Terra, e já estava nela na Nébula ou Nuvem de Formação dos primórdios cosmogônicos do sistema solar. E veja-se que com os novos reatores regeneradores rápidos a situação não é a mesma de 1976, quando eu mesmo (junto com Ronaldo Lyrio Borgo) briguei contra; agora, com as mudanças recentes, eu lutaria a favor.

                            Bem, com bastante aplicação dá para substituir. E até promove um grande e revolucionário crescimento socioeconômico.

                            A questão não é essa.

                            A questão, gravíssima, é que os árabes, 1,3 bilhão de pessoas agora, e, digamos a 3,0 % de crescimento ao ano, estarão com quatro bilhões de pessoas em 2040, QUANDO CESSARÃO DE JORRAR OS POÇOS e consequentemente os petrodólares. Ou, estando tão perto do esgotamento, o Ocidente (e com certeza o Oriente também) terá substituído o petróleo e o gás por outras fontes.

                            Então, pense, quer seja esse 1,3 bilhão de agora, quer sejam aqueles 4,0 bilhões da estimativa, em 2040, SEM QUALQUER FONTE DE RENDAS, a não ser que voltem aos camelos e às caravanas os poucos que sobrevivam (fora as elites que tiverem conseguido vistos para migrar para qualquer lugar decente), para o resto será um “Deus (ou Alá) nos acuda”. O que as elites árabes estão fazendo para evitar a calamidade? Não ouço falar de nada.

                            A situação é tremendamente preocupante PORQUE em 40 anos grande parte das crianças de hoje estará viva, inclusive nossos filhos.

                            E as elites árabes, sob a ótica de que precisam ultrapassar o Ocidente em número, estimularam muito o crescimento demográfico, a taxas de até 4,5 % ao ano, enquanto acumularam dinheiro do lado delas, deixando os pobres à mingua, sem correspondentemente desenvolver a frente tecnocientífica que poderia dar uma resposta árabe para os problemas e questões árabes ou muçulmanas, ou islâmicas, ou muslímicas, como for. Vendendo o petróleo ao Ocidente e ao Japão eles obtém dinheiro ocidental/japonês, com isso comprando produtos ocidentais/japoneses/chineses, ou dos tigres e dragões, ou sul-americanos, ou de onde for. Nada ou quase nada de relevante produzem. Quando a fonte secar, com que dinheiro pagarão os produtos?
                            Vitória, quinta-feira, 20 de dezembro de 2001.

O Gênio de George Lucas

 

                            Como se sabe, George Lucas é o pai de toda essa série de Guerra nas Estrelas, que originalmente começou com o Episódio IV, Guerra nas Estrelas, de 1977 (quatro estrelas no Guia de Vídeo da Nova Cultural), o episódio V, O Império Contra-Ataca, de 1980 (quatro estrelas) e o episódio VI, O Retorno de Jedi, de 1983 (três estrelas).

                            Então, em 2001, ele lançou o episódio I, A Ameaça Fantasma, não sem antes relançar toda a coleção prévia, “remasterizada com som digital” e com novas cenas modeladas em computador, quer dizer, efeitos especiais de última geração. Depois de intensa propaganda, veio o filme, absolutamente espantoso em termos de qualidade, inaugurando uma nova era, tal como o episódio IV tinha dado início a uma série de projetos paralelos.

                            Do IV ao V foram três anos, do V ao VI três anos, mas do IV ao I foram 14 anos. E desde o VI oito anos. De forma que foi tudo muito bem planejado, e ele vem faturando centenas de milhões de dólares em bilheterias de cinemas de todo o mundo, nos videocassetes, agora nos DVD’s e nas Tevês, que passam os filmes repetidamente. Sem falar nos bonecos, na propaganda, nos livros, etc.

                            Deixou cozinhar bem o mito na cabeça dos pais e relançou para os pais e os filhos.

                            Agora, em 2002, julho no Brasil, vem o episódio II, A Guerra dos Clones, com um assunto bem atual, que mete medo na maioria das pessoas, a clonização, a substituição do “trabalho de Deus”, a Criação, e os perigos relativos a ela.

                            Depois, em 2003, deverá vir o episódio III, que completará os seis. Estaria terminado? Só se ele quiser assim, o que será uma pena, e um sinal de burrice, que não devemos esperar dele. Pois pode perfeitamente continuar com o episódio O, Prelúdio, digamos, mostrando os começos da República, e antes ainda Os Primeiros Tempos, com o encontro das raças que a constituem. E assim sucessivamente.

                            Ou pode realizar o episódio VII, mostrando o que aconteceu depois – todos estamos curiosíssimos. Teria a vida racional da Terra vindo dos restos de um Império Decaído? Ou a Terra deu origem aos humanos da série, estando nas origens? Que caminho ele escolherá? E os episódios VIII, IX, X, etc.

                            Caso queira, ele ou seus herdeiros (mas ele deve ter uns 20 ou 30 anos de vida, pelo menos), podem ocupar o horizonte de duas gerações de 30 anos, 60 anos, de 1977 a 2037, com supercomputadores cada vez melhores. Primeira geração, de 1977 a 2007, daí um interlúdio, depois refilmagem dentro de 20 anos, de 2027 para frente, com os novos recursos. Ficarão bilionários, com toda certeza.

                            E tudo começou com uma “brincadeira”, um filme que parecia não ter maiores pretensões, mas transformou-se numa mina de ouro, num veio inextinguível, pelo gênio dessa única pessoa.

                            E depois há os que perguntam pelo papel dos gênios na história. É esse, o de criar todo um novo modo de pensar e de fazer, de agir, de conduzir gerações por um novo caminho, onde quer que trabalhem.

