sexta-feira, 2 de novembro de 2018


De Passagem


 

 Ele gritou de longe mesmo, quando o viu.

- Fredo, Fredo seu filho da puta.

Era o Zigofredo. O outro olhou, os olhos brilharam quando o reconheceu.

- Jorge, seu corno, sua mãe era puta e seu pai dava a bunda.

Eram ótimos amigos. Só excelentes amigos se permitem essas liberdades. O pessoal ria ao redor, embora fossem palavrões num aeroporto. Até os guardas riram.

Deram um abraço empolgado, de urso, de esmagar as costelas.

- Cara, quanto tempo!

- 10, 12 anos, sei lá.

- Onde você tá, fulano?

- Tô morando em Altamira.

- Passei por lá em dezembro.

- E não foi me visitar, por quê?

- Estava de passagem, promoção por 1/3, só tinha naquele dia.

- Você tá vindo de onde, Zig?

- Nairóbi. E, pra lá, de Lagos, perdi duas malas, mas elas chegam. E você?

- De Vitória, 1/10.

- 1/10??? Cara, isso é que é promoção. Já fui a Cachoeiro, a terra do Rei, três vezes.

- E eu, duas. E a mulher?

- Patos de Minas, promoção de última hora.

- A minha foi pra Tegucigalpa, de lá para a capital do Alaska...

- A gente fica um pouco longe, né?

- É sim. E as meninas?

- Santa Rita do Sapucaí.

- Puxa, passaram na faculdade de lá?

- Não, promoção. O irmão está em Foz do Iguaçu.

- Doideira, isso das promoções, mas é bom demais. Eu tava em Vitória, vindo de Los Angeles, quando anunciaram às cinco da manhã essa viagem a Maceió: não pensei duas vezes, tcham, tô aqui, que surpresa, Zig! Só temos mais duas horas para colocar em dia, vou pra Boca do Acre, passando por Cuiabá.

- Falando em Cuiabá, já ouviu aquela dos dois caras que trabalhavam no aeroporto?

Serra, segunda-feira, 25 de junho de 2012.

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