segunda-feira, 12 de dezembro de 2016


O Código da Bíblia

 

                            No livro de Michael Drosnin, que tem esse nome, 3ª. edição, São Paulo, Cultrix, 2001 o autor, que é jornalista americano, recorreu ao matemático israelense, Doutor Elyahu Rips, e aos artigos que ele escreveu para revistas científicas de divulgação, para descobrir, dentro do Antigo Testamento, mediante certos artifícios computacionais, descrições de vários acontecimentos passados, presentes e futuros.

                            Muitos matemáticos confirmaram a validade dos apontamentos do Doutor Rips, testando e re-testando a tese, sem descobrir nela qualquer erro, segundo o autor.

                            À parte se é verdadeiro ou não, há algumas curiosidades. O grande matemático e físico inglês Isaac Newton, por exemplo, a par de suas contribuições nessas áreas, buscou persistentemente enquanto místico a decifração de tal código, sem, aparentemente, nada conseguir. E saltando de 50 em 50 letras no Gênesis (em hebraico, naturalmente), a palavra Torah é constantemente repetida, diz o Drosnin. Questão de acreditar ou fazer o teste.

                            É indispensável comprar e ler o livro.

                            Mas aqui não quero falar DESSA decifração, e sim de outra, que proporei, por conta da chamada Grade Signalítica, que descobri no modelo que escrevi. Outra hora falo dela, agora vou só usá-la.

                            Diz o autor, p. 25: “A Bíblia não é apenas um livro – é também um programa de computador”, e que, para encontrar o dito código, Rips eliminou os espaços entre as palavras, obtendo uma linha contínua com 304.805 letras.

                            Mas há instruções bem específicas, dentro do chamado “texto aberto”, contra o outro, que é oculto ou fechado, e supostamente descoberto por Rips. Usando resumo que o autor coloca ao final do livro como Notas das Ilustrações, podemos obtê-las.

1)      p. 223: “Guarda estas palavras em segredo, e conserva selado este livro até o fim dos tempos”, Daniel 12:4. Usando a Grade podemos ler FIM DOS TEMPOS como FIM DAS DUPLAS (e outras leituras), que posso entender como o fim dos pares polares opostos/complementares. Então, se foi aberto ANTES do fim, não ter sido quebrado o selo;

2)     Em Isaías 41:23 diz-se: “Eles contaram o futuro às avessas”, o que o autor diz que pode ser lido como “revele as letras de trás para a frente”. Como o hebraico é lido da direita para a esquerda, de cima para baixo, do começo para o fim (parcialmente ao contrário do português, que é da esquerda para a direita, de cima para baixo, do começo para o fim), as instruções dizem para ler a única linha DA DIREITA PARA A ESQUERDA, DE BAIXO PARA CIMA, DO FIM PARA O COMEÇO. Está bem claro que primeiro é preciso fazer essa inversão, invertendo toda a linha, lendo da esquerda para a direita e do fim para o começo quando as palavras forem postas em páginas. Como as palavras vão estar invertidas, os israelenses vão ter de ler cuidadosamente cada palavra, ou passar no computador, para colocá-las na posição correta;

3)     Acontece que se diz que “a Bíblia foi escrita por Deus”, o que a Grade Signalítica pode traduzir como A BÍBLIA FOI ESCRITA POR DUPLAS, quer diz, uma coluna de duas palavras, ou uma dupla de duplas, um par de duplas, ou o que for.

Para resumir, inverter a linha de trezentas e tantas mil palavras, dividi-la em uma coluna de duas letras, ou duas, ou três, etc., e começar a leitura de baixo para cima na folha, da direita para a esquerda, e de trás para diante, quer dizer, da última para a primeira folha.

                            E SÓ AÍ BUSCAR QUALQUER CÓDIGO, pois primeiro é preciso romper o selo obedecendo à ORDEM DE LEITURA. Pode ser que a matemática/estatística de Rips esteja correta (acredito que sim), mas antes que se faça isso ela de nada adiantará.

                            Quanto aos textos de controle, por exemplo, Guerra e Paz, de Tolstoi, para eles revelarem as mensagens que estão por trás deles é preciso NÃO usar o hebraico, mas o alfabeto em que foi escrito originalmente o livro, o cirílico, achando nele sua própria Grade de Sinais. Ou, em cada caso, o alfabeto usado. Como isso não foi feito, não seria de esperar que se achasse mesmo nada de revelador.

