De
Passagem
Ele gritou de longe mesmo, quando o viu.
- Fredo, Fredo seu filho da puta.
Era o Zigofredo. O outro olhou, os
olhos brilharam quando o reconheceu.
- Jorge, seu corno, sua mãe era puta e
seu pai dava a bunda.
Eram ótimos amigos. Só excelentes
amigos se permitem essas liberdades. O pessoal ria ao redor, embora fossem
palavrões num aeroporto. Até os guardas riram.
Deram um abraço empolgado, de urso, de
esmagar as costelas.
- Cara, quanto tempo!
- 10, 12 anos, sei lá.
- Onde você tá, fulano?
- Tô morando em Altamira.
- Passei por lá em dezembro.
- E não foi me visitar, por quê?
- Estava de passagem, promoção por
1/3, só tinha naquele dia.
- Você tá vindo de onde, Zig?
- Nairóbi. E, pra lá, de Lagos, perdi
duas malas, mas elas chegam. E você?
- De Vitória, 1/10.
- 1/10??? Cara, isso é que é promoção.
Já fui a Cachoeiro, a terra do Rei, três vezes.
- E eu, duas. E a mulher?
- Patos de Minas, promoção de última
hora.
- A minha foi pra Tegucigalpa, de lá
para a capital do Alaska...
- A gente fica um pouco longe, né?
- É sim. E as meninas?
- Santa Rita do Sapucaí.
- Puxa, passaram na faculdade de lá?
- Não, promoção. O irmão está em Foz
do Iguaçu.
- Doideira, isso das promoções, mas é
bom demais. Eu tava em Vitória, vindo de Los Angeles, quando anunciaram às
cinco da manhã essa viagem a Maceió: não pensei duas vezes, tcham, tô aqui, que
surpresa, Zig! Só temos mais duas horas para colocar em dia, vou pra Boca do
Acre, passando por Cuiabá.
- Falando em Cuiabá, já ouviu aquela
dos dois caras que trabalhavam no aeroporto?
Serra, segunda-feira, 25 de junho de
2012.
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