quarta-feira, 2 de agosto de 2017


A Resistência e o Manual do Gênio

 

                            O gênio comporta uma grande desvantagem externa: ele é rebelde e nunca satisfaz as ambições dos não-gênios, porque sistematicamente se recusa a fazer o que lhe pedem e seguir o caminho pelo qual é mandado. O gênio comporta uma desvantagem interna ainda maior: ele sofre com a falta de genialidade do ambiente, de tudo que lhe é externo.

                            Gênios não vem com manual, não é fácil lidar com eles.

                            Gênios são esquivos, incompreendidos, revoltados com tudo que a falta de genialidade faz ao mundo.

                            Gênios resistem, basicamente,

                            Pois é fácil pensar: se é genial, é novidade, e se é novidade se opõe ao velho, que é esposado por quase todos ou a maior parte – assim, por definição, os gênios recebem em cheio a oposição de quase todos e quase cada um. A grande felicidade é estar numa ciência tão alta (como Einstein, judeu-alemão naturalizado americano) que quase ninguém o compreende nem pode repreender. Ou numa arte suposta tão baixa (como Fernando Pessoa, português) que todos pensam compreender e assim ninguém se opõe.

                            Todos falam do gênio depois de sua vitória, depois que ele se consagrou ou foi consagrado. Não falam da época em que ele estava sendo crucificado (quer gênio maior que Jesus?), apedrejado, fritado nas grelhas (como os santos, cuja genialidade se faz através das religiões), flechado, jogado aos leões, excluído da coletividade pelo ostracismo, torturado e de mil modos repudiado. Vários se mataram, muitos enlouqueceram (como Nietzsche), outros se retiraram para mosteiros ou atividades incompreendidas até décadas ou séculos depois.

                            Se vier com manual não é gênio, é qualquer um se esforçando ao máximo para deixar pistas que levem à sua suposta e inexistente genialidade fabricada. Se vier com manual é propaganda, por vezes da mídia encomendada. Porque gênio DÁ TRABALHO, é aborrecido, é enjoado, é um pé no saco, é uma mala para carregar, e todos dão graças a Deus quando ele morre. Depois disso, aliviados, todos batem palma, com um conforto difícil de descrever. Porque aí, morto, o gênio já pode ser reduzido à compreensão que dele oferecerão os não-gênios aos ainda menos gênios. Enquadrados pelos caixões, não podendo reclamar, os gênios podem ser interpretados em manuais. Daí nascem toneladas e toneladas de livros sobre eles.

                            Vitória, segunda-feira, 25 de outubro de 2004.

                           

FERNANDO PESSOA FALA NA Internet

"Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha."

EINSTEIN FALA

"O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário."
 "Grandes almas sempre encontraram forte oposição de mentes medíocres." 

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