                            Vitória, terça-feira, 09 de abril de 2002.

O Atraso Intelectual


 

                            Em 1905 (por sinal, agora em 2005 completar-se-ão 100 anos, e o mundo todo comemorará; o Brasil e o ES também deveriam e devem fazê-lo) Einstein publicou quatro ensaios, um dos quais sobre a Relatividade Restrita, onde reuniu o espaço e o tempo numa só entidade, o espaço-tempo. Assim, no plano da Física, eles estão juntos há muito tempo, quase 100 anos, a completarem-se agora em 2005.

                            Entrementes, naquilo que na UFES é denominado Humanas, Área III, Geografia e História seguem plenamente separadas.

                            No modelo que escrevi, naturalmente juntei-as em Geo-História, o espaçotempo psicológico dos conjuntos, como sejam indivíduos, famílias, grupos, empresas, cidades/municípios, estados, nações e mundos. O que se pergunta é o seguinte: vendo o horizonte de eventos como plano, como é que se passa de G1 a G2? É preciso que haja um vetor-explicação, denominado H1, e então intervém a capacidade explicativa dos pesquisadores. Como é que em determinada cidade não havia e passou a haver uma fábrica, por exemplo essa da Ford que era para ficar no ES e foi parar na Bahia?

                            Naturalmente que a Geo-História recua e avança da atualidade para a anterioridade e a posteridade.  Por exemplo, para trás, como antropologia, paleontologia, arqueologia (no modelo mudei ligeiramente a posição dela), geologia e cosmologia. E vai adiante como aquela, por enquanto abandonada, futurologia de Hermann Kahn.

                            A minha pergunta é tangencial: dado que na Física tal união (ou reunião, porque sempre existiu no plano da Natureza, apenas sendo re-conhecida pela humanidade graças a Einstein) completou-se há quase 100 anos, por quê tal não se deu na ciência da Psicologia, que abriga, como creio, a Geografia e a História? Por quê o espaço e o tempo não se reuniram na alma humana? Krishnamurti discutiu essa questão em Tempo Psicológico, mas isso iria encompridar demais o assunto.

                            Por quê o orgulho foi muito maior entre os das “Humanas” que entre os físicos, ou, inversamente, como é que os físicos puderam ser mais diretos? Os grupos de trabalho renderiam muito mais se procedessem a reunião psicológica. A Geografia deixaria de ser enfadonha e a história teria uma base terrestre sobre que se assentar, abandonando o plano exclusivo dos conceitos.

                            Se o espaço fosse considerado uma tela de televisor, as imagens sucessivas até agora corresponderiam ao cinema mudo da Geografia, pois não há narrador histórico que nos diga com as coisas surgem. Os espaços vão mudando, mas não temos notícia disso nos interstícios temporais. Eis aí a razão de a História também parecer divorciada dos interesses humanos – ela não se parece com nossas vidas, com o que vivenciamos.

                            E, em todo caso, ambas estão quase 100 anos atrasadas em relação àquela frutuosa reunião que Einstein promoveu na Física, e que tanto nos beneficiou depois.

                            Em virtude disso eu creio que os pesquisadores nas ciências reconhecidas como tais, da Área I, Ciências Exatas, estão mais adiantados que seus pares da Área III, ainda tomados como “meros intelectuais diletantes”. E que enquanto não for adotada essa fusão espaçotemporal psicológica, será muito difícil fazer progredir tanto a Geografia quanto a História.

                            Vitória, quarta-feira, 19 de dezembro de 2001

domingo, 11 de dezembro de 2016


Nossos Cérebros

 

                            Arthur Koestler, escritor judeu húngaro de língua inglesa (Budapeste, 1905 – Londres, 1983, 78 anos entre datas), conforme dados da Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss, Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan/Delta, 1993, dizia que temos três cérebros: o reptiliano, mais antigo de todos; o mamífero, de onde emergimos; o neocórtex, propriamente humano.

                            Olhando então o recentíssimo e maravilhoso Dicionário Visual Michaelis/Tech (Inglês – Português – Francês – Espanhol), São Paulo, Melhoramentos, 1997, podemos ver, p. 134 e ss., quantos cérebros temos.