                            Vitória, quinta-feira, 18 de abril de 2002.

O Desastre Maxista

 

                            Não é marxista, não, é maxista mesmo, de MAX Mauro, o ex-governador, e é um relato sobre como o orgulho pode afetar o futuro de todo um estado, iniciativas públicas e privadas, povo e elites.

                            Quando Camata entrou, no primeiro semestre seguinte, com a inflação acumulada em 100 %, ele deu reajuste de apenas 50 %, repetindo a dose no semestre seguinte, nas mesmas proporções, resultando que os salários foram em um ano reduzidos efetivamente a 25 % do que eram antes dele assumir o governo. Assim ele governou, com o sofrimento dos funcionários públicos.

                            Max fez pior. Implantou a chamada Lei da Trimestralidade, terrível veneno, que a cada três meses dava reajuste de 60 % da inflação precedente, perdendo-se 40 %, que poderíamos ou não recuperar em parte mediante negociação. Para se ter uma idéia, se a política tivesse sido imposta no primeiro dia de governo e terminasse no último, quatro anos significando 12 trimestres, e não tivessem sido dados senão os 60 % rasos, ao final do mandato nossos vencimentos teriam caído a 0,2 %, dois milésimos do que eram no início.

                            Tal política, é lógico, exigiu muita combatividade das associações (a nossa era a AFES, Associação do Fisco Espírito-Santense). Por vezes ficamos oito horas esperando na ante-sala do Gabinete do Palácio, com mais várias horas de discussão, para levar 10 ou 15 % e assim chegar a uma perda de “somente” 30 ou 25 % no trimestre.

                            Como era de esperar, em pouco tempo ele também passou a governar folgadamente com o sacrifício do funcionalismo. Apregoava estar gastando 80 a 90 % das receitas com o pagamento da Folha, mas quando fomos ver nos relatórios do Tribunal de Contas, não passava, ano após ano, de 40 % das receitas líquidas.

                            Em março e junho de 1990 a inflação esteve especialmente alta, e quando venceram os dois trimestres ele não deu nem os 60 % prometidos, deu zero mesmo, não deu absolutamente nada. Então, pela primeira vez, nossa associação, sob a gestão de Paulo Fernandes Rangel, e com a brilhante defesa de Miguel Depes Tallon, numa ação assinada pelo atual juiz federal José Carlos Rizk, então advogado da AFES, e sua assessora, Ana Bela Galvão, entramos na Justiça contra tal absurdo, que somava nos dois trimestres quase 162 %.

                            Com mais presteza Setembrino Pelissari tinha entrado um pouco antes, porque demoramos a nos posicionar. O resto todo mundo sabe: as ações foram ao Supremo, ganhamos, elas baixaram, foram calculadas no Tribunal de Justiça e viraram esses precatórios que, segundo a imprensa, montam dois bilhões de reais.

                            No entanto é muito mais que isso.

                            Observe que a receita estadual na ocasião era de 30 milhões de dólares, na parte do estado. Disso, como vimos, 40 % era o que custava a Folha, US$ 12 milhões. Os 162 % corresponderiam a perto de US$ 20 milhões/mês, vezes 13,33 (11 meses de trabalho + férias + 13º salário + 1/3 de férias) meses por ano, vezes 12 anos decorridos desde então = US$ 3,1 BILHÕES, ou seja, espantosos 6,8 BILHÕES DE REAIS, ao câmbio atual, portanto 3,5 vezes o que a imprensa divulga. Essa é a dívida real, fora que os salários todos devem ainda ser multiplicados por 2,62, para incorporar os 162 %, o que ainda não foi feito.

                            Daí se vê que o ES não pode continuar sendo um estado de segunda, situado em 7ª ou 8ª posição, conforme as avaliações. Deve saltar para perto do Rio de Janeiro ou de Minas Gerais, com 12 % da renda nacional, e não mais 2,5 %, como penso ser agora. Ou não vai ser possível pagar.

                            Sendo ou não possível pagar, obviamente toda a coletividade foi prejudicada, tanto a pública (porque os recursos poderiam ser alternativamente aplicados em obras necessárias ou fundamentais) quanto a privada (que vai ser arrochada pela coleta dos impostos).

                            Ora, se ele tivesse aceitado os reajustes nas datas estipuladas, os 40 % de gastos teriam ido provisoriamente a 105 % das receitas e logo depois, com a própria política da trimestralidade, teriam caído instantaneamente às bases anteriores. Em três trimestres mais estariam em menos de 40 % novamente, que somados a 105 %, daria uma média anual de 60 %.

                            Que terá movido esse homem, em tudo honesto, a comportar-se assim? Penso que foi o orgulho, não há outra explicação.

                            Num estado em que atual governador José Ignácio Ferreira transformou o par polar oposto/complementar sim-não num quadrupolo sim-sim, sim-não, não-sim e não-não (primeiro caso no mundo – o ES tem a duvidosa honra de ter dilatado as margens da lógica e da dialética), temos também a incrível infelicidade de sermos destroçados tanto pelos políticos e governantes desonestos quanto pelos honestos.

                            É ou não é uma fatalidade?

                            Mas, como disse Nietzsche, “o que me mata me fortalece”, ao que o povo reduziu a “o que não mata engorda”.

                            Resta saber se suportaremos o estrago.

                            Em todo caso a sociedade capixaba percebe agora que, DE MODO ALGUM, pode mais se ausentar do acompanhamento permanente, diário, exaustivo, das ações de governo e de política.

                            Vitória, sexta-feira, 12 de abril de 2002.