                            Se você se lembra, num dos dois filmes O Predador, um dos predadores exibe orgulhosamente seu troféu, um cérebro humano com a coluna ainda presa nele. E isso é uma indicação. Não foi isso que me fez pensar, mas ajudou.

                            Começando, temos: 1) a medula espinal, que corre desde o cérebro pela espinha até o filamento terminal; 2) a glândula pituitária, 3) o cerebelo, 4) a glândula pineal, que tem forma de pinha (daí o nome), 5) o corpo caloso, que transmite as mensagens entre os dois hemisférios, lado esquerdo e direito do cérebro, 6 e 7) neocórtex, dividido em duas partes, que são então dois cérebros que convivem, base de tudo que é propriamente humano. De pouco tempo para cá, década dos 1960 do século passado, é que o neocórtex vem sendo estudado em maior profundidade, dada a precariedade instrumental do passado.

                            É um conjunto, inseparáveis as partes, que eu, como leigo, pude separar em sete porções. Os estudiosos, biólogos e médicos, poderão fazer muito mais e melhor.

                            Para além disso temos outros cérebros.

                            No modelo que escrevi coloquei uma pirâmide pessoambiental, para indicar o crescimento da consciência (e da inconsciência ou irresponsabilidade) humana. Do lado das pessoas: 1) indivíduo, 2) família, 3) grupo, 4) empresa. Do lado dos ambientes: 5) município/cidade, 6) estado, 7) nação e 8) mundo. Então, o cérebro individual cresce fora de nós não apenas pelo aparecimento de outros indivíduos, como principalmente pela ligação mnemônica entre eles, quer dizer, ligações de memórias (que são as velhas inteligências, resultados velhos dos processamentos), constituindo todo um patrimônio coletivo fora do indivíduo. Isso é mediatizado pela língua que é, assim, o OITAVO CÉREBRO, um cérebro interno-e-externo, posto logo no início, no aparecimento mesmo do homo sapiens sapiens. Existem outros, por exemplo, a escrita, a produção/economia, a sociologia/organização, etc.

                            Como podemos ver, a questão está longe de ser simples.

                            Ninguém sequer suporia que haveria uma pergunta a fazer, e, no entanto, podemos formulá-la agora aos pesquisadores: quantos cérebros tem o ser humano? Quantos processadores autônomos de informação? Quantos geradores de auto-programas?  Eles eram originalmente independentes ou não? Qual é a sua geo-história? Como eles surgiram e evoluíram? Que utilidades tinham, na evolução, e que utilidades tem em nós, enquanto programas convergentes?

                            Há um punhado de perguntas novas a fazer, muito emocionantes. Há novos caminhos de pesquisa & desenvolvimento.

                            O que o amplo olhar sobre a tentativa humana de saber nos ensinou é que sempre podemos recategorizar as nossas perguntas, em busca de respostas novas, porque não é só pelas respostas que nós avançamos – é principalmente PELAS PERGUNTAS.

                            Vitória, domingo, 13 de janeiro de 2002.

Norte e Sul

 

                            No modelo que durante nove anos escrevi surgiram coisas estranhas, por exemplo, os pares de opostos/complementares. Um deles é norte e sul. Você pode encontrá-los nos antônimos, mas listas de dipolos não são dicionários de antônimos, porque os pólos, tese e antítese, e o terceiro que é sua solução sintética, são motores autônomos, e não meros reflexos uns dos outros.

                            Deve-se entender, desde logo, que os pares não são mais que divergências provisórias, enquanto estamos tentando compreender o mundo, momento em que convergem na solução.

                            Só como ilustração, estudemos esse dipolo em particular.

                            Ora, acima de todo norte há um outro norte. Linhares fica ao norte de Vitória, mas São Mateus fica ao norte de Linhares, que fica ao sul de São Mateus. Então há um norte que é AO MESMO TEMPO norte e sul. Isso vai se repetir indefinidamente, para todos os pontos do planeta, menos dois, o inverso se dando ao sul.

                            Pois Cachoeiro fica ao sul de Vitória, mas Mimoso do Sul fica ao sul de Cachoeiro, que fica ao norte de Mimoso. Então há um sul que é SIMULTANEAMENTE sul e norte. No hemisfério norte como no hemisfério sul essas “confusões” vão se repetir. Todo norte é concomitantemente sul, e vice versa.

                            Entrementes, como eu disse, há dois pontos em que isso não acontece. São o Pólo Norte e o Pólo Sul. Não há norte acima do PN nem sul abaixo do PS. Contudo, ali se passam outras esquisitices. Veja que há os paralelos, as circunferências cada vez menores ou maiores, conforme vejamos, perpendiculares ao eixo da Terra, e os meridianos, as linhas imaginárias que vão de um Pólo ao outro.

                            Como herdamos dos sumerianos a notação de base 60, medimos os ângulos desse modo como 360º (graus), cada um com 60’ (minutos) e 60” (segundos), daí 360 x 60 x 60 = 1.296.000” de arco. Podemos dizer que, segundo esse modo de medir, o Pólo Norte está cercado de 1,3 milhão de direções do sul, que do outro lado se fundem num sul único. Na verdade são infinitos, e inversamente no Pólo Sul.

                            Então, de um único norte nascem infinitos sul, e vice versa.

                            Paradoxos aparecem quando definições erradas são dadas, de modo que poderíamos minorar as dificuldades dizendo que NORTE é um sentido, e não um lugar. Diríamos que Linhares FICA AO NORTE, quer dizer, no sentido do norte, e não NO NORTE, pois se trataria de um espaço, o que não pode ser.

                            Mas, veja, deve ser sentido, e não direção, porque de outro modo do único Pólo Norte emergiriam infinitas direções sul, e isso não pode estar certo. Pois se você estivesse num meridiano e eu em outro, qual seria a direção sul correta? A sua, ou a minha, ou a de qualquer outro?

                            Acontece que sentido é um vetor, uma flecha que começa e termina. Não existe vetor curvo. Além do quê a Terra está inclinada 23,5º em relação à eclíptica, o plano em que gira em torno do Sol. Esse vetor que indicasse o Norte verdadeiro não serviria para outros planetas, além de tangenciar continuamente a Terra.

                            Mais ainda, o Pólo Norte da Terra não pode ser o Norte verdadeiro, porque se tornaria absoluto, e o nosso planeta o centro do universo, sem falar nas relatividades culturais de uns chamarem o norte de sul e vice-versa.

                            A coisa melhoraria se usássemos aqueles círculos de que falei, os paralelos, que seriam então simultaneamente norte-e-sul, nortessul. Um novo modo de ver a que deveríamos nos acostumar. Você não precisaria pregar uma bandeirinha e dizer: aqui é norte, e convencer os outros disso. Todo lugar seria nortessul, e quando disséssemos norte, saberíamos que estaríamos usando a propriedade norte de nortessul, uma metade do todo. Pode parecer uma mudança pequena, mas tem enorme significado para a união das criaturas. E vimos que, para a Terra, há norte e sul relativos e há Norte e Sul absolutos, que por sua vez não servem fora da Terra.

                            Então nós vemos que uma coisa de que estávamos completamente seguros foge-nos às mãos, e pode render muitas discussões e debates acirrados. Foi isso que o modelo fez: mostrou-nos que os extremos polares são temporários, e devem ser usados com brandura por ambos os lados, porque é na fusão que encontraremos a solução.

                            E assim é para todos os pares de opostos complementares, por exemplo, homem e mulher, que na realidade constituem um ser único, o homulher, par fundamental da Criação, em seu próprio nível. Mas isso é outra história.
                            Vitória, sexta-feira, 11 de janeiro de 2002.

NETES

 

                            NET do ES, NETES.

                            Ou seja, uma Internet voltada para o Espírito Santo.

                            Conduzida em parceria pelos governos e pelas empresas.

                            Voltada para os conjuntos (PESSOAIS: indivíduos, famílias, grupos e empresas; AMBIENTAIS: municípios/cidades, estado, e ligações com a nação e o mundo) de dentro e de fora.

                            Quer dizer, produção de artigos, onde quer que eles ocorram, e um supercomputador solicitado aos EUA para organizar tudo numa única máquina (com vários níveis de cópia e proteção dos arquivos).

                            O modelo pode fornecer chaves de organização.

                            A Bandeira Elementar: ar, água, terra/solo e fogo/energia, mais a Vida geral no centro, e no centro do centro a Vida-racional do ES.

                            A Chave do Conhecimento: ALTO (Magia, Teologia, Filosofia e Ciência) e BAIXO (Arte, Religião, Ideologia e Técnica), e Matemática.

                            A Pontescada Tecnocientífica: ALTA (Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6)  e BAIXA (Engenharia/X1, Medicina/X2, Psiquiatria/X3, Cibernética/X4, Astronomia/X5 e Discursiva/X6).

                            A Psicologia do ES: espaçotempo geo-histórico, figuras, objetivos, produção ou economia, organização ou sociologia.

                            A políticadministração governempresarial, a economia (agropecuária/extrativismo, indústrias, comércio, serviços e bancos), os tipos de indivíduos (do povo, lideranças, profissionais, pesquisadores, estadistas, santos e sábios, iluminado – neste caso não há nenhum em evidência, eles são raros à beça), ligação do ES com os estados brasileiros e com as nações do mundo. A Chave do TER (matéria, energia e informação do ES) e a Chave do SER (memória, inteligência e comunicação/controle no ES). Os níveis de complexidade: muito simples, simples, médio, complexo e muito complexo. Os mundos no ES: primeiro mundo, segundo, terceiro e quarto.  A mídia no ES: TV, revistas, jornais, rádios, editoras e Internet. As condições da telefonia, da eletricidade, do turismo, dos portos -- um milhão de informações que é preciso administrar centralizadamente, por meio de uma política de ampla divulgação.

                            Vitória, quarta-feira, 17 de abril de 2002.

Maurício e Disney

 

                            Entre Maurício de Sousa e Walter (Walt) Disney prefiro o primeiro. Comecei a ler as revistas Disney (já não era mais ele que desenhava, como também não é o Maurício que desenha) lá por 1959, quando tinha cinco anos, e freqüentava a pré-alfabetização em Cachoeiro. Fizeram uma aposta comigo, de que eu não conseguiria; levei muito tempo, mas ganhei um refresco.

                            Desde então não parei mais. Li Disney por décadas, até que enjoei. Os esquemas de fundo são americanos, é claro. Tio Patinhas é um sovina traiçoeiro que só pensa em dinheiro o tempo inteiro. Pato Donald é um fracassado iludido, o Tio dos meninos Huguinho, Zezinho e Luisinho, sempre os meninos espertíssimos. A Margarida é a eterna namorada dele. As trapalhadas são repetitivas, mesmo com a modernização. O Pateta, nome escolhido no Brasil, denota aquele idiota de que todos zombam. O Mickey é o rato sabe-tudo, com a namoradinha Minnie. Fora a Maga Patalógica (nome delicioso, sempre brasileiro) e outras personagens. O que se vê mais são traições, conchavos, conspirações, todo tipo de perversidade. A bondade é um gesto raro, até raríssimo, e a compaixão está completamente ausente, segundo a ética protestante do trabalho forçado. Enfim, todos os valores negativos estão presentes.

                            Por comparação, Maurício e seu grupo de criadores nos proporcionaram criações muito mais felizes.

                            Embora seja ruim ver a sujeira permanente do Cascão, a esquizofrenia do Cebolinha (até cheguei a pensar que só ele via o Louco), o autoritarismo da Mônica, Dona da Rua, a gulodice irrefreável da Magali, os planos sempre falíveis do Cebolinha de substituir a ditadura da Mônica pela sua. Sem falar do Piteco, que foge do casamento a todo custo, e da Tugha, que o persegue, colocando as mulheres em posição desfavorável. Os animais que aparecem na floresta são caricatos.

                            A única personagem realmente sadia é a do Chico Bento, que vive na Roça indeterminada.

                            Mas em Papa-Capim os índios são vistos favoravelmente, a ecologia é freqüentemente retratada e defendida, os pais e as mães são amorosos, o amor é valorizado, os jogos infantis de antigamente são trazidos à baila (pipa, pião, bola-de-gude, pegas de esconder), a amizade é uma constante, os valores humanos são positivos são insistentemente sobrelevados.

                            Nem por isso a sociedade brasileira é melhor.

                            Mas é o espírito da coisa. O negativismo de Disney e seu grupo versus a abordagem francamente favorável de Maurício e sua turma.

                            Os seres humanos não são retratados unicamente como grotescos, via modelação de animais, como em Disney.

                            É óbvio que todos sabemos da banda podre. Ninguém quer esconder isso. Por exemplo, o Espírito Santo em volta do ano 2000 é uma coisa tristíssima, com 14 assassinatos em dez horas, horripilante marca.

                            Não obstante, há uma distinção notável entre os dois espíritos, sendo o do brasileiro Maurício MUITO MAIS digno que o do americano Disney. E, pelo menos neste particular, o que é bom para os americanos não é bom para os brasileiros, e creio que nem para o resto do mundo.

                            Seria legal os acadêmicos e os cientistas abordarem com suas ferramentas os dois grupos, comparando-os em todos os itens onde houver paralelismo.
                            Vitória, sexta-feira, 19 de abril de 2002.

Matemáticas Pura e Aplicada

 

                            A matemática “pura” seria aquela que não tem aplicação, senão a mera busca pelo prazer do descobrimento, enquanto a “aplicada” seria o contrário, aquela que serve às técnicas e ciências, ou outras áreas do conhecimento.

                            Mas a matemática pura fatalmente se torna aplicada um dia, e toda matemática aplicada de hoje não tinha uso antigamente, de modo que a distinção é inócua, e porisso mesmo irritante, ferindo o Princípio de Ocam da não-criação de categorias desnecessárias de definição.

                            Os matemáticos “puros”, estando na linha de frente da criação, zombam de seus parceiros “aplicados”, porque estes estariam lidando com a plebe rude e selvagem, com os ignorantes. Estes outros acham aqueles tremendos esnobes, uma falsa elite cheia de faniquitos e ares de superioridade. É a mesma rixa que existe entre cientistas e técnicos, ou entre os pesquisadores teóricos e os laboratoristas.

                            Não existe matemática “impura”, da qual a “pura” fosse o oposto, nem “inaplicada”, da qual a “aplicada” fosse o contrário. Porisso os nomes não fazem sentido.

                            Mas nós podemos falar em frente de onda da criação, e em operadores da criação, aqueles que estão procurando aplicações práticas para a teoria recém-descoberta. Ou em teóricos e práticos. Mas, como esses nomes já são usados em outras seções do conhecimento, é melhor definir precisamente essas duas categorias novas, para diferenciar sem malícia e conotações de valor dois grupos que trabalham em distintos pontos da mesma flecha, uns à frente e outros atrás, mas todos buscando o mesmo alvo.

                            Daí teríamos os CRIADORES e os OPERADORES.

                            Os matemáticos criadores têm várias alturas, desde os grandes até os pequenos, desde os definidores de áreas totalmente novas, até os que vão atrás detalhando os quadrinhos do grande cenário.

                            Os criadores grandes são reconhecidamente poucos, não passam de 100 em toda a história humana escrita. Os pequenos são milhares, criando por ano 100 mil teoremas, cuja compreensão holística ou generalizante depende justamente dos maiorais.

                            Os matemáticos operadores também se dividem em grandes e pequenos, e trabalham em várias seções do Conhecimento geral, naquilo que chamei de partidos do conhecimento, especialmente na Ciência e na Técnica. E entre grandes e pequenos medeia uma quantidade enorme de outros.

                            Pois bem, agora temos conceitos úteis.

                            Os criadores estão na ponta da flecha, avançando para o desconhecido, arrancando as matemáticas da Matemática, transformando o potencial no real, que servirá à espécie humana. Os operadores também cumprem uma tarefa importantíssima, pois vão na outra ponta transferindo o conhecimento recém-adquirido às pessoas que não tem identidade com a matéria. Eles estudam o que foi criado e tornam-no inteligível às massas. Embora o outro trabalho seja fundamental, pois sem descoberta não pode haver aplicação, a dedicação desses operadores é de extrema importância, pois sem eles o mundo não se matematizaria, ficaria sempre trabalhando em níveis baixíssimos de compreensão e eficácia.

                            Com esses novos conceitos nós já ficamos sabendo do que estamos falando, ou seja, alguém criar, lá na frente, e alguém operar a transferência aos não-matemáticos. A coisa deixa o misticismo do “puro” e do “aplicado” para cair em categorias sem quaisquer conotações de valor, que levam sempre a julgamentos desfavoráveis e rastros de ódio.

                            Vitória, quarta-feira, 10 de abril de 2